TEORIA LITERÁRIA #001: ESTRUTURA BÁSICA DO SONETO

Por JOÃO BOSCO ROLIM ESMERALDO

Soneto

Etimologia:

Soneto (do Italiano 'sonetto', pequena canção ou, pequeno som) é um tipo de poema de forma fixa, composto por 14 versos. Originalmente composto para ser cantado, como o próprio nome sugere.

Estrutura

Sua estrutura tem 3 formas de distribuição dos versos:

Soneto italiano ou petrarquiano: 2 quartetos ou estrofes de 4 versos e 2 tercetos ou estrofes de 3 versos;

Soneto inglês ou Shakespeariano: três quartetos e um dístico (estrofe de 2 versos;

Soneto monostrófico: O qual apresenta uma única estrofe de 14 versos.

Soneto heptrostrófico: disposto em 2 sétimas ou estrofes de 7 versos.

Quebrando este paradigma, podemos encontrar sonetos com o acréscimo de até 3 versos. Chama-se de estrambote este tipo de acréscimo. Estrambote significa extravagante ou irregular. Quando foge-se à regra dos 14 versos, temos um soneto irregular ou um estrambotto. Podemos encontrar Miguel de Cervantes escrevendo:

Ao TÚMULO DO REI FELIPE II EM SEVILLA

(Miguel de Cervantes)

Voto a Deus que me espanta esta grandeza

e que desse um dobrão por descrevê-la,

porque a quem não surpreende e maravilha

esta máquina insigne, esta riqueza?

Por Jesus Cristo vivo, a cada peça

vale mais de um milhão, e que é mancha

que isto não dure em um século, oh grande Sevilha,

Roma triunfante em ânimo e nobreza!

Apostarei que o anima do morto

por gozar este lugar hoje tem deixado

a glória onde vive eternamente.

Isto ouviu um valentão e disse: "É verdadeiro

quanto diz você, senhor soldado,

E o que disser o contrário, mente."

E depois, incontinente,

calou o chapéu, requereu a espada

olhou de soslaio, fosse e não teve nada.

O soneto deve ter e seguir uma estrutura lógica com começo, meio e fim. No primeiro quarteto, dá-se a introdução e a ideia do conteúdo do soneto. O desenvolvimento da ideia deve seguir através do 2° quarteto e 1° terceto. A conclusão deve ocorrer no último terceto, para que o assunto não fique em suspenso ou inacabado. Ao último verso, cabe a função de fechar o soneto com maestria, sendo por isso chamado de “cave de ouro”.

Métrica:

Quanto ao número de sílabas temos os clássicos alexandrinos, ou seja, dodecassílabos (12 sílabas), mas também encontramos em hepta (7), octo (8), enea (9) deca (10) e undecassílabos (11 sílabas). Pelo bem da estética, deve-se manter a simetria inter versos ou seja, cada verso deve ter a mesma quantidade de sílabas do primeiro.

A contagem de sílabas deve ser feita seguindo o critério da elisão que consiste em considerar como uma única sílaba a elisão ou ligadura de vogal do final de uma palavra com a inicial da seguinte, exceto em caso de palavras craseadas. As sílabas são contadas até a sílaba tônica da última palavra do verso.

Rimas:

As rimas podem ser:

ABBA-CDDC, DED, FEF ou ABAB-CDCD, CEC, FEF ou ainda, referentes aos dois tercetos, EDE, FEF.

Procuremos, sempre que pudermos ornar os sonetos com rimas ricas, evitando sempre as rimas de pé quebrado ou as rimas brancas, ou seja, ausência de rima.

Um recurso muito usado é a criação de neologismos lógicos, quando a palavra não tem rima como é o caso de "Mãe". Mas é um artifício que devemos usar com moderação e como último recurso, sem dele abusarmos.

Prosódia:

Palavra originária do grego 'prosodía' , é o estudo do ritmo, entonação e demais atributos relacionados à fala. A prosódia descreve todas as propriedades sonoras da fala para evitar a silabada, ou seja, a transposição do acento tônico de uma sílaba para outra, caracterizando um erro de prosódia ou silabada.

Devemos procurar construir versos conclusivos, ou seja, com ideias completas, evitando descontinuidade periódica tendo que concluí-las no verso seguinte. Se for um período composto, um período não deve ser quebrado entre versos.

Cada verso deve ser lido ou declamado considerando dois acentos tônicos frasais e esta acentuação deve ser mantida para cada verso do soneto, dando assim, ritmo e elegância em sua leitura ou declamação.

Observe neste exemplo de Bilac que a acentuação frasal ocorre sempre na quarta sílaba do verso. Isto facilita tanto a leitura quanto ao musicista que irá compor a melodia, caso isso ocorra.

OLAVO BILAC

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac

História

Criado no início do século XII, na Sicília, o soneto era cantado na corte de Frederico II Hohenstaufen. Atribui-se a autoria do soneto a Jacopo da Lentini, vulgo Jacopo Notaro, poeta siciliano imperial, surgido como uma letra de música, com melodia diferente para cada estrofe.

Sonetistas clássicos famosos:

Dante Alighiere (Italiano), Miguel de Cervantes (Espanhol), Sá de Miranda e Luís Vaz de Camões (Portuguêse),

Outros grandes sonetistas em língua portuguesa

Augusto dos Anjos, Cláudio Manuel da Costa, Cruz e Souza, Luís Vaz de Camões, Manuel Maria, Du Bocage, Olavo Bilac, Vinícius de Morais, Antero de Quental, etc.

Referências:

Maria Rolim Esmeraldo (minha Mãe) primeira a me ensinar e incentivar a escrever soneto.

José Esmeraldo da Silva (Zé Professor), meu tio, professor e poeta perfeccionista.

Dr. Antônio Marchet Callou (in memoriam), Dentista, Professor e poeta - meu mestre e incentivador.

http://www.sonetos.com.br/escrever.php

http://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto#cite_note-0

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pros%C3%B3dia

Soneto:

MATURA IDADE

Por: João Bosco Rolim Esmeraldo

O tempo passa, e então, voltado à lida

Vejo, sem tempo, a vida despontar;

Passo o tempo todo, sem contar a vida;

Sigo pela vida sem poder contar.

Quando era criança, o tempo não corria

Vivia a correr, e o tempo não passava,

Pura ilusão, a vida transcorria,

Mas o futuro, parece, não chegava.

Sem passatempo, a idade foi chegando;

Quase sem tempo, os dias encolhendo;

Passou-se o tempo, a vida encurtando.

Como desejo, agora, estar revendo;

Como criança, de novo, ir contando;

O tempo em que vou envelhecendo.

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A ALMA DO SONETO

João Bosco Rolim Esmeraldo

Soneto uma composição poética;

Bem no princípio, temos dois quartetos,

Agora e até o fim, são dois tercetos

Estruturas, ideias, rimas, ética*.

É escrito em deca... undeca... dodecassílabos,

ABBA-CDDC, DED, FEF

ABAB-CDCD, CEC, FEF

Mesmo com hepta... octo... eneassílabos

Sem métrica ou rima ou metrificado;

Rimado, invertido, EDE, FEF,

Mas tem elegância, tem significado.

Tem cabeça, corpo, e até esqueleto

Desenvolvido, muito esmerado;

Sendo o último verso, a alma do soneto.

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(*) Ética = regra.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 03/09/2010
Reeditado em 12/06/2017
Código do texto: T2475610
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