análise do livro A Senhora/José de Alencar
Trabalho de Literatura Brasileira:
Obra : Senhora, editora Avenida,2005
Autor: José Martiniano de Alencar;
Estilo: romântico urbano;
Narrador Onisciente: predominância da terceira pessoa , porém com vários textos em primeira pessoa do plural e singular onde o autor mistura-se com as personagens.
Narrativa: construída em três momentos: O preço, a quitação e o resgate. A quitação é uma analepse.
Personagem protagonista: personagens redondas: Aurélia Camargo e Fernando Seixas.
Personagens secundárias: Personagens planas,Dona Emilia Camargo, Pedro Camargo, Lourenço Camargo, D. Firmina, Lemos, Adelaide, Torquato Ribeiro, Mariquinhas, Nicota, Eduardo Abreu, Lísia Soares
Personagens antagonistas: Chico e Ana
Tempo:objetivo, cronológico, com a utilização de analepse
Espaço: concreto, Rio de Janeiro.
Texto que reúne a síntese do livro:
“Como uma cera branda, o homem de coração e de honra se formara aos toques da mão de Aurélia. Se o artista que cinzela o mármore enche-se de entusiasmo ao ver a sua concepção, que lhe surge do buril, imagine-se quais seriam os júbils da moça, sentindo plasmar-se de sua alma a estátua de seu ideal, a encarnação do amor.”pág.218
Analepse: pág 79-117
Fragmentos da obra:
Primeira pessoa (sing./plur):
“Tornemos à câmara nupcial, onde se representa a primeira cena do drama original, de que apenas conhecemos o prólogo.”pág.117;
”Suspeito eu porém que a explicação dessa singularidade já ficou assinalada.”pág.103
“Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação nos abstemos: porque o coração , e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral[...]” pág. 103
“Fato raro. Entre nós há moda para tudo[...]”pág. 188
“Nisto era injusta. A razão que movera Aurélia, não sei; mas que ela nesse momento não se lembrava da existência da Lísia e do Moreira, disso posso dar certeza.”pág.201
Características da Estética Românticas:
Linguagem adjetivada:
“Os olhos grandes e rasgados, Deus não os aveludaria com a mais inefável ternura, se os destinasse para vibrar chispas de escárnio.
Para que a perfeição estatuária do talhe de sílfide, se em vez de arfar ao suave influxo do amor, ele devia ser agitado pelos assomos do desprezo?”pág 10
Estaticidade narrativa:
“Atravessou a sala com o brando arfar que tem o cisne no lago sereno, e que era o passo das deusas. No meio das ondulações da seda parecia não ser ela quem avançava; mas os outros que vinham a seu encontro e o espaço que se ia dobrando humilde a seus pés, para evitar-lhe a fadiga de o percorrer.”pág. 59
“Enquanto lhe minguavam as horas para os prazeres de que se fartava, aquelas três senhoras ali desfiavam as compridas noites sem outro entretenimento além da tarefa jornaleira [...]” pág. 40
Verosimilhança:
“Em todo caso é um caráter inverossímil.
E o que há de mais inverossímil que a própria verdade?[...]”pág.188
Questionamentos Sociais:
-Nacionalismo;
“Aurélia, a principio, entregara-se ao encanto daquela noite brasileira, que lhe parecia um sonho de sua alma pintado no azul diáfano do céu.”pág. 155
“Aconteceu uma noite cair a conversa em assunto de literatura nacional[...] letras pátrias[...]”pág.188
“por que me chama senhóra? Perguntou ela, fazendo soar o ó com voz cheia.
Defeito de pronuncia!
