Caça aos pombos

Prólogo:

Explico de forma veemente que não sou caçador. Sou um atirador! Aliás, não vejo graça nenhuma atirar em pombos indefesos, com direito à vida, inocentes.

Todavia, recebi uma mensagem de uma leitora que se identificou pelo nome de Noêmia Moraes de Albuquerque. E meu texto tem tudo a ver com a minha resposta. Em seu simpático e-mail ela escreveu:

“Boa tarde senhor Wilson. Estou lhe escrevendo por não suportar mais

a angustia da espera por um escrito seu sobre os problemas que estão ocorrendo no Rio de Janeiro. Refiro-me a violência e ocupação das favelas pela polícia.

Certamente o senhor já deve ter algo para publicar nesse sentido, mas é que estou fazendo um trabalho para melhorar minha nota na faculdade e quero aproveitar suas ideias.

Meu nome é Noêmia Moraes de Albuquerque, tenho dezenove anos e resido na Tijuca. Já sou sua fã e sempre que posso leio seus textos. Interesso-me pela área jurídica penal e adoro a forma como o senhor ensina e mostra que domina o assunto muito mais do que meus colegas mais experientes.

No texto ‘A Linguagem Jurídica’ o senhor dá um banho de conhecimento gramatical e jurídico. Por que na faculdade não nos ensinam assim? Desculpe-me pelos erros. Não esqueça e tampouco como o senhor mesmo escreveu, ‘Português é difícil e ninguém sabe tudo... ’.

Agradeço antecipadamente a sua resposta, mas desejo que escreva menos difícil para eu entender bem direitinho suas palavras... (risos). Beijos carinhosos. Noêmia.”.

Em mensagem direta e pessoal já respondi as perguntas da jovem leitora e aqui passo a parte genérica dos questionamentos pessoais com o fito de esclarecer e aclarar ideias já concebidas na faculdade onde estuda a moça Noêmia.

Certamente este texto poderá ser útil a outros estudantes e, até aos operadores do direito mais calejados (advogados e assemelhados), particularmente aos que gostam da matéria História do Direito Nacional (HDN).

A sociedade atual não está suportando a crueldade dos facínoras. Qual a melhor solução? Mudança nas leis! Endurecer sem desumanizar. Recompor as famílias, educar, empregar, proporcionar lazer, saúde, moradia, e, principalmente ressocializar os apenados.

Estas medidas, no meu entender, já seriam suficientes para enaltecer a felicidade e sedimentar a paz entre as pessoas e sociedade como um todo.

Ora, ora, ora... É exatamente isso o que prometem os políticos por ocasião das propagandas eleitorais! Não cumprem suas (deles) promessas e ainda fazem como uns e outros que descaradamente gritam nos palanques e a mídia dissemina:

“Votem em mim porque preciso ajudar a minha família...”!

Esse nepotismo escancarado, vergonhoso, amoral, antiético, cuja desfaçatez encontra amparo no povão desinformado e leis eleitorais capengas que precisam de uma cirurgia (reforma) reparadora urgente.

Antes que eu escreva mais do que precise para responder o questionamento da notável leitora Noêmia farei vista grossa aos desmandos dos politiqueiros que ora comandam os destinos de nosso Brasil continental e darei continuidade, sem continuísmo, ao meu tema.

Para explicar a sensibilização maior quanto à violência, nós podemos recorrer à célebre teoria da - civilização das maneiras - segundo a qual o Ocidente teria conhecido a partir da Idade Média um longo processo de burilamento das maneiras: os conflitos que antes se exprimiam em afrontamentos sangrantes tenderam de mais em mais a serem interiorizados, por exemplo, via o esporte.

Segundo Norbert Elias, o promotor da dita teoria, esta evolução não é mais imputável a um simples crescimento do "self control", mas à sua generalização a todos os setores da vida pública ou privada sob impulsos de vários fatores tais qual a escolarização, a difusão dos códigos de corte e, enfim, a urbanização.

