Inteiro por pedaços
Das frestas de um coração ferido soam reclamos de uma alma que, frágil e sem ânimo, não consegue ecoar seus lamentos no peito de quem, feito pedra, quebrou o encanto. E este coração, quase vencido, sentindo que o belo está perdendo a cor, ver a vida escoando-se de um corpo que fissurado, vai perdendo os estímulos. Neste esvair-se, sente o envergar da viga, pelo peso do vazio que embaça os sentimentos, e então, esbraveja entoando a devolução da seiva e da respiração.
Reconstruir um coração que era virgem e agora lacrima porque alguém o quebrou, é tarefa que, só o tempo pode lapidar, irrigar o vínculo e repor o viço. Pois é ele, o tempo, que rege a hora e clareia o amanhecer do recomeço.
Os degraus da vida não abrem mão do romper o que é virgem, misturar o que é puro, quebrar o que é inteiro e multiplicar o que é único; tentando justificar que é preciso aperfeiçoar para se tornar consistente.
Como cada ser só se torna inteiro pela junção de pedaços, cada um se destina à busca da sua essência. O risco, é que na ânsia de compor o inteiro, faça o enlace de forma precipitada com pessoas que, quando parecem ter feito a harmonia de dois em um, desgarram-se extraindo o néctar e degenerando o mel que o favo espera acolher. E neste encaixa e desencaixa, o coração que busca a recomposição, vai crostando-se e ressecando a fonte que goteja a regeneração.
É o fim? Ainda não! Pois o “destino” fez o ser incompleto e carente; não isentou ninguém de ir à caça do seu inteirar-se; pôs em cada um a necessidade do côncavo em busca do seu convexo. E neste tanger os dias, por ainda não ser o fim, o coração se elege editor do clicar e virar a página, e mais uma vez, percorre suas pautas com os apelos dos sentimentos, sem dar ouvidos aos ditames da razão. Aí então ...