A VERSIFICAÇÃO ATUAL

– Ao Edemar Carneiro, amigo espiritualista e sonetista dedicado.

Também acho que o soneto clássico nunca desaparecerá do universo das Letras, porque manifestação do espírito bem elaborada e forma consagrada. Não pelos altos motivos que apontas ("um veículo de comunicação entre as Esferas da Vida") e, sim, por motivos muito mais prosaicos: cada louco com a sua mania. A Arte é assim: forma e formato são repensados e retomados a cada momento por tal ou qual cinzelador do Belo. O que aponto em meus estudos é que, depois de mais de setecentos anos de predominância do SONETO, a contemporaneidade formal dominante, desde 1922, é a do POEMA. Os versos sem métrica e rimas têm a cara da modernidade, de nosso tempo de viver: conturbado, confuso e de rápidas soluções verbais. Nada muito contemplativo, porque, enfim, o tempo foge nas múltiplas opções que tem o intelectual de hoje, mormente o 'condenado a pensar' através da faculdade instintiva, dando azo à espontaneidade. Apesar de ser uma criação humana, o decurso do tempo angustia o homem, ao ponto dos latinos haverem fixado irreparavelmente que o TEMPUS FUGIT: o tempo foge. O que fará nos dias de hoje, quando os dias são pequenos para atender a tudo que percorre o cérebro da criatura humana... Os apelos do lazer maximizaram-se e as formas clássicas exigem muito tempo para elaboração de fundo e forma, assunto e escansões corretas. Ao demais, aprendia-se a sonetária clássica nos livros escolares e eram vendidos, nas poucas livrarias, até dicionários de versificação. O que temos hoje, senão milhões de apelos aos versos livres, na net? E, como a Arte copia a vida, por certo teremos no futuro muito mais versos contemporâneos do que os clássicos, nos compêndios escolares, mesmo que estes sejam escritos por docentes, e esses, naturalmente, sejam conhecedores das regras de versificação de uns e outros tempos. Porém, a verdade é que a vida mudou, tem um andamento diferenciado: o verso da contemporaneidade não tem a roupagem do velho soneto e nem a Poética tem a pompa que os antigos a ela dedicavam. No antigo e no moderno há excessos, porém o que é esteticamente elogiável ficará como bússola para os porvindouros. A carruagem da Poesia sempre teve vários personagens, desde liteiras carregadas por escravos até carros puxados por cavalos com asas nos pés: Pégasus. A comunicação para o imaterial aceita quaisquer energias e propulsões. Só algo nunca mudará: é preciso que haja alguém disposto a se render aos sonhos maiores de Amor e Liberdade.

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

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