A cidade é aqui reputada estar na origem da interiorização de sua violência pelo homem: a evolução no seio das massas a impôs mais retenção nos seus atos.

A violência em geral cobre uma diversidade de comportamentos ou atos individuais, interpessoais ou mesmo coletivos. De uma época como de uma sociedade à outra, como recordado pelo filósofo Yves Michaud, as formas de violência empregadas e sua intensidade variam muito.

Falaríamos hoje, por exemplo, de uma «violência na estrada» ou de uma «insegurança no trânsito». Mas não é tudo, nossa sensibilidade a estas formas de violência mudou.

Segundo o autor, as normas aumentaram. Assim, comportamentos violentos passados outrora pelo silêncio como o mau trato infantil ou as violências conjugais são hoje denunciadas: a violência circulando na esfera familial é assim particularmente recente.

Tudo isto explica, sempre segundo Yves Michaud, a extensão da incriminação no direito penal. Num mesmo movimento, o direito penal vê sempre mais a violência como não sendo necessariamente propriamente física: o que implica a atualização da noção de “vias de fato” à categoria mais antiga de “golpes e feridas”.

Ora, ora, ora... Esse passado já não nos interessa. É chegado o momento em que a sociedade se alia ao poder estatal para, de forma corajosa, participar com alegria nos corações e sorrisos nos lábios da temporada de “caça aos pombos”.

Aqui podemos citar o exemplo das ocupações pelas forças regulares em algumas das favelas no Rio de Janeiro. Nunca acreditei no chavão ou clichê “CRIME ORGANIZADO”.

Isto não existe! A ausência do Poder Estatal, por desídia, faz crescer a desordem. Minha santa vovó Josefa da Conceição (Que Deus a tenha) já dizia nos idos de 1964: “Em casa que não tem homem mulher canta de galo” (SIC).

Recentemente vimos na TV supostos traficantes em desabalada correria, estabanados, resfolegantes; abandonando comparsas, armas, munições, drogas, veículos e até seus familiares quando a polícia escudada pelas polícias civis e militares, Polícia Federal e Exército resolveu dar início a temporada da “caça aos pombos”.

Ora, a forma desordenada como os criminosos fugiam não nos dá a certeza de um bando poderoso e intocável. Seguindo Nobert Elias, o historiador Jean-Claude Chesnais sublinhou por sua vez o declínio tendencial da violência nas sociedades modernas, entretanto, estudou somente a violência própriamente física.

Mas outros historiadores vieram a contradizer esta ideia após a publicação dos trabalhos do historiador americano Tedd Gurr, realizadas nos anos 1970-1980, e que interpretaram a violência em termo de privação: ela se desenvolveria quando a elevação das aspirações dos indivíduos não se acompanhava mais de uma melhora comparável de sua qualidade de vida.

É o que teria acontecido com as sociedades ocidentais a partir dos anos 1930, década na qual Ted Gurr observa uma reversão completa da tendência, isto é, um aumento agora durável da violência, do homicídio, da criminalidade, dos roubos ou da delinquência, seguindo uma curva em J. A tese de Ted Gurr é às vezes evocada pelo nome de “teoria da curva em J” por esta razão.

Na França, segundo Sebastian Roché, esta escalada continua a se observar a partir da metade dos anos 50. Ela é independente, segundo ele, do contexto econômico :

“A delinquência aumenta particularmente durante os anos de reconstrução e de prosperidade. Depois da metade dos anos 80, ela tende a se estagnar, e isto apesar do aumento do desemprego de longa duração e dos fenômenos de exclusão”.

Anteriormente, devemos nos recordar que um dos princípios da organização da cidade sempre foi pensado como o recuo da violência para fora de seus muros; em oposição à campanha ao redor, uma campanha considerada o lugar de todas as jaqueiras e pilhagens, uma campanha onde o movimento de pacificação ocorreu tardiamente, o que explica o êxodo rural maciço para “esta tênue luz libertária do anonimato” das cidades, de acordo com a expressão da historiadora Elisabeth Claverie.

