HAIKU
O Haiku nasceu no Japão antigo uma poesia derivada da tanka, poesia japonesa em moda, entre os séculos IX e XII. Por volta do século XV, a poesia tanka ainda popular, era utilizada em concursos de poesias, uma espécie de desafios ou renga, onde uma poeta lançava uma primeira estrofe, com versos de 5, 7 e 5 de silabas japonesas, que era então complementada por outros poetas. Com temática clássica, esta poesia cujos três primeiros versos eram os mais significativos, já que serviam de inspiração para os demais, era chamada de Hokku. No século seguinte, tornou-se popular também o haikai-renga de temática humorística e popular. Mais tarde, as primeiras estrofes ganharam uma forma independente de poesia. Masaoka Shiki atribuiu-lhe o nome de HAIKU que era uma associação entre HOKKU e HAIKAI.
Bashô Matsuo (1644–1694), considerado o primeiro e um dos maiores poetas japoneses de haiku, enriqueceu o haiku, superando a artificialidade de poetas anteriores e tornando-o mais aceito. Seus poemas tinham um caráter mais lúdico e nele conseguiu estampar um espírito ZEN de viés budista, com grande valorização do pensamento.
Seus poemas refletiam variados estados de espírito, como a depressão, o humor, a euforia, a quietude, a alegria, a reclusão, permitindo o fluir da consciência da grandiosidade da natureza tanto física como humana.
Exemplos de Haiku do mestre Bashô :
1º 2º 3º
Este caminho De que árvore florida O velho tanque-
Ninguém já o percorre Chega? Não sei. A rã mergulha
Salvo o crepúsculo Mas é o seu perfume Barulho de água
.
Como nos ensina Paulo Franchetti, professor, literato, tradutor e estudioso do tema, “ Sendo uma tradução, não é possível verificar aspectos formais importantes, presentes nos textos originais: A ausência de rima e uso de 17 silabas métricas japonesas (5-7-5). Apenas dá para constatar que são três versos, pelos quais se distribuem não mais que em duas frases. No poema nº 3, é notório a expressão de dois elementos, em separado, um imediato (o salto ruidoso da rã) e mais um geral ( o velho tanque). A separação é feita pelo hífen. O movimento barulhento da rã, define o imediato, o efêmero e o velho tanque representa o intemporal, o eterno. Dois elementos da natureza se conjugando, abrindo um leque de percepções. O hífen separa o que é físico e imediato do que é mais amplo e passível de interpretações do leitor.
Diz ainda o eminente professor : Segundo a filosofia zen, podemos reconhecer no poema o conceito de iluminação súbita, que permite a concepção da verdade. O movimento da rã permite reconhecer o transitório e o eterno (tanque) que se unem num único instante. Há também o aspecto da concisão absoluta, da simplicidade, da fluência e da beleza natural do Haiku, como expressão minimalista que harmoniza o caos num só instante.
O poeta americano, A.C. Missias, define o haiku com sendo mais que uma forma de poesia, mas uma uma forma de ver o mundo. Já que cada haiku deve captar o momento de uma experiência, um instante em que o simples, subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o já observado, a natureza humana e a vida.
È pois uma forma de poesia curta, que capta o instantâneo, depurada, bela e simples, além de fluente. Uma reação minimalista sobre a consciência humana da desordem. Enfim, concluo, como sendo um flash que aprisiona um instante brevíssimo, como faz a fotografia, de onde é possível ver, a plasticidade da poesia ao lado dos paredões abruptos do caos.
Bem, para quem conseguiu chegar até aqui. Um repto : Você seria capaz de criar um poema com o espírito Haiku? O espaço abaixo é teu. O espaço branco do papel aguarda o o gene da criação, sem ansiedades, mas com capacidade de eternizá-lo.
Saio na frente e coloco alguns meus que acabei de fazer, claro ainda imperfeitos, fundados no caos que me visita.
1º 2º 3º
O relâmpago No alto penhasco O tiro ecoou
Cortou a escuridão O corvo vê o homem Pombos aflitos voam
O estrondo chega Pequeno, embaixo Um não conseguiu
Sua vez ...................!