O POEMA É UM “FASTFOOD”

Pelas páginas do Recanto das Letras, percebo o poema de um de meus interlocutores, autor com maturidade intelectual e que não se apossa do seu texto, compartilhando-o. Experimentador que – tal como eu – também não proíbe o uso do texto: reserva direitos autorais parciais, permitindo a cópia, desde que citada a fonte original. Gosto da peça e vamos a ela:

“DÚVIDA ATROZ

Que dilema...

minha querida.

Te tirar...

do poema.

Te colocar...

na vida.

Osiris Duarte de Curityba

Enviado por Osiris Duarte de Curityba em 15/02/2009

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasbucolicas/1440901

Reeditado em 12/12/2010

Código do texto: T1440901”.

Gosto quando um texto me instiga, me convoca à crítica, como é o caso presente... Analiso: eis um bom espécime da Poesia do momento poético atual, muito bem caracterizador do séc. XXI, em que a síntese prepondera como semântica e forma, na maioria dos experimentadores da Poética. Comunicado brevíssimo, vocabularmente singelo e despido de pretensão, codificações ou enigmas verbais. O ato/fato criacional é observável pela utilização da palavra em sua vestimenta trivial, cotidiana, rasa, e não trabalhada apresentação formal travestida de metáforas e outras figuras de linguagem usualmente louvadas pela recepção tradicional... Poema menor? Tentativa de identificação com a grande massa, principalmente com a juventude entretida e entranhada no monitor da máquina de falar interneticamente várias linguagens? Apenas algo para fruir avidamente como “fastfood” do Mac Donalds... Enfim, a frugalidade dominante no cotidiano da globalização. Pensando sobre METÁFORAS (e sem elas não há como identificar a POESIA como gênero literário, porque essas são orquídeas raras, princesas verbais do sentido conotativo, avalista da forma poética), parece-me que, no caso, temos um segundo tipo delas, além do exemplar daquela em que o sugestional nasce do estrito espécime vocabular. Nestas peças, como aqui – numa excepcionalidade – temos a METÁFORA DE IDEIA. Fugindo do esperável, o poeta, quanto ao conteúdo da obra, retira da Arte (e sua linguagem abstrata, onde subjazia) e a emerge ao plano da Vida. Para ambos – criador e objeto lírico – virem a sofrer a semente amorosa. É uma amostra de que, pelo poder intrínseco da palavra, a arte pode também dar factualidade à VIDA, e fugir ao lugar comum da assertiva de que a “arte copia a vida”...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3334107