Alceu Maynard Araújo
Alceu Maynard Araújo nasceu em Piracicaba no dia 21 de dezembro de 1913, mudou com a família para a cidade de Botucatu – as duas cidades em que estaria afetivamente ligado durante a sua vida. Alceu costumava mencionar ser “um orgulhoso piracicabano-botucatuense”. Em Botucatu, completou os primeiros estudos e, em seguida, graduou-se professor pela Escola Normal Oficial do Estado. Já, com o diploma de professor, Alceu Maynard foi lecionar na cidade de Pirambóia, mas, intrépido logo se mudou para a capital paulista, para residir e trabalhar na Associação Cristã de Moços e estudar na Escola Superior de Educação Física de São Paulo.
Alceu um protestante presbiteriano de fortes convicções, queria muito se tornar missionário, entre as tribos indígenas brasileiras. Mas, foi a sua passagem pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que mudaria a rota da sua vida, pois estudou a etnologia.
Alceu Maynard ainda muito jovem conheceu Mário de Andrade e Nicanor Miranda e assim, com um ideal inovador fundam o Clube de Menores Operários, do Departamento Municipal de Cultura, experiência pioneira no exercício público da cidadania com a assistência não-paternalista aos filhos de operários de São Paulo.
Mas, voltando a etnologia, conhecida como a ciência que estuda os fatos e documentos levantados pela etnografia no âmbito da antropologia cultural e social na busca de uma apreciação analítica e comparativa das culturas. A etnologia teria em Maynard um estudioso e pesquisador e o levaria a um sólido preparo.
Nos tempos atuais, se diz que etnologia é o estudo das características de qualquer etnia, isto é, agrupamento humano (povo ou grupo social), que apresenta alguma estrutura socio-econômica homogênea, onde em geral os membros têm interações cara a cara, e há uma comunhão de cultura e de língua. Este estudo visa estabelecer linhas gerais e de desenvolvimento das sociedades.
Deste modo, com todo o conhecimento proveniente desta ciência Maynard especializou-se em pesquisas de comunidades rurais.
Na Escola de Sociologia e Política, Alceu Maynard Araújo iniciou o aprendizado etnográfico e sociológico que o transformaria em um dos mais importantes especialistas em folclore da história das ciências sociais no Brasil, com trabalhos reconhecidos pela comunidade acadêmica internacional.
Pois bem foi na Escola de Sociologia e Política, que o brilhante Maynard iniciou o aprendizado etnográfico e sociológico e se transformaria em um dos mais importantes especialistas em folclore da história das ciências sociais no Brasil, com trabalhos publicados e reconhecidos pela comunidade acadêmica internacional.
Durante a sua vida Alceu privilegiou a todos com uma extensa obra de grande relevância contendo artigos acadêmicos, prosa, poesia, artigos da cultura popular brasileira,
Em seu trabalho com a cultura popular brasileira Alceu estuda os costumes folclóricos brasileiros, com descrições detalhadas de arte, bailados, cozinha regional; danças, festas, folguedos, músicas, ritos, linguagem típica, lendas, as diferenças e características principais dos acontecimentos da cultura popular, como as festas do Divino, e foi mais longe ao estudar o ritual de preparação do espinhaço de ovelha; a construção das redes de pesca e de dormir, as instituições do mutirão, da farmácia, do palhaço ladrão de mulher e as reuniões para a construção de presépios; os cocos do Nordeste... Com certeza, uma obra das mais importantes na área dos estudos folclóricos para o nosso pais.
No seu discurso de posse na Academia Paulista de Letras proferido em 11 de maio de 1965, o sociólogo, etnólogo e folclorista Alceu Maynard Araújo, recebe a cadeira número 30, em que o patrono é o padre e político Diogo Antônio Feijó (1784-1843), regente único do país entre 1835 e 1837, Maynard em meio do seu discursar este belo trecho de suas reminiscências
“Neste local onde hoje se ergue a Academia Paulista de Letras, havia uma casa solarenga, com um grande jardim fronteiro cercado por altas grades de ferro. Muitas árvores, palmeiras, alguns pés de ipê e, lá pelos fundos, frondosa paineira, que em certa época floria e depois, ao abrir das painas, ficava toda carregada de branco. Pareciam milhares de lenços brancos a acenar o adeus, mal à brisa por ela passasse.
Um dia derrubaram várias árvores deste Largo do Arouche, foi, parece-nos, em 1940, quando então escrevemos esta poesia:
SÚPLICA DA ÁRVORE
Bem nesta campina
- oh se me lembro! –
neste remanso, há anos,
na primavera, em setembro,
tudo era lindo.
Aqui, uma solitária restinga
e árvores, flores e relva
no manto que cobria
a minha Piratininga.
Passaram-se anos e anos.
Da terra virgem, morena
- índia moça, de candura -
homem rasgou-lhe as entranhas;
brotaram arranha-céus.
Onde existiam fofos capins,
ipês de cabeleiras douradas,
palmeira esguia e sozinha,
altivas guaricangas, guabirobas,
pitangas encarnadas
biris floridos
vestindo de branco as várzeas,
bela e pura açucena,
encontram-se camadas estranhas:
o macadame – esteira dura –
de negras massas coloridas
cobrindo vielas e avenidas.
Ó paulista! Pela tua fé ingente
e perseverante labuta
tudo no Planalto foi mudado.
Da árvore por ti arrancada
sem dó nem piedade
embora tenhas plantado
a mais ciclópica cidade
do Amazônico Continente,
a súplica escuta:
- não quero que o progresso
seja meu eterno verdugo.
Se queres conforto para a família,
fazer de meu ser mobília;
sendo o amigo calado e terso,
sou as tábuas de teu berço;
aparece a locomotiva
para a fornalha ingresso
como ígneo alimento.
Sou o papel que da rotativa
saio levando as notícias;
sou a carta de carícias
que as lágrimas de saudade enxugo.
Para existir o comércio
e sorte tenho
de ser barca, leve lenho
que leva e traz as mercadorias
sobre as moles equórias;
se te enchafurdas na guerra medonha,
fazes-me de tuas armas a coronha,
se queres o calor nos dias de frio
sou o fogo da lareira;
sou também o esquife mortuário
que te acompanha solitário
na jornada derradeira.
Mas, ó homem perverso!
Deixa-me ser tua companheira,
deixa-me viver no teu arranha-céu
agarrada à parede úmida
vivendo da sorte ao léu
qual verde musgo,
que da poesia verde
da verde Natura
é o primeiro verso!
Nesta poesia ele literalmente pronuncia a importância do que agora entendemos como educação ambiental, Alceu nos sinaliza em palavras poéticas a importância do verde no nosso dia-a-dia.
Alceu Maynard Araújo vem a falecer em 1974 e deixou viúva a professora Cecília Macedo de Araújo e os filhos Suzana Marcos, Ricardo.
Bibliografia
Laplantine, F. Aprender Antropologia. São Paulo:Brasiliense, 1988.
Levi-Strauss, Claude - "O Cru e o Cozido". São Paulo, Brasiliense, 1991.
Levi-Strauss, Claude "Pensamento Selvagem". São Paulo, Cia Ed. Nacional, 1962.
Discurso de posse na Academia Paulista de Letras (1965, edição da Academia Paulista de Letras)
Araujo, Alceu Maynard, Cultura Popular Brasileira, Editora: Martins Fontes Folclore