É necessário ver, contudo, que este anonimato é ambivalente porque também é uma condição de existência de todas as espécies de tráfegos quem podem finalmente contribuir para a violência da cidade.

Seja como for, como observa, por exemplo, Michel Foucault em "Vigiar e punir", os grandes complexos industriais europeus foram construídos na orla das cidades para prevenir as revoltas operárias.

Do mesmo modo, nos Estados Unidos, os “campi” foram construídos fora das cidades para afastar a ameaça estudantil… As populações mais depauperadas em busca de trabalho instalaram-se também nos subúrbios.

Ora, no inconsciente coletivo, o subúrbio continua por excelência o lugar à margem, aquele que acolheria marginais, bárbaros, em outros termos zulus, para retomar um vocábulo idôneo: a partir da Idade Média, o subúrbio é este espaço que se situa a uma milha da cidade e onde cessa o desterro, ou seja, o poder senhoril; este espaço para além do qual não se faz mais parte da Cidade e, por conseguinte da civilização. Aqui no Brasil são os Bairros periféricos que se marginalizam pelo total abandono do Poder Estatal (Municipal).

As violências “urbanas” não são, por assim dizer, mais do que violências suburbanas; em todo caso, excluem-se da definição as violências perpetuadas no seio das manifestações que reivindicam quanto a elas logicamente uma maior visibilidade no centro da cidade: a violência se encontra no coração mesmo da cidade pelo fato que esta ultima é o centro do poder político a derrubar. Para o político, que é tentado a pensar a violência como contagiosa, esta aposta na segregação poderia finalmente ser feliz.

Nos países considerados de primeiro mundo também há incêndios de propriedades públicas e privadas! Há registro de um automóvel incendiado na França em 2005.

Apesar da repressão de todos os tempos, a cidade tem sido sempre palco de violência. Assim, em uma carta dirigida ao prefeito de Londres 1730, o escritor Daniel Defoe reclamava que “os cidadãos não mais se sentem seguros em suas próprias casas, nem sequer atravessando as ruas”.

As «violências urbanas» tal qual nós tivemos definido aparecem claramente nos Estados Unidos por volta dos anos 60, na França, no início dos anos 80.

Na sequência destes incidentes, as violências urbanas serão regularmente perpetradas, mas em escala menor (como o vandalismo e, a partir dos anos 80, o hooligan, por exemplo), tornando-se quotidiana e assumindo diferentes formas, tanto contra a propriedade quanto contra as pessoas, elas podem ser físicas ou simbólicas; erupções ocorrendo ocasionalmente como em 2005 por toda a França.

Repito: A ausência do Estado é um incentivo ao vandalismo!

A violência urbana ocorre na maioria das sociedades modernas. No entanto, as manifestações como as causas da violência variam entre as sociedades, assim, é errôneo acreditar que a violência urbana que assistimos num determinado lugar seja apenas a transposição de situações de um outro espaço.

As causas do aparecimento das violências urbanas Grafites em Viena, na Áustria. Se os focos de violência urbana são frequentemente desencadeado por rumores de abuso policial ou algum abuso de autoridade, as degradações e agressões cometidas geralmente por jovens no espaço da cidade apresentam varias causas cruzadas que muitas vezes tornam-se seus resultados numa série de círculos viciosos engrenando o empobrecimento:

• Uma situação familiar crítica. Onde a liberação do controle parental sobre a juventude implica numa falta de vigilância e punição aos contravenantes da ordem e das regras da sociedade; a eficácia da fiscalização pelos vizinhos ou pela comunidade ou mesmo pela sociedade não remedeia que parcialmente esse problema.

• A reprovação escolar, que pode ela mesmo decorrer da crise familiar. Assim, nos dias de hoje, a violência nas escolas é o rejeito mesmo da instituição, sobretudo pelos reprovados que reprovam as humilhações subidas. A comunhão de alunos em deficiência escolar com os outros implica a contaminação dessas deficiências e uma redução da qualidade no ensino em geral. Apartamentos sociais em Singapura.

