Curso Produção de Textos - Encontro 4
Olá,
Aqui continuamos nosso Curso Produção de Textos, abordando alguns Recursos Estilísticos que poderemos utilizar na construção de nossos escritos.
"Encontro 4"
"O Recurso da Persuasão"
Elemento indispensável à Retórica (A Arte do bem falar), a Persuasão insere-se na Literatura como elemento esencial para a afinidade escritor-leitor, do que deriva as preferências e o encantamento por determindado autor.
Um escritor, como todo artista, deve ser capaz de envolver, de encantar. E o objetivo do artista é atingir seu público.
Para Aristóteles, a persuasão:
"é uma espécie de demonstração, pois certamente ficamos completamente persuadidos quando consideramos que algo nos foi demonstrado".
Classicamente, há 3 classes de meios de persuasão:
"ethos" "pathos" e "logos"
ethos - a credibilidade
pathos - a emotividade
logos - o raciocínio
Não pense em "persuasão" como um termo negativo de mero convencimento. A persuasão é o mecanismo que estabelece uma ligação entre o leitor (que confia) no escritor (que persuade).
E entre raciocínios inteligentes, conhecimento do assunto abordado e projeção de emoções, o escritor vai tornando "visível" aquilo que o motivou a escrever: uma emoção pessoal.
A Arte de escrever consiste em traduzir-se a si mesmo.
Vamos estudar cada uma das classes de persuasão:
"Ethos"
Aqui, o próprio autor é o elemento chave: A Credibilidade.
O uso de "autoridade" ao discursar sobre determinado assunto conduz o leitor a certa "segurança" de que pode confiar no autor:
- Uso correto da Língua.
- Referências categóricas.
- Fluência na escrita.
- Capacidade de transformar um conceito complexo em diversos fatos simples.
- E a convicção do próprio autor de que domina aquele tema.
Alguns autores evitam termos que prejudiquem o "ETHOS" (A Credibilidade), substituindo-os por outros:
- O excesso da palavra "não", no texto, gera desconfiança pela simples repetição do termo.
- Expressões como: "eu acho", "eu suponho", "eu considero", quando mal empregadas, também geram sensação de descrédito.
- O uso excessivo de termos "antigos", "desconhecidos" ou "eruditos", podem soar como "arrogância", afetando a empatia do leitor para com seu escritor.
Ao utilizar-se do ETHOS como recurso persuasivo, o escritor busca criar "um clima" de empatia, em que o leitor pode "relaxar" e se deleitar com a obra. A quebra do ETHOS pode transformar o leitor em um mero "crítico", perdendo o encantamento artístico. A obra será analizada apenas sob o aspecto técnico.
Um bom escritor sabe como "diluir" o ETHOS em seus textos, e após anos de treino, o faz de forma natural. Eis o ápice do ETHOS: quando o autor consegue a "credibilidade" sem a necessidade de "pedi-la".
"Pathos"
Nesta classe de persuação, o elemento principal é o leitor: A Emoção.
Aqui reside grande parte do "encantamento" que a Arte provoca. O escritor, como artista, deve ser capaz de "manipular" as emoções de seu público: fazendo-o chorar, sorrir, odiar, amar... Este é o objetivo da arte: fazer algo irreal produzir o mesmo efeito de algo real - transformar uma mentira em verdade.
Chorar no palco é trabalho simples para qualquer ator. Arte é fazer uma platéia chorar ao observar uma cena que não é real!
O escritor pode se faler de vários recursos emotivos:
- Uso de metáforas aproximam-no diretamente da "intimidade" do leitor.
Observe:
O assassino foi muito cruel e ardiloso.
Nesta frase, o autor diz sua opinão, qualificando o "assassino" com adjetivos que ele, o autor" considera apropriados.
Mas, quando o autor diz:
O assassino foi uma verdadeira cobra.
Ele estabelece um vínculo com seu leitor. Observe que, na metáfora, há a substituição de um termo por comparação, e esta comparação é mental e não escrita.
Observe:
O assassino foi "uma verdadeira cobra".
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Metáfora
O assassino foi "como uma verdadeira cobra".
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Comparação
Na Metáfora, o autor deixa o seu leitor escolher os "adjetivos" que representariam uma cobra, ou seja: o escritor estabelece um vínculo com seu leitor.
- Outro recurso de PATHOS (Emoção) é o uso de apelos de memória, fazendo o leitor reportar-se a determinada fase de sua vida, criando a sensação de que "aquela obra fala também sobre mim".
"Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da Minha infância querida
Que os anos não trazem mais..."
- Casimiro de Abreu
Ao utilizar o PATHOS, o autor cria uma verdadeira rede de emoções e "proximidades" com o leitor.
"Logos"
O Logos é o raciocínio, portanto, o elemento principal é o próprio texto.
A capacidade de "raciocinar" e fazer o leitor "raciocinar" junto com o escritor é habilidade altamente sofisticada. Talvez o mecanismo de persuasão mais eficiente, pois quando se mostra um argumento de forma inteligente e lógica, a "empatia" é automática.
O uso da razão e do raciocínio não compete com a beleza do texto, muito menos com a "poesia" que se pode aplicar em qualquer discurso. A razão é um atributo que dá ao texto o direito de viajar por qualquer mundo, até os inimagináveis, bastanto que haja verossimilhança.
Ah! A verossimilhança! Esta será assunto de uma aula inteira.
Vários são os recursos de LOGOS que um escritor deve dominar:
- O Conceptismo - Recurso bastante usado pelos poetas Barrocos, o conceptismo traz no jogo de ideias o "tom" de verdade ao texto.
Observe:
Trecho de Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira:
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo pode proceder de um de três princípios:
ou da parte do pregador,
ou da parte do ouvinte,
ou da parte de Deus.
Para uma alma se converter por meio de um sermão, há se haver três concursos:
- há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo;
- há de concorrer o ouvinte com entendimento, percebendo;
- há de concorrer Deus com a graça, alumiando.
Para um homem ver a si mesmo, são necessárias três coisas:
- olhos, espelho e luz.
Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos;
Se tem espelho e olhos, e é noite, não se pode ver por falta de luz.
Logo, há mister luz, há mister espelhos e há mister olhos.
Padre Antônio Vieira (Grande Mestre) faz uso do LOGOS para estabelecer uma premissa, contra-argumentar e, por fim, concluir. Levando o leitor a "pensar" junto com ele.
Outros recursos do LOGOS:
- Uso de sequências racionais: tese - antítese e síntese.
- Uso de exemplos simples que confirmem sua "tese".
No próximo encontro, faremos um treinamento dos assuntos estudados até aqui. Veremos, na prática, como aplicar e exercitar estes recursos estilísticos.
Vale ressaltar que o escritor deve ter nas mãos um verdadeiro arsenal de recursos. A habilidade em usá-los e a escolha do momento oportuno é que fazem de um escritor, um artista.
Booas leituras.
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