Eu e ele
Eu e ele
- ...?
- Eu estou bem. Ao contrário deste velho corpo que perde a resistência e com ele quer me levar. É verdade, eu estou muito bem, mas ele não. Estou bem porque enquanto ele perde a capacidade de se reproduzir, eu me renovo e cresço, aprendo que não é com ele que devo ir, pois ele perece, eu vivo; e com o passar do tempo aprendo que a vida é para sempre. Lamento por ele, por saber que nasceu e vive para me servir. Foi companheiro inseparável e senhor do meu abrigo. Lembro-me das muitas vezes, as quais discordou de mim, geralmente querendo sempre o melhor e palpar o que a vida não parecia querer lhe dar. Olha, é impressionante como ele é fascinado pelo oposto; e que tem muito bom gosto eu não posso negar. Interessante é que esse seu bom gosto me balança e muitas vezes consegue me levar. Aqui pra nós, confesso que o agradeço, mas sem que ele perceba, porque é vaidoso e tentador. Também podera, a ele cabe o instinto, a mim, o raciocínio, que me dá forças para controlá-lo e mostrar-lhe que apesar de sermos dois em um, temos caminhos diferentes. Sei que é forte e quer me fazer seu escravo, porém, o que é para sempre não pode ceder e saciar-se apenas com os mesmos desejos que satisfazem, por momentos, àquele que vem, vive, mas se vai após um certo período.
Não diria que estou feliz. Nem poderia. Seria um grave desequilíbrio meu num momento de reflexão. Como poderia dizer que estou feliz, se faltaram em minhas mãos tudo aquilo que poderia aliviar as míseras necessidades minhas e dos meus. Se a ele não pude saciar sequer um dos incontroláveis desejos que por tantas vezes o deixaram trêmulo ao vê. Trêmulo e exalante por sentir e não poder, porque dizem ser proibido.
No mais, voltando-me à compreensão, posso dizer que estou bem.