Sentimento rude

Quase sempre é por instinto que elegemos alguém para formar nosso inteiro. Os olhos selecionam e comunicam aos sentimentos, e estes logo se convencem que aquela é a pessoa que procuram; então o coração, sem tino, já se encarrega de afluir ao confuso imaginário, conteúdos que só ele conseguiu enxergar. E num processo de se fazer percebidos, nos tornamos menino no seu primeiro estradar... ferido, mas ainda encantado. E com o tempo, por muitas vezes, o conteúdo valioso que achávamos ter encontrado era apenas a casca de um recheio ilusório. E então, acabamos machucados. Machucados e teimosos, sempre prontos a nos expor a situações semelhantes. A pausa só dura enquanto os olhos do peito lacrimam, tentando cicatrizar fissuras, pelas quais, gotejam cochichos de um coração que, recolhido, agora só dispõe de um peito vazio sufocando seus ecos.

Sentimento é coisa rude, não importa quantas vezes é quebrado; disfarçado de quem já não é mais aprendiz, se enche de frases feitas e, na caça, se faz predador, sem saber que a mais frágil das presas, é capaz de levá-lo ao rastejo pelo enlace do coração.