O HAMLET DE VOLTAIRE

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Estudos Literários

 

Creio ser de conhecimento de todos que Voltaire (François Marie Arouet – 1694/1778), traduziu para o Francês muitos trechos de obras inglesas: "Arisquei traduzir alguns trechos dos melhores poetas ingleses". Entre esses poetas, como não poderia deixar de ser, está Shakespeare: "Escolhi o monólogo de Hamlet, conhecido de todos, e que começacomestesversos: To be or not to be, that is the question". Se você confrontar o texto de Shakespeare com o de Voltaire, notará que, Hamlet nos versos voltairianos, perde sua universalidade trágica para se transformar num nobre e atormentado católico francês, descontente com a decadente corte de Versalhes. É uma transição da problemática inglesa para a francesa. Eis a tradução livre de Voltaire¹:

Hamlet, príncipe da Dinamarca, fala:

"Fica. É preciso escolher e passar num instante

Da vida à morte, ou do ser ao nada.

Deuses cruéis! Se existis, iluminai minha coragem.

É preciso envelhecer curvado sob a mão que me ultraja?

Deve suceder talvez às doçuras do sono.

Ameaçam-nos. Dizem que esta curta vida

De tormentos eternos é logo seguida.

Ó morte! Ó momento fatal! Terrívelet ernidade!

Todo coração ao teu nome enregela, apavorado.

Oh! Quem poderia sem ti suportar esta vida,

De nossos Padres mentirosos suportar a hipocrisia?

De uma indigna amante incensar* os erros?           *bajular

Arrastar-se sob um Ministro, adorar sua altivez?

E mostrar os langores de sua alma abatida

A amigos ingratosque desviam a vista?

A morte seria muito doce nesses extremos;

Mas o escrúpulo fala e nos grita: Parai!

Suportar ou acabar minha infelicidade e minha sina?

Quem sou? Queme detém? Que é a morte?

É o fim dos males, é meu único asilo;

Dorme-se e tudo morre. Mas um terrível despertar

Proíbe às nossas mãos este horrível homicídio,

E de um herói guerreiro faz-se um cristão tímido".

"Não acrediteis que traduzi o inglês palavra por palavra. Infelizes os que fazem traduções literais, que traduzindo cada palavra enervam o sentido."

"Perdoai a cópia em favor do original e lembrai-vos, sempre, quando virdes uma tradução, verdes uma fraca estampa de um belo quadro."

Voltaire.

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1 – O fragmento do poema foi retirado de: Voltaire: Vida e Obra. Seleção e tradução de Marilena de Souza Chauí. Abril S.A.: São Paulo, 1973, p. 34.

Se vocêencontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 10/05/2011
Reeditado em 17/01/2013
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