MANUEL BANDEIRA E O SONETO ___ ( UM ESTUDO E POEMAS )___
Manuel Bandeira fez muitos Sonetos.
Dentro de sua Obra fazem uma Biblioteca.
Se bem observados, sempre com um interesse ímpar.
E (bem) marcando uma evolução poética dos tempos.
(Os tempos poéticos são uma esquina que se dobra sem
se dobrar ) :
Ponto de Sol em multiplicidade Estrela.
Mas, o interessante nos Sonetos de Bandeira é que ele
se encaminhou para uma linguagem coloquial, antirretórica
___no Ideal da Arte Moderna que era a Arte-para-todos:
sem pré-conceitos. A linguagem falando na própria exube-
rância de ser janelas de Discurso.
Uma lâmina de Sol, mas toda Sol.
Essa depuração, ele a conseguiu através do Tempo.
A suprema realização está no Soneto ___totalmente des-
pojado e de nome significativo : "Ouro Preto". Àquela ilu-
são Bandeirante se sucede o tempo do Comércio Organi-
zado; Tempo de Funcionários Públicos. Não que as Pai-
xões tenham desaparecido ___ se fizeram , nos novos
tempos, mais interiores. A Paixão da Arte, contudo, per-
manece__ uma Arte Mais Acessível ___mas mais reflexi-
va. E é isto simbolizado pela Mão Descomunal que apa-
rece, sua Sombra Escultora do Tempo de Antônio Fran-
cisco Lisboa ___O Aleijadinho ( ele próprio um "Funcio-
nário de Deus" ___ no belo dizer de Carlos Drummond de
Andrade !).
Admiro o Soneto : essa forma plástica com concisão
__como lâmina trabalhada por um bom artífice em metal,
mas que só se plenifica quando sua estrutura plana está
envolvida em Poesia. E vira, então, joalheria !...
Sempre se criticou o Soneto pelo seu aspecto de Mú-
sica Menor ___Som Menor. Isso só se justifica quando ele
cede ao menor esforço dado pela "fórmula".
A inquietação poética, afinal, deve prevalecer e tornar
una a palavra ___o perfume sempre escapa do frasco___
e não, servilmente, se sujeitar a ela.
O alimento não se deve confundir com a bandeja ___ se-
ja ela mesmo feita da mais pura prata.
O Brilho da Poesia ___enquanto Maçã de Ouro ___ para
usar um termo bíblico ___ deve brilhar, mas bem mais que
seu continente ___ a sua prateada bandeja.Pelo poder da
palavra ___ ao meu modesto ver ___ ela deve dizer : ser
translúcida.
Arte é clima que se precisa.
E, "Ouro Preto" pode ser considerado ___ ao lado de al-
guns outros ___ sua obra prima neste gênero ___ um ápice
do Movimento da Estética Modernista ___e uma peça das
mais valiosas ___ estrela de eterno brilho ___ no tesouro li-
terário brasileiro ___ e brilha !... como o Verdadeiro Ouro.
Literatura é um Sol que preserva o sal dos aspectos da
Vida.
É só isto, simplesmente ___mas é tão valioso !...
E a Vida ___por preciosa ___ deve ser estudada, sem-
pre ___pra ver-se esclarecida a sua Mensagem.
Seguindo o Soneto "Ouro Preto", fiz estes outros a ex-
plorarem várias dimensões. Várias faces.
Procurando, contudo, manter esse coloquialismo tão
inspirador ___ democrática herança a ser preservada.
Que seu raio de Sol ( e Sol nunca será reduzido ) ilumi-
nem os ricos cotidianos de meu Leitor. Querido Amado e Ami-
go. Com seu Centro de Luz.
Jorge Sunny
OURO PRETO
Ouro branco ! Ouro preto ! Ouro podre ! De cada
Ribeirão trepidante e de cada recosto
De montanha o metal rolou na cascalhada
Para a fausto del-Rei, para a glória do imposto.
Que resta do esplendor de outrora ? Quase nada :
Pedras... templos que são fantasmas ao sol-posto.
Esta agência postal era a Casa de Entrada...
Este escombro foi um solar... Cinza e desgosto !
O bandeirante decaiu___ é funcionáro.
Último sabedor da crônica estupenda,
Chico Diogo escarnece o último visionário.
E avulta apenas, quando a noite de mansinho
Vem, na pedra-sabão, lavrada como renda,
___ Sombra descomunal , a mão do Aleijadinho !
( Manuel Bandeira : Estrela da Vida Inteira )
Agora, estes meus sonetos, tentando manter o "tom":
CAMPO DE LÍRIOS FRESCOS
Campo de lírios frescos... Flor
Amanhecida de orvalho e de essência
Teus são assim os olhos ilimitados
Cheios de triste e calma Sapiência...
E de serem tão soltos e singelos
Vê-los é triste e mais intranquiliza...
E de no bojo das Manhãs largados serem
com meus anseios donos... eis que ficam...
Corsáros tristes de espáduas nuas
Olhando os amplos céus da imensidade
Teus olhos como gotas pérolas líquidas
Velejam por um mar além-Saudade.
E o bosque abre a luz e salva a pétala
entre as flores mais tristes... mais completas !...
SONETO DO AMOR EM BRANCO
O Amor vai recobrindo o livro branco.
Abrindo a porta para os desenlaces da luz.
Há poemas de poemas, e um Soneto, largo
Recupera o brilho negro que há no azul...
As palavras com carne e sangue, nova carne
Sonho que façam o universo recuperar o sopro...
O tocador de flauta, a lívida bibliotecária...
O jogador recuperado que se dispensa o jogo !
O livro branco vai rimando. Se colocam
Traços bem pespontados e as letras luam.
Os claros da Vida, luminosos, não mais se deslocam...
E o navio do universo dobra a rua. Apura
A clareza da palavra a pureza de todos os ditos...
O sol se abre estrela. A fala inpresa ___preenche
/ ___ponto de luz todos
/ os interditos!...