O IMAGINÁRIO

Bem diferente do gozo efêmero da espontaneidade, é angustioso o segundo momento de criação poética. Durante a sua execução, anjos e demônios estão em luta... Teses e antíteses, seguindo as idéias de Hegel, por silogismo. A cada vez que o autor-experimentador suprime vocábulos, tem a sensação de que perde um braço ou uma perna, e que não mais poderá se por de pé para deambular... Parece que arrancamos os olhos da boneca da irmã mais nova, que não nos quer deixar quietos... Voltamos à infância, no processo psíquico confuso de buscar caminhos. Doi deixar de ser mero contemplativo. Descobre-se que ESCREVER não é só fruição do prazer de criar. A aparente hostilidade dos fatos e o desejo de criar sobre eles é um desafio... Persevera – na tarefa de cirurgiar o texto – até ficares satisfeito com o resultado, mesmo que com a sensação de que se foi o gozo antecedente... Agora, já não interessa muito o meu gostar de analista crítico... Já leste "Fernão Capelo Gaivota", de Richard Bach? – Voa, amada, voa! Supera, com o teu voejar, o anteparo imaginário...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

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