"Memórias Póstumas De Brás Cubas" - Análise Do Livro
Narrador-personagem, intruso – característica do narrador onisciente. Deseja chamar atenção para si, através de artifícios como abuso deliberado, desrespeito, gracinha e profanação, descaramento (compara-se a Moisés). A composição do conjunto é de uma estrutura social em que o individualismo é característica usada para se compreender o universal.
O narrador procura colocar-se de forma superior, é digressivo, ousado. Usa de sátira, apresenta inúmeras antíteses: “princípio e fim, nascimento e morte, vulgar e diferente, campa e berço etc”, usa, também uma linguagem formal, culta adicionada a um comportamento desprovido de valores éticos – um paradoxo, disfarçando sua desfaçatez. Mantém a supremacia através de mudanças bruscas.
Em todo o tempo mostra-se volúvel, através da viveza de movimentos e da frequência de contrastes, liberdades e desmando subjetivo.
Quando se diz um defunto autor em vez de autor defunto, tira sua credibilidade e demonstra a intenção de confundir o leitor, de manipular as aparências. Procura desnudar a sociedade.
Sua relação com o autor existe de fato, um procura rebaixar o outro, e a vitória é sempre do narrador. Obriga o leitor a fazer juízo moral, a julgar a sociedade.
Sendo um narrador morto, não possui problemas em contar, não precisa se importar com as críticas. Apresenta desnível entre o esqueleto sintático muito armado e as irregularidades do real. Procura classificar, esquematizar e abstrair.
Demonstra um Brasil independente, entretanto, num contexto igual, escravidão representada de outra forma; mão de obra culturalmente segregada. Apresenta a dissonância entre o ideal e a ação. A volubilidade contém o desrespeito que o mundo prático exerce. A norma representa a burguesia e a infração, o sistema escravocrata – uma sociedade incoerente, que vive das aparências, não condiz com o que prega.
Forma biográfica com digressões e episódios cariocas, que apresenta a ausência do trabalho e de projeto consistente, denunciando os privilégios de classe, Brás Cubas – cargo, posição superior sem esforço. Demonstra a “desobrigatoriedade” da classe dominante com os dominados, dá a ela condição de total irresponsabilidade.
Também demonstra o pessimismo do autor mediante a situação, o contexto, uma visão desenganada do gênero humano. Diferente do naturalismo, faz uma análise psicológica da sociedade do momento.
Na tremenda volubilidade do narrador e no caráter nada ético do personagem janota, a sucessão de fatos não muda suas atitudes.
Pertencente a uma aristocracia hipócrita, percebe-se que não há diferença entre os membros da sociedade. Quem destoa do grupo de personagens é Quincas Borba, louco porque não segue as regras que a sociedade criou.
Brás Cubas é um narrador irônico, sua ironia é voltada contra si e contra os de seu grupo. Está acima, por isso pode dizer e fazer o que tem vontade.
Machado de Assis começou a retratar uma sociedade que existe até hoje. Nasce uma consciência moderna, a ideia de que homem e mundo não se conectam mais, o “outro” é um concorrente. Vê a sociedade como uma sociedade de contradições. No capitalismo mundial ainda mantinha escravos. O segregado em suas obras representa uma forma de redimir a sociedade de manter a escravidão.