CRIAÇÃO POÉTICA É BIOGRAFIA?

O autor do poema pode tudo. O papel aceita tudo que o ego criativo desejar. A net nem se fala, é o mundo ao alcance da mão. Não é mera questão de assumir o texto na ótica pessoal, segundo o que o autor vê à sua volta no mundo das realidades. O que condiz com a minha tarefa crítica, é a instigação de sugerir a construção de um poema com Poesia, com ritmo e figuras de linguagem que levem à sugestionalidade, sem a explicitação direta do assunto. O ego possesso sobre a matéria disforme da criação – vista e subtraída ao ambiente circunstancial – prejudica a descoberta da eterna Poesia. O autor fica preso aos detalhes do que vê, do que observa e frui. Os VERSOS DE CIRCUNSTÂNCIA, em regra, compõem um poema de menor profundidade e abrangência espiritual, se bem que pode advir com ótima plasticidade, tátil reprodução do ambiente... Aos olhos do espectador, a plasticidade do panorama silvestre, agreste, bucólico, pode vir a produzir uma razoável crônica circunstancial. Por vezes, pelo resultado personalizado da peça, teria sido melhor que se tivesse criado um texto de outro gênero, que não em versos, porque estes quadros da natureza já são a própria poesia aos olhos do expectante, e mesmo que bom poeta, a natureza fugidia das imagens dominará o universo momentâneo da Palavra. Porque o poético não diz, não esgota o assunto ou tema – apenas sugere – buscando abrir uma janela de recriação ao receptor... É nessa fórmula que a proposta atinge a UNIVERSALIDADE. Talvez seja por isso que há uma corrente crítica que diz que toda criação poética é nada mais nada menos do que uma momentânea BIOGRAFIA de circunstancialidades...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010/12.

http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/2603556