Essa é, creio eu, a verdadeira pronuncia da palavra; mas nós, os brasileiros, para distinguirmos da fórmula cortês a relação de império e domínio, usamos da variante que soa mais forte e com certa vibração metálica.”pág.196
“A coroa cede ante a opinião! Orava um ministro para quem coroa e opinião no Brasil eram chapa e o cunho da mesma moeda em que ele recebia o salário.” Pág.201
-A educação na obra:
“Felizmente D. Camila tinha dado a suas filhas a mesma vigorosa educação que recebera; a antiga educação brasileira, já bem rara em nossos dias, que se não fazia donzelas românticas, preparava a mulher para as sublimes abnegações que protegem a família e fazem da humilde casa um santuário”pág. 38
-o matrimônio:
“[...] Quando se lembrava que esse amor a poupara à degradação de um casamento de conveniência, nome com que se decora o mercado matrimonial [...]”pág. 103
“_ Oh! Ninguém o sabe melhor do que eu, que espécie de amor é esse, que se usa na sociedade e que se compra e vende por uma transação mercantil, chamada casamento!....”pág.150
-liberdade:
“[...] de haver readquirido sua liberdade[...]”
-trabalho:
“_ Vivi muitos anos à custa do Estado, meu amigo; é justo que também ele viva um tanto à minha custa.”pág.144
Anticlericalismo:
“[...] esta filha estaria condenada à mesquinha sorte do aleijão social, que se chama celibato” pág.38
Intertextualidade (na estética romântica):
“[...] lembrou-se do seu Byron e das imitações que havia feito de algumas das mais acerbas exprobrações do bardo inglês.” Pág. 39
“Seixas descrevia naquele momento a D. Firmina o lindo poema de Byron, Parisina.”pág.155
“_Um dos mais lindos poemetos de Byron é o Corsário, dizia Seixas.”pág. 156
“[...] “É, na frase do grande poeta, a valsa impura e lascívia, desfolhando as mulheres e as flores”Nunca a linguagem, que esse rei da palavra, chamado Victor Hugo,[...]”pág.204
A idealização do amor:
A um lado, duas estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, donde se desdobram, até o pavimento, bambolins de cassa finíssima” pág. 74
“[...] deixando entrever as castas primícias do santo amor conjugal.” Pág75
“O coração de Aurélia não desabrochara ainda; mas virgem para o amor, ela tinha não obstante a vaga intuição do pujante afeto que funde em uma só existência o destino de duas criaturas e, completando-as uma pela outra, forma a família[...] que se chama ideal[..]”pág. 87
“[...] dedicar-se a formar uma família, onde se revivam e multipliquem as almas que uniu o amor conjugal, essa felicidade suprema não a compreendia Seixas.”pág.99
“[...] Aurélia amava mais seu amor do que o amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem”pág. 103
“A degradação de Seixas repercutia no ideal que a menina criara em sua imaginação e imprimia-lhe o estigma.[...]” pág. 105
“[...]Essas horas vivia-as com seu ideal[...]” pág. 148
A idealização da mulher:
“[...] A cada movimento que lhe imprimia o passo onduloso, acreditava-se que o broche da ombreira partira-se e que os véus zelosos se abatiam de repente aos pés dessa mulher sublime , desvendando uma criação divina , mas de beleza imaterial, e vestida de esplendores celestes.”pág 75
“[...] musa inexaurível porque é divina[...]havia alguma coisa de imaterial[...]”pág.126
“Aurélia tinha nessa noite um vestido de tule cor de ouro, que a vestia como uma gaze de luz.”pág.202
Ideais de honra:
“[...] Porque não sou eu o que ea pensa, um mísero abandonado da honra e dos nobres estímulos do homem de bem?”pág. 143
“Como uma cera branda, o homem de coração e de honra se formara aos toques da mão de Aurélia. Se o artista que cinzela o mármore enche-se de entusiasmo ao ver a sua concepção, que lhe surge do buril, imagine-se quais seriam os júbils da moça, sentindo plasmar-se de sua alma a estátua de seu ideal, a encarnação do amor.”pág.218
Confrontação com a escola realista:
“A carta de Lemos era escrita no estilo banal do namoro realista em que o vocabulário comezinho da paixão tem um sentido figurado [...]” pág. 91
“[...]a grande ciência da vida portanto resumia-se nisto: espiar a ocasião e aproveitá-la.”pág. 91
“Seixas pertencia a essa classe de homens, criados pela sociedade moderna e para os quais o amor deixou de ser um sentimento e tornou-se uma fineza obrigada [...]” pág.98
“Havia nessa contradição da consciência de seixas com a sua vontade uma anomalia psicológica , da qual não são raros os exemplos na sociedade atual.O falseamento de certos princípios da moral, dissimulado pela educação e conveniências sociais, vai criando esses aleijões de homens do bem.