• O desemprego, que se alimenta da falência da escola. Se ele pode engendrar a violência, esta o favorece em retorno, criando mecanismos de discriminação ao emprego ou, simplesmente, destruindo os bens que servem a criar o valor-agregado e, assim, os empregos.

• O desenvolvimento de uma economia paralela, incluindo o tráfico de drogas e o comércio de mercadorias roubadas. A concorrência entre gangues ou organizações criminosas favoreceu a circulação de armas. É o caso, por exemplo, de Medellin, com taxa de 94 homicídios por 100 mil habitantes, a maior do mundo, onde os grupos La Galera, La Torre e 38 são facções inimigas.

• O consumo da violência pela televisão, exibição de filmes, ou jogo de vídeo.

• A ausência de mobilidade geográfica dos mais pobres. Ela tende a acentuar ao fio da partida dos mais fortunados uma cisão geográfica inelutável, eventualmente reforçada no dia a dia por um fraco serviço de transportes públicos.

A exiguidade das moradias nas quais eles são condenados a viver (às vezes com uma família numerosa) empurra os jovens a tentar se apropriar do espaço público ou privado, esbulhando, tentando controlar os grandes espaços como as ruas, praças, viadutos, e os lugares de passagem estratégicos.

Uma vez esses territórios conquistados, eles operam a uma verdadeira marcação, "tags" ou grafitagem por exemplo, mas também à um controle mais estrito, pela medida de pagamentos ilícitos de bens público ou privados, chamadas de “taxas”, que é um termo de direito financeiro que faz referência ao monopólio estatal de cobrar impostos.

Quem mora ou já morou na periferia do Rio de Janeiro ou São Paulo sabe do que estou escrevendo.

Observação: Morei 10 (dez) longos anos no Rio de Janeiro (1988/1998).

• As práticas ditas desviantes como a toxicomania, prática que necessita a instalação do tráfico pelo qual a proteção exige o recurso à violência.

• A falta de influência política e a sub-mediatização, que força o recurso à violência para se fazer entender. A violência e a força não são então que um repertório de ações que procedem a avantaje de serem mobilizáveis a todo o momento.

• Os conflitos religiosos, os refúgios comunitários (o anti-semitismo no islamismo, por exemplo).

• A discriminação racial, homofóbica, e as rivalidades éticas.

A estas explicações clássicas adicionam-se causas culturais:

• Uma crise da masculinidade, que esta ligada à mecanização do trabalho que desvalorizou a força física. Ela favorece as violências sexuais; violência e virilidade estão aqui associadas.

• Nos países de imigração, o rompimento com os laços culturais e uma má integração ocasionada pela busca de reconhecimento e justiça são fatores de estímulo à violência. A desintegração de comunidades pode levar ao rompimento com a sociedade.

Na medida em que o Estado se define no sentido weberiano como uma empresa de monopolização da violência física e legítima, a irrupção das “violências urbanas” é particularmente grave do ponto de vista do político: ela põe em dúvida a capacidade das instituições estatais a defender seus cidadãos, que é a base do pacto social, a promessa do Estado.

Isto é tanto mais verdade que o monopólio da violência do Estado seria atacado de todos os lados. Assim, de acordo com Sebastian Roché, o aumento da violência que se conhece desde o pós-guerra não é imputável a uma categoria específica de indivíduos, mas a uma generalização dos comportamentos agressivos nas diferentes camadas da população.

De acordo com ele, observações, por exemplo, revelaram que bons alunos também praticam o "racket" (extorsão, roubo com violência) fora da escola.

De acordo com o sociólogo, o Estado deveria dar uma resposta nítida ao problema da violência das cidades se quiser continuar a ser credível. A solução oscilando entre repressão e prevenção. Esta segunda necessita em todo caso a intervenção de uma justiça forte.

