O que é "Literatura"? (II)
Deixando um pouco de lado a tentativa de definir a literatura, uma vez que em outro texto eu já expressei minha opinião de que a literatura é algo difícil de se definir, quero tratar neste texto da importância da literatura. Literatura é mais que mera atividade lúdica, atividade de diletantismo. Literatura é a expressão da alma, dos sentimentos, anseios, angústias e inquietações da alma humana. É, portanto, segundo o crítico literário Antonio Candido, um bem incompressível de todo ser humano, ou seja, um bem essencial à nossa existência como seres humanos, um direito que não pode ser negado.
O acesso à literatura é uma necessidade quase tão essencial ao ser humano quanto a alimentação e a saúde. Existimos sem literatura, mas apenas existimos; sem a literatura, porém, somos incompletos enquanto seres humanos, enquanto seres pensantes. Não se pode negar a nenhum indivíduo o direito de ter acesso à leitura. É um equívoco pensar que muitas pessoas podem viver sem a literatura.
Além disso, é um equívoco pensar também que as pessoas pertencentes às classes humildes não podem se interessar pelos clássicos da literatura, que as pessoas pobres só podem gostar de manifestações culturais populares, tal como o proletariado só pode se interessar por literatura de proletariado. Além de equívoco, é um grande preconceito. As pessoas das classes sociais menos prestigiadas podem também se interessar por Homero, Virgílio, Horácio, Camões, Dante, Cervantes, Machado e outros, não desmerecendo, é claro, as manifestações literárias e culturais populares. Apenas quero dizer que os pobres podem também se interessar pelos clássicos, se a eles forem apresentados e se tiverem acesso ao conhecimento suficiente da norma culta da língua para que possam compreendê-los. Além do mais, nem todas as pessoas pertencentes às classes privilegiadas se interessam sinceramente pelos clássicos. Muitas vezes eles só leem porque tal autor está "na moda", mas na verdade não fazem uma leitura ponderada e reflexiva.
A literatura é um direito inalienável, incompressível, essencial para o desenvolvimento espiritual de todo ser humano.
Obs.: Para uma maior explicação sobre o assunto, ver o texto O Direito à Literatura, de Antonio Candido.