O LIVRO DO ESCRITOR E AS POSSIBILIDADES
Escrever é arte. Algumas pessoas amam a arte literária, podem discursar, comentar, porém para ser escritor são necessárias muitas características. É preciso desenvolver a imaginação, observar o mundo de um ângulo singular, ser um observador poético (isso nada tem a ver com métrica nem com rima, mas com visão estética).
O escritor, muitas vezes, é um estranho no mundo. Sua visão original não é compreendida pelos colegas, familiares e amigos. Penso que o escritor “quer ser mais ser” como falava Platão.
Enquanto terminava os últimos capítulos de “O Livro do Escritor”, publicado pela editora Instituto Memória, em Curitiba, em 2009, pensava na importância de reconhecer que a criação literária é como um país sem limites, talvez como uma praia de horizontes ilimitados, mas que no momento em que decidimos escrever precisamos colocar limites a nosso trabalho.
Um exemplo poderá nos ajudar. Se começamos a escrever um conto teremos que trabalhar com poucos personagens, pois um conto de poucas páginas não permite desenvolver histórias com muitos personagens.
Também temos que limitar nosso vocabulário ao vocabulário do narrador. Se nosso narrador é um homem de campo, um homem simples que está contando a história que ouviu dos antepassados, a história da família, ou a própria história, sua linguagem deverá ser adequada a seu nível cultural. Ele não poderá falar como um professor universitário.
Se nosso protagonista é um homem ele deverá comportar-se como um homem. Lembro de uma aluna, jovem muito feminina, que escreveu um conto de um rapaz que era abandonado pela esposa. O rapaz enquanto se olha no espelho e penteia os cabelos vai narrando a história. Resultado, os companheiros começaram a rir, porque em vez de parecer dramático o conto parecia uma sátira. Acontece que, geralmente, mulheres podem contar histórias enquanto se olham no espelho e penteiam os cabelos, homens quando são abandonados pela “cara metade” tomam outras atitudes, entre as mais comuns estão, ir ao bar e beber, entrar em uma corrida de carros, brigar...
Então, enquanto escrevia “O Livro do Escritor” fui observando que essa praia ilimitada de possibilidades precisa seguir suas próprias regras, exigidas pela diégetica da obra. Mas a escolha é pessoal, e vai depender de cada escritor saber conduzir ao leitor por esse universo de possibilidades.