Ora, como observa Yves Michaud, a violência é uma noção muito pouca utilizada pelos juristas porque é bastante vaga e mal definida. É preciso, entender que a violência não é a única forma de resolver os problemas. Falta estrutura familiar; educação; diversão; sentimento religioso, responsabilidade social, por parte dos políticos e por pessoas que já trabalham com crianças, adolescentes, Associações, conselhos tutelares, etc.

Estes problemas podem ser contornados pela introdução de análises qualitativas das diferentes formas de violência urbana e de sua repreensão, no âmbito de programas específicos. Mas nem todas as violências são quantificáveis.

Também, depois de alguns anos, inquéritos de vitimação são realizados para melhor apreender qualitativamente os fenômenos de violência. Consistem em interrogar as pessoas sobre os incidentes dos quais teriam sido vítimas e se elas teriam ou não os declarados à polícia. Estes inquéritos são antigos nos Estados Unidos. (International Crime of Victimization Survey).

Em todo caso, vários argumentos opõem-se aqui à ideia de um aumento recente das violências urbanas: a falta de fiabilidade ou mesmo existência de meios estatísticos, o fato de o aumento ser um melhor recolhimento das queixas pela polícia, ou mesmo uma maior sensibilidade dos indivíduos à violência, que os inclinaria a delatar mais facilmente crimes.

Assinala-se também que os números permanecem médios que podem esconder fortes disparidades geográficas e sociais. De fato, mais que um aumento da violência, é a uma diversificação das vítimas e das instituições visadas que nós assistiríamos.

Em geral, atualmente a luta contra a violência urbana empresta várias formas:

• O reforço da presença policial nas zonas sensíveis pela redistribuição dos efetivos e a redefinição dessas zonas, dois movimentos que podem acentuar involuntariamente a desestruturação dos espaços visados ou o sentimento de desestruturação.

Polícias dotadas de melhores equipamentos pessoais podem fazer temer os jovens de um reforço do controle que pesa já sobre eles. Recorda-se a respeito, na sequência de Michel Foucault, que a delinquência é apenas uma evolução nas nossas sociedades que substitui antigas formas de ilegalidades que não podiam, quanto a elas, ser controladas a distância, de longe.

Esta evolução opera-se por meio da aplicação de novos meios técnicos e tecnológicos de vigilância. Hoje, a maioria dos agitadores de desordem interpelados podem ser "conhecidos" da polícia pelo recidivismo.

• Tentativas de discriminação positiva em prol de bairros não favorecidos.

• A renovação urbana, mais ou menos importante em função dos países. Nos últimos dez anos, a Alemanha consagrou anualmente 3,5% do seu PIB à reunificação e à renovação urbana. Já a França (em 2003), esse esforço não representou mais do que 5,7 bilhões, ou seja, 0,36% de seu PIB.A escolha de combater os efeitos da violência, notadamente o sentimento de insegurança.

Contrariamente aos outros tipos de violências civis, as “violências urbana” implica consequências para além das suas vítimas diretas.

Como o menciona Yves Michaud, a nossa relação para com a realidade violenta não passa somente por parte dela pela experiência direta que temos: passa também doravante pelos testemunhos e as informações que recebemos, notadamente pela mídia, mas também pelas empresas de segurança quem têm também grandes interesses a acentuar nossa percepção da violência, já que a segurança representa um mercado consequente.

Assim cria-se essa situação paradoxal nas quais poucas pessoas afirmando sentir a insegurança foram elas mesmas atacadas. É o que se chama "sentimento de insegurança". Para uns, tal sentimento é o produto de fantasmas, em contradição com a baixa tendência da violência nas sociedades modernas.

Para outros, como Sebastian Roché, traduz ao contrário um aumento efetivo da delinquência e da criminalidade, bem como de um fenômeno pouco levado em consideração há alguns anos: as incivilidades, cujo estudos não começaram nos Estados Unidos que nos anos 1970.

A dificuldade vem das estatísticas que ignoram as incivilidades legais como a falta de civismo, etc.: interessam-se apenas às incivilidades ilícitas. Marines em formação para conter insurrectos (insurretos), no Ohio.

