Viver é uma arte difícil

Prólogo

Isso mesmo! Viver é uma arte difícil, complicada e sofrida. Claro que se o sobrevivente for oriundo de uma família bem estruturada... Refiro-me aos aspectos socioculturais e socioeconômicos, sem esquecer a afetividade entre os seus membros, tudo será menos sofrido, mais fácil de suportar as agruras dessa provação existencial.

Quando digo que viver é complicado é por me lembrar de uma conversa que tive com uma senhora que dizia ser solteira, 32 anos de idade, comerciante bem-sucedida, boa aparência, mãe de uma filha de 13 anos, residente em uma cidade interiorana do Estado do Acre.

Por um programa de relacionamento social conversei com essa senhora e me identifiquei tal qual sou. Existem vários programas para esse fim e me reservo o direito de não revelar essa fonte. Na ocasião, a senhora em comento falou ao microfone e, às vezes, digitava:

“Não compreendo como você consegue conversar comigo por aqui e diz que é casado, tem 62 anos de idade, tem filhos e netos adoráveis, uma mesma esposa há mais de 40 anos a quem carinhosamente chama de "tia Fátima", tem nível superior concluído na UFRJ, enfim, dá seu perfil fiel e verdadeiro sem uma mentira, creio, sequer...

Para corroborar suas informações mostra sua fotografia não apenas no Recanto das Letras, mas se apresenta pela webcam quando eu afirmo que estou com problemas de configuração no meu computador e por isso não posso me mostrar e tampouco enviar uma fotografia.”.

Eis o cerne da explicação que darei ao longo deste meu texto. As pessoas fazem fantasias. Fiz, há muito tempo, coisas banais, comuns! Não faço mais. Superei essa fase há mais de 20 anos. Evolui e continuarei, ainda, evoluindo para a consecução dos propósitos divinos.

Creio que, igual a tantas outras pessoas, essa senhora está vivenciando um devaneio certamente pelo excesso de carência afetiva, por desleixo ou falta de amor-próprio.

Pelo timbre da voz ao microfone nem precisei me utilizar dos conhecimentos adquiridos no curso de investigação criminal que fiz onde fui treinado e testado para reconhecer vozes ao telefone. Os demais alunos e eu aprendemos a identificar pela voz os companheiros de curso e depois usaríamos esse aprendizado para reconhecer e selecionar pessoas investigadas.

O teste era demasiado simplório. Dois alunos, escolhidos pelo instrutor, aleatoriamente, conversavam ao telefone por um tempo de três minutos. Nessa conversa eles diziam que a munição de fuzil 7,62 mm e pistola 9 mm seriam entregues em cunhetes de madeira, fechados e lacrados, mas as granadas AP e AC seriam avulsas, mas protegidas por embalagens de isopor.

É lógico que essa conversa, “grampeada”, estava sendo gravada e quando o telefone era desligado o testando deveria saber identificar quem eram os tagarelas e sobre qual assunto estavam conversando. Esse retorno (feedback) era em forma de relatório circunstanciado.

Pois bem... Pelo timbre de voz eu sabia que a senhora que comigo dialogava estava mentindo descaradamente. Estava errada? Não! Não estava porque na Internet isso é o trivial, rotineiro, banalizado e medonho em maior ou menor grau de potencial ofensivo.

Nem todas, mas algumas pessoas ou personagens virtuais quase sempre são (estão) desprovidas de aspirações, comportam-se como inumanos predadores movendo-se em busca de satisfação física, sem se importar com quem, sem atentar para as necessidades ou valores intrinsecos, sagacidades e fragilidades individuais.

Homens e mulheres sejam eles incautos, pedófilos ou não aflautam suas vozes para parecerem mais jovens. Enviam fotos para seus consortes de quando tinham a metade ou menos da idade atual ou, fazem muito pior ao mandarem fotos de outras pessoas.

Esses navegantes virtuais elaboram seus perfis tais quais seus currículos recheados de informações que não corresponde à verdade. Enganam e se enganam, mas dia virá que compreenderão que o indevido uso da internet só os conduzirá a uma sofrida frustração, a uma expectativa debalde, sem nenhuma coloração.

Ah! Dirão alguns defensores dos direitos humanos: “Isto significa aproveitar bem a vida. Não desperdiçar nenhuma de suas oportunidades. Fazer fantasias. Namorar. Criar situações bem-avindas ao caráter em formação. Sedimentar a personalidade e alimentar o ego enaltecendo a autoestima...”.

Eita! Desde quando se poderá crescer diante de si mesmo, de sua família, dos amigos leais um mitômano não assumido? O livre arbítrio foi utilizado e causou momentânea alegria, mas a consciência aceitará àquela farsa do dia ou madrugada anterior? Não creio!

Sim. Tudo bem, mas por quanto tempo esse engodo irá perdurar? Até posso concordar com alguns desses propósitos por entender que a fantasia e a pressa em fazer novas amizades virtuais faz parte do crescimento do amor-próprio, mas convém não nos esquecermos de uma grande verdade: O escritor português José de Sousa Saramago escreveu: "não ter pressa não é incompatível com não perder tempo.".