Quem não conhece o livro em que Otávio Feuillet glorificou, sob título de honra, as últimas hesitações de uma alma profundamente corrompida?
Seixas estava longe de ser Camors; mas já nele começava o embotamento do senso moral que, ao influxo de uma civilização adiantada e no seio de uma sociedade corroída, como a de Paris, acaba por abortar aqueles monstros “pág.100
“Dizem que a água no vinho faz de duas bebidas excelentes uma péssima. O mesmo acontece à mistura da virtude com o vício. Torna o homem um ente híbrido. Nem bom, nem mau. Nem digno de ser amado; nem tão vil que se lhe evite o contágio.[...]produtos da sociedade moderna.” Pág. 158
Valorização da burguesia:
“As naturezas superiores obedecem a uma força recôndita. É a predestinação. Uns têm para a glória, outros, para o dinheiro, [...]”pág.99
“[...] ambas as mãos para nadar nesse dilúvio de sedas, rendas e jóias, que atualmente compõem o mundus da mulher.”pág. 160
“O aspecto nobre e distinto do mancebo, a elegância natural de seu gesto recobraram o prestígio que esses dotes nunca deixaram de exercer em espíritos elevados[...] as pessoas de fina educação.”pág. 168
A não racionalidade do amor:
“Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação nos abstemos: porque o coração , e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral[...]” pág. 103
“Sucedem-se no procedimento de Aurélia atos inexplicáveis e tão contraditórios que derrotam a perspicácia do mais profundo fisiologista.”pág. 165
“[...]Chamava a si a razão e esta fugia-lhe, deixando-o extático.” Pág. 167
“Acredita na fisioogia do coração? Não lhe parece um disparate esta ciência pretensiosa que se mete a explicar e definir o incompreensível [...]”pág.192
A interdisciplinaridade:
“[...]e disse, aportuguesando o termo inglês Luncheon, segundo o costume popular geral: _ o lanche está pronto.”pág.136 Variação lingüística- mudança em progresso.
“Tinham perto de um mês de casados; durante esse tempo , vendo-se e falando –se todos os dias, não acontecera uma vez pronunciarem o nome um do outro. Usavam o verbo na terceira pessoa ; respeitavam entre si esse anônimo tácito, sublinhando a palavra com o gesto.” Pág. 146 As pessoas do discurso;EU/TU e a não pessoa: ELE
“[...] quando nele encontrar-te a ti, o meu ideal, o soberano de meu amor; quando fordes um e que eu não vos possa distinguir nem no meu afeto, nem nas minhas recordações[...]”pág.216 As pessoas do discurso;EU/TU e a não pessoa: ELE
“por que me chama senhóra? Perguntou ela, fazendo soar o ó com voz cheia.
Defeito de pronuncia!
Essa é, creio eu, a verdadeira pronuncia da palavra; mas nós, os brasileiros, para distinguirmos da fórmula cortês a relação de império e domínio, usamos da variante que soa mais forte e com certa vibração metálica.”pág.196 Ortoépia
A intratextualidade:
“Aconteceu uma noite cair a conversa em assunto de literatura nacional.
[...] letras pátrias[...]já leram Diva”pág.188
“Mal pensava Aurélia que o autor de Diva teria mais tarde a honra de receber indiretamente suas confidências e escrever também o romance de sua vida, a que ela fazia alusão.”pág.189
A Conclusão:
“As cortinas cerraram-se e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal.” Pág.238 –Final feliz e consumação.