Do ponto de vista político, na medida onde ele concerne às massas, o sentimento de insegurança ligado às violências urbanas é talvez mais importante que a violência e a degradação elas-mesmas, pois ele é a primeira força que determina o voto securitário, além da violência real.

O político procura assim a medi-lo, em seguida a fazê-lo eventualmente recuar, o que pode ocasionar problemas complexos: devem-se colocar as forças de polícia lá onde verdadeiramente ela é necessária ao risco de fazer temer um abandono do resto da população, ou ao contrário, as concentrar lá onde elas não jogam que um papel simbólico ao risco que a situação dos bairros abandonados torne-se incontrolável na sua relativa ausência?

CONCLUSÃO

Resumidamente, a luta contra as violências urbanas compromete, por conseguinte dois cursores cujos movimentos são parcialmente ligados, e apenas parcialmente: o primeiro o da violência real, o segundo da violência sentida.

Baseando-se na democracia participativa, por exemplo, a política pública ideal na luta contra as violências urbanas seria uma mistura de ação e de representação que seria condenada à não ter um êxito que parcial.

Como afirma Yves Michaud, "a maioria das sociedades comporta subgrupos onde o nível de violência é sem medida com aquele da sociedade ou, ao menos, com as avaliações comuns que prevalecem lá: tal é o caso dos grupos militares, das gangs de jovens ou das equipes esportivas.".

Tal é também o caso dos jovens que produzem a violência urbana tal como definido acima. Nos grupos que formam esses jovens, a violência mesma seria a norma: ver-se-ia bem lá ter feito a prisão. Essa passagem credibilizaria o indivíduo e, assim fazendo, o permitiria de não mais fazer recurso à violência física direta para ser respeitado.

Nesses casos de inversão da norma, mesmo as lutas de poder no seio de um mesmo grupo também são lutas violentas, e isso porta enormes consequências no espaço circunvizinho, que é também aquele dos terceiros: na cidade, nos espaços públicos, nos transportes urbanos, etc.

As vítimas diretas ou indiretas dessas violências sofrem frequentemente menos com a dor infligida que com a sua incapacidade a reagir de maneira apropriada à violência que é involuntariamente imposta, isto é, geralmente, pela violência.

Assim, a maioria dos traumatismos de que sofrem aqueles que após terem sido agredidos de uma maneira ou de outra, releva de fato a sua lealdade extrema no que diz respeito ao estado, o qual vem se juntar a eles a fim de não ceder à violência mesmo quando esta se impõe.

Pode-se requerer então das autoridades em retorno àquilo que eles ressentem como um sacrifício, um reconhecimento que os possa instituir como vítimas, vítimas eventuais qualificadas a falar e agir contra a fonte de violência que os alcançou. Seria lá o desafio último que a violência urbana oferece às autoridades públicas.

Degradando a qualidade de vida de todos, elas transformariam cada um em produtor de queixas às quais as autoridades terão cedo ou tarde que responder se elas não quiserem perder a confiança, se é que já não perderam, de seus cidadãos e suas obediências.

Bibliografia

• Hugues Bazin, La culture hip-hop, Desclée de Brouwer, 1995 - ISBN 2220036472.

• Sophie Body-Gendrot, « L'insécurité. Un enjeu majeur pour les villes », Sciences Humaines, décembre 1998.

• Jacques Donzelot, Faire société, Seuil, 2003, Paris

• Norbert Elias, La civilisation des mœurs, Calmann-Lévy, Coll. 1973 - ISBN 2266131044.

• Hugues Lagrange, « La pacification des mœurs et ses limites. Violence, chômage et crise de la masculinité », Esprit, décembre 1998.

• Yves Michaud, « La violence. Une question de normes », Sciences Humaines, décembre 1998.

• Revolta de jovens dos subúrbios de Paris em 2005

• Ordem pública

• Epidemiologia da violência