FRAGMENTAÇÃO
A sociedade do século XX sofre um processo paradigmático no seu modo de pensar e agir. A modernidade começa a ser criticada em um dos seus pilares fundamentais, ou seja, a verdade alcançada através da razão. Para substituir esse dogma, são propostos novos valores, os quais servem de base para anunciar a superação da modernidade e apresentar um novo período, a pós-modernidade.
A pós-modernidade pode ser considerada como um a condição cultural e estética do capitalismo Esse novo período cresce com a passagem das relações de produções industriais para as pós-industriais, com a sua base estrutural baseada no capitalismo de que conforme Frederic James é um capitalismo tardio, no qual a crise de reprodução do capital é maior que o estágio de desenvolvimento. Nessa perspectiva, ela seria desigual e atingiria a toda a massa, gerando assim parte do caos que acompanha a pós-modernidade.
Entre os valores culturais encontrados na sociedade pós-industrial, que privilegia mais serviços e informações sobre a produção material, destaca-se a fragmentação, a multiplicidade e a entropia. Em outras palavras, pode-se dizer que o pós-moderno, diante de um caráter policultural convém a uma nova demanda de consumidores, responsáveis por uma nova crise: a crise da representação.
Diante da “Crise da Representação” a arte e a linguagem perdem o seu valor de real e dá espaço entropia, na qual predomina a idéia que “tudo vale” e todos os discursos são válidos. Essa visão destrói os padrões limitados de representação da realidade, gerando assim uma crise ética e estética.
Essa nova estética foge dos paradigmas pregados por tudo que veio antes dela, pois a partir desse momento, não precisa mais ser original ou inovar, é retomada a repetição de formas passadas. Tem-se assim uma nova perspectiva da dialética, que apresenta uma tese e uma antítese, porém há uma ruptura nessa corrente, tendo em vista que não se tem um estilo/movimento pós-moderno, gerado pela síntese, que mais tarde seria a nova tese. Para se que tenha a tese, é necessária uma organização e articulação entre os produtores da nova estética (tese). Conforme Gellner, podemos ver claramente essa indefinição no período pós-moderno.
O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente (...)
(...) O pós-modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objectiva, externa ou transcendente. A verdade é ilusiva, polimorfa, íntima, subjectiva (...) e provavelmente algumas outras coisas também. Simples é que ela não é (...)(GELLNER, 1992: 53)
Nesse fragmento Gellner o estilo da contemporaneidade, um estilo de estética e conceitos distorcidos. Em outras palavras, podemos dizer que ocorre uma nova sensibilidade emocional humana, na qual se insere o termo de recriações e interferências na sustentabilidade desse novo caráter estético. Dessa forma, vemos o ser pós-moderno como um indivíduo contemplativo do ‘eu’, esgotado, que se confunde com a imagem que representa.
Nessa entropia que os pós-modernos estão inseridos gera o paradoxo da realidade, ou seja, nesse novo momento nem tudo que vemos, ouvimos ou sentimos é verdadeiro. Na verdade, o que temos é uma pós-modernidade com uma base estrutural apoiada no descartável, no momentâneo, que apresenta uma única regra, tudo deve mudar, e mudar rapidamente, mantendo assim a roda econômica. Pode-se dizer que esse paradoxo é reflexo do contínuo uso da Lógica da Não-contradição Aristotética, ou seja, a forma de compreender, ver e perceber as coisas, ainda está ligado na idéia de verdade, porém ocorre que o indivíduo pós-moderno não consegue refletir essa verdade, pois a entropia aumenta e rompe a linha que une a verdade com o indivíduo.
Essa ruptura provocada pela entropia, gera o ser fragmentado, um dos conceitos chaves para compreender a pós-modernidade. Conforme ZAJDSZNAJDER (1992, p.26) (...) fragmento é o que aparece quando os elos se partem. Pode-se dizer que esses fragmentos referem-se a um todo, ao todo que acompanha a época clássica e fragmenta-se pouco a pouco, acompanhado as mudanças que começaram a surgir no Romantismo.
Ao aborda a fragmentação numa perspectiva pós-moderna, percebemos que o fragmento não tem compromisso com o todo, ele pode significar sentidos isolados do plano geral do conteúdo, ou seja, o fragmento busca represetar a si mesmo, ele foge do real, que nesse caso, seria o todo que gerou o fragmento. Pode se dizer que essa fuga é uma maneira de formar um novo todo.
Fragmentar é produzir um pensamento que não busca ligar ou ligar-se. Pode ser o resultado de uma explosão afetiva em que o mundo e o eu tornaram-se cacos e os fragmentos são apenas balbucios. O nosso tempo exprime esta explosão em muitas de suas formas que são meros sussurros. Para compensar não busca as grandes articulações e nem mesmo a dimensão média. Há, ao contrário, o reconhecimento de que devemos nos limitar às partes e somente a elas (...) (ZAJDSZNAJDER, 1992, p. 26).
O que se vê na pós-modernidade é um indivíduo/sociedade que busca se adaptar ao caos, responsável pela sua fragmentação. Essa fragmentação é a tentativa do indivíduo/sociedade alcançar o sentimento puro, verdadeiro e se afastar de um mundo retalhado projetado através de representações do real. Essa tentativa apresenta características como à volta ao passado clássico ou a busca de uma nova unidade.