A palavra.
Costumo guardar- los, todos os meus livros, desde que iniciei
minha vida de estudante até me formar.Ainda hoje continuo com o mesmo costume.
Tenho todos os meus livros do primário, colegial,
do curso do normal e do curso superior.
sejam eles novos ou velhos.
Folheando, alguns livros da minha coleção encontrei uma gramática,
que estudei na minha primeira série ginasial (língua pátria).
encontrei esse texto muito interessante que me chamou atenção.
Sobre a palavra.
( Texto De Alves Mendes)
A palavra concretiza o pensamento, corporiza a idéia, translada a natureza, compendia o universo.
Tem claridades celestes e profundidade oceânica; é mais leve que o ar e mais irada que a mariposa; é tão diáfana como a gaze e tão sonante como o bronze; cicia como a aura e retumba como o trovão; murmura como o arroio e ruge como a tormenta; prende como o imã e fulmina como o raio; corta como a espada e contunde como a clava; fotografa como o sol e acadinha como o fogo; quase se confunde como o espírito, como a luz com o calor.
A palavra, que traduziu a força da onipotência divina, revela e traduz a máxima força humana. Instrui e constrói, vence e convence,alumina e extasia,move e comove afama e infama,forma reforma e transforma;evangeliza a ciência, que é um prodígio e difunde a religião, que é um milagre.
É quão danosas as graças do dizer!quão admiráveis os prestígios da palavra! ela ostenta a majestade da arquitetura,relevo da escultura, o colorido da pintura, a harmonia da música, o ritmo da poesia; e, sobre tais predicamentos, sobre tantas e tamanhas opulências, acende pela concionatória, acende e faz circular singularmente a paixão,o entusiasmo,a vida,
A palavra florente e florida, imaginosa e varonil, literária e rutilante,vale uma glória, frisa uma cultura,reflete uma civilização.
(discurso pág. 80, 1889)
A ciência Tem nela um escalpêlo, com que faz a autópsia do erro, descarna-o dos sofismas que ocultam e o mostram claramente aqueles que,iludidos por falsas aparências, julgam ver neles a verdade,
És o que é a palavra meu amigo: simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante
do coração, ela pode elevar-se até o fastígio da grandeza humana, e impor leis ao mundo do alto desse trono, que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência.
Assim pois todo o homem escritor, orador,ou poeta, todo o homem que usa da palavra não como meio de comunicação ás sua idéias, mas como um instrumento
de trabalho; todo aquele que fala ou escreve, não por uma necessidade da vida,mas sim para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz da linguagem,não um prazer mas uma bela e nobre profissão, deve estudar e conhecer a fundo a força
e os elementos de sua atividades.
A palavra tem uma arte e uma ciência: como ciência ela exprime o pensamento
com toda a sua fidelidade e singeleza;como arte reveste a idéia de todos os relevos,
de todas as graças,e de todas as formas necessárias para fascinar o espírito.
O mestre, o magistrado, o padre, o historiador no exercício do seu respeitável
sacerdócio da inteligência, da justiça,da religião e da humanidade, devem fazer da palavra uma ciência; mas o poeta e o orador devem ser artistas, e estudar no vocabulário humano todos os seus segredos mais íntimos,como músico que estuda as mais ligeiras vibrações das cordas de seu instrumento, como o pintor que estuda todos
os efeitos da luz nos claros-escuros,
( cartas sobre a confederação dos tamoios, Rio 1856)
(Do livro Língua Pátria curso colegial Literatura portuguesa)