DICAS PARA ESCREVER LIVROS DE CONTOS
Muitas pessoas desejam escrever contos. Têm ideias interessantes, presenciaram ou viveram fatos que desejam narrar com certo encanto, transformar a observação ou as vivências em contos. Algumas, seja por leitura ou por área de trabalho, sabem escrever, conhecem as técnicas, como os jornalistas e os profissionais da área de letras, também pessoas habituadas à leitura podem ter descoberto sozinhas as regras básicas de uma escrita interessante. Porém, há leitores que permanecem atentos ao enredo e aos personagens e não reparam em outros aspectos da composição literária com tempo, como espaço, linguagem, foco etc.
Ninguém poder criar um escritor com “dicas”, mas elas servem para melhorar a escrita. Se o escritor interior já existe, pode melhorar e muito, observando alguns detalhes. Vejamos:
1) Autoconhecimento: entenda-se a si mesmo, entenda o seu estilo. Veja se você é compacto, se é detalhista, se seus enredos são para desenvolver em duas páginas ou se é tão longo e complexo que precisará mais de 200 páginas. Entenda os impulsos, os movimentos de sua própria alma.
2) Se decidiu escrever contos ou se notou que seus enredos podem se desenvolver com êxito em poucas páginas, lembre que o conto é conciso, isso quer dizer que é preciso dizer muito com poucas palavras.
3) Um conto precisa de “tensão” desde o primeiro momento como bem assinalou Cortázar. Não há tempo para guiar lentamente o leitor, como pode acontecer em um romance. Por isso, o conto se caracteriza por introduzir rapidamente o assunto e os personagens. Não existe um segundo capítulo em que seja possível inserir um novo personagem. Tudo precisa estar lá desde os primeiro parágrafos, ou ser guardado na cartola de mago e aparecer no final, surpreendendo o leitor.
4) O enredo? Esse é o centro da questão, o que você realmente quer contar. O enredo do conto pode ser mínimo, mas a expressividade do conto permitirá que o leitor mergulhe e encontre diferentes significados.
5)E o tempo? Será um conto linear ou um conto em que os personagens mergulham no próprio passado, nas próprias lembranças?
6) O cenário exige um trabalho apurado. Em poucas palavras o cenário precisa surgir na mente do leitor. A escolha das palavras é fundamental.
7) Pense nos diálogos que pode utilizar. Escolha se quer ou não colocar diálogos, e se decidir pelo sim, veja que sejam de interesse para os personagens e para o desenvolvimento da história.
8) A voz narrativa. Esse é o centro da questão, mas, muitas vezes, para chegar ao centro, precisamos partir da periferia. Nem todo mundo consegue sua voz narrativa nos primeiros trabalhos. A voz narrativa, o cunho, a singularidade do escritor podem demorar. O importante é entender a própria voz.
9) Não pensar que escrever um conto ou dez contos já torne você um escritor. Algumas pessoas engavetam ou jogam seus escritos durante anos até conseguir material para publicar seu primeiro livro. Conta-se que o escritor Jorge Luis Borges trabalhou durante sete anos para encontrar um bom final para um conto.
10) Escritor, em geral, é ansioso. Ao escrever, deseja publicar, comunicar-se com outras pessoas, falar com elas, ver se o assunto, a abordagem chegaram à outra alma. Escritor que domina a ansiedade e só publica quando tem certeza do efeito de seus livros tem mais chances de acertar.
Em síntese, um conto pode ser um texto pequeno, mas o trabalho de escrevê-lo não é pequeno. Como já falei em “O Livro do Escritor”, publicado pela editora Instituto Memória, a estrutura do conto não é mais simples que a do romance. É diferente. Escrever um bom conto é difícil. Requer sensibilidade. Capacidade de criar um cenário. Personagens convincentes. Requer uma técnica apurada. A vantagem é que, por tratar-se de um relato curto, exige menos tempo. Textos longos, deixam os iniciantes ansiosos.
Devemos lembrar que é preciso paixão para ser escritor. Ser um contista é escrever, errar, errar novamente, errar outra vez, e não desistir.