A MODERNA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Pra dançar
uma valsa
é preciso
só dois.
O sol
com a lua.
Feijão
com arroz.”
(José Paulo Paes)
O Brasil é um país privilegiado em autores de literatura infantIL. Desde Monteiro Lobato, que inaugurou a qualidade e o fascínio por esse gênero, uma vigorosa e criativa safra de escritores vem surgindo e se destacando.
Podemos citar Cecília Meireles, Sylvia Orthof, Marina Colasanti, Bartolomeu Campos de Queirós, Elias José, Leo Cunha, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Roseana Murray, José Paulo Paes, Sérgio Caparelli, Mario Quintana, Pedro Bandeira, Gabriel Bicalho, Celso Sisto, Ziraldo e tantos outros que nem caberiam aqui nesse curto espaço de texto, para ficar apenas no campo da literatura infanto-juvenil. Não é à toa que temos dois laureados com o Grande Prêmio Internacional Hans Christian Andersen, uma espécie de Nobel da literatura infantil: Ana Maria Machado e Lygia Bojunga Nunes.
É interessante também relembrar o excelente nível dos nossos ilustradores como Eva Furnari, Flavio Fargas, Ângela Lago, André Neves, Elma Neves, Roger Mello, Mariaângela Haddad, Marilda Castanha, Luiz Maia, Claudia Schatamacchia, Eliardo França, Ziraldo, dentre tantos outros, alguns de renome internacional. Felizmente a nossa literatura infantil vai muito bem, obrigado. E a cada dia surgem novos talentos. Dessa forma, fica um pouco mais fácil o incentivo às nossas crianças e aos nossos jovens à aventura prazerosa da leitura.
No Rio Grande do Norte, temos também alguns autores que vêm se destacando nesse campo, como Adriano Gomes, que é também contador de histórias, Nivaldete Ferreira, Salizete Freire Soares, Hardy Guedes, Dorinha Timóteo, Juliano Freire, Diógenes da Cunha Lima que tem produções para crianças, especialmente canções… E podemos falar também de dois outros autores, já falecidos: Homero Homem e Câmara Cascudo, o último com uma produção fantástica, seus Contos de Encantamentos e Trinta Histórias do Brasil.
Vale um destaque especial para o despontar do talento infantil, como é o caso de Monalisa Silvério (hoje com 15 anos), mas que já aos do12 anos de idade já havia publicado dois livros, dentre eles o Minha Bolsa Mágica, cotado para virar filme.
Tenho visitado muitas escolas por esse Rio Grande do Norte afora e tido a oportunidade de ver o entusiasmo de nossas crianças com a presença da literatura, especialmente da poesia na escola. Aqui em Natal, por exemplo, passei pela agradável experiência de ter alguns dos meus livros adotados em escolas e de poder acompanhar de perto o trabalho de releitura que as crianças fizeram, não só dos meus poemas, mas também dos textos de muitos autores-ícone da literatura infantil brasileira. É muito gratificante ver o trabalho de criação e de recriação produzido por esses talentos infantis que, desde a alfabetização, já começam a ensaiar e a vivenciar o universo da poesia, com toda a emoção que ela pode trazer. A poesia, quando utilizada da forma adequada, é uma estratégia altamente dinamizadora e motivadora da sala de aula. Não que a poesia tenha o objetivo de ensinar alguma coisa, mas pelo sentimento, pela beleza e pelas inúmeras possibilidades que ela abre para a criança “viajar” nas asas da fantasia e da imaginação. E essa é a melhor forma de aprendizagem: brincar com as palavras, num jogo estimulante em que a realidade e a fantasia se misturam e fazem surgir universos jamais imaginados e descortinam os horizontes da alegria e da leitura prazerosa.
Finalmente, nunca é demais relembrar que escrever para criança representa um enorme desafio, por várias razões. Primeiramente há que se ter o respeito pela criança, sem infantilizá-la e nem adultizá-la: é preciso a dosagem certa de cumplicidade com o seu universo, com a sua capacidade de percepção e de leitura de mundo. É necessário que o livro tenha significatividade para ela, que fale de coisas do seu mundo, mas que a faça também transcender, ir além do seu espaço e do seu próprio tempo. Um bom livro é aquele que consegue fazer com que a criança se identifique com a temática, com as personagens, com a linguagem utilizada. É interessante que o leitor mirim seja seduzido pela beleza, pelo ritmo, pelas ilustrações, pela leveza, pelo humor, pelas brincadeiras, enfim por um conjunto de ingredientes favoráveis a uma leitura, por si só, cativante.
Felizmente, tudo isso e muito mais, podemos encontrar na maioria dos autores já citados no início. Temos um pouquinho de cada uma dessas qualidades distribuídas em obras que têm permanecido entre nós como verdadeiras relíquias, tesouros que valem a pena ser garimpados e guardados bem no fundo da memória e do coração.
Para finalizar, nada melhor do que navegar na “Caravela” de Gabriel Bicalho (MEC, 2006), um inventivo poeta contemporâneo:
“ era brisa
marinha
levando
minha
poesia
pois ia
ia…”
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Pena que recentemente, dia 16 de janeiro de 2012, a literatura brasileira ficou órfã do grande escritor BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS... Deixa-nos uma lacuna enorme...