Ainda sobre a pressa Saramago enfatizou:

“... Para esses, cada minuto conta. E se estressam somente contando o tempo que perdem aguardando o elevador, o semáforo abrir, o auto-atendimento bancário lhes fornecer as informações que necessitam. São pessoas que se sentem culpadas quando param para um cafezinho, porque poderiam estar produzindo.

A sua meta é executar projetos, ler apenas livros técnicos, acelerar a rotina. Tudo o mais é desperdício. E, no entanto, a vida é feita de pequenas coisas. Felizes são aqueles que decidem subir pela escada para exercitar as pernas e a imaginação. Aqueles que têm tempo para um sorriso ao desconhecido que está na fila, logo atrás, esperando sua vez para ser atendido.

Os que em vez de engolirem um sanduíche rápido no escritório, preferem almoçar com um amigo, com calma, bater um papo descontraído. Ou melhor, ir até em casa e observar os filhos crescerem, enquanto a família se reúne em volta da mesa.

Essas pessoas não costumam usar atalhos para encurtar caminhos. Elas preferem procurar estradas com paisagens com que se possam deliciar. Quando viajam, vão com calma.

Não têm tempo para chegar. Como as crianças, a quem o fazer é mais importante do que a tarefa pronta, eles param na beira da estrada para provar uma fruta e conversar com o vendedor, que sempre tem histórias para contar. Histórias de vida. Experiências importantes...” – (Fonte: Revista Exame de 15.12.1999 - pag. 218 - Velocidade máxima).

OBSERVAÇÃO PERTINENTE: José de Sousa Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922 e desencarnou em 18 de junho de 2010 aos 87 anos. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

CONCLUSÃO

Ora, todos nós sabemos que todas as experiências do cotidiano nos enriquecem. Desfrutar de cada uma delas retirando o máximo de proveito deve ser a meta do homem sábio. Isto significa aproveitar bem a vida. Não desperdiçar nenhuma de suas oportunidades.

Todavia, entendo ser demasiado alto o preço que se paga pelas frustrações adquiridas pelas fantasias e mentiras engendradas, urdidas com o propósito da usura descarada e com o prejuízo alheio ou boa-fé de alguém.

Sou um observador clínico e ao mesmo tempo crítico do circo da vida onde os fantasmas humanos tentam sustentar suas nebulosas e malfadadas convicções. Acredito que todo ser humano vive em estado de provação e por isso evolui.

Evoluir é aprender a deixar morrer tudo que há de "menor" em nós (os defeitos, as incompreensões, os rancores, a falta de amor, o orgulho...) e deixar ressurgir, ressuscitar, com luz, tudo que temos de bom, com garbo e sem o ufanismo obliterador da caridade latente.

Afirmo que o preço desse devaneio é demasiado elevado porque sabemos que esse conhecimento é inato, embora se aprenda ou se possa assimilar com as desditas durante a vida fantasiosa nos relacionamentos virtuais.

Essa minha peroração já poderá ser encerrada. Não fui... Não sou e tampouco quero ser a palmatória do mundo. Tenho poucas amizades virtuais. Pessoas ainda não encontradas pessoalmente, mas que se coadunam em ideias e atitudes com meus propósitos.

Afinados, em nossas conversas, permanecemos dentro de uma respeitabilidade conveniente e digna dos mais sentidos louvores. Sem querer levar vantagem um do outro esse relacionamento visa um crescimento autônomo lastrado nos interesses individuais.

A amiga Luzia (codinome) e eu estabelecemos essa amizade de uma forma natural e espontânea provando que viver é uma arte difícil, mas se houver equilíbrio, respeito, discrição e vontade em superar óbices psicológicos tudo se harmonizará a contento para a satisfação dos envolvidos.

Quem quiser saber algo mais ao meu respeito será suficiente utilizar um programa de busca qualquer e digitar o meu nome completo. Não apenas no Recanto das Letras, mas também no "msn", “Facebook” e “Orkut” tenho um comportamento que não é dúbio porque é claro, exato e livre das falcatruas tão banalizadas e por isso mesmo são aceitas pelos que navegam sem rumo certo pelo mundo cibernético.

Não raro temos acompanhado pela mídia os crimes que se cometem via internet, às escondidas, contra os leigos à boa-fé. Alerto que não se deixem enganar e procurem proteger seus dependentes (filhos, filhas, netos, netas e assemelhados) do mal que se oculta sob a proteção da ineficácia de nossas leis, do despreparo dos nossos legisladores, da ausência ou ineficiência do poder estatal, da corrupção generalizada, do desmando orquestrado pelos endinheirados de mau caráter.

Seus protegidos necessitam ter privacidade, mas vigiar e punir, quando for o caso, se fazem necessário para um burilar de caráter sem mácula.

Muitos relacionamentos reais ficam abalados por supostas traições virtuais. Muita desgraça ocorreu, ocorre e ainda acontecerá pelo mau uso das facilidades computacionais.

Isto não é devaneio ou má profecia. Isto é fato! Com a certeza de que cumpri minha obrigação cristã tentando provar que VIVER É UMA ARTE DIFÍCIL concluo meu texto com a frase que se segue:

“A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.” – (Immanuel Kant).

OBSERVAÇÃO: Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente um dos pensadores mais influentes.

Referências bibliográficas:

- Revista Exame de 15.12.1999 - pag. 218 - Velocidade Máxima,

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