Emprego do Verbo Haver
(no dicionário )
do Lat. habere, ter v. tr., ter; possuir; obter, conseguir; receber, tomar; julgar; conceber, entender; existir; acontecer; ter passado, ter decorrido; v. refl., proceder, comportar-se; s. m., em escrituração mercantil, o lado das contas onde se lançam os pagamentos ou as saídas dos valores; contrapartida do Deve; crédito; (no pl.) bens; (no pl.) fazendas; (no pl.) riquezas; - por bem: dignar-se; — mister: necessitar.
Na gramática de Celso Cunha
O verbo haver, conforme o seu significado, pode empregar-se em todas as pessoas ou apenas na 3ª pessoa do singular.
1. Emprega-se em todas as pessoas:
a) Quando é auxiliar (com sentido equivalente a ter) verbo pessoal, quer junto a particípio, quer junto a infinitivo antecedido da preposição de.
“O tempo que hei sonhado/ Quantos anos foi de vida!” (Fernando Pessoa)
“Haviam decorrido cinco anos sem nos vermos.” (Camilo Castelo Branco)
“Deixe: amanhã hei de acordá-lo a pau de vassoura!” (Machado de Assis)
b) quando é verbo principal, com os significações de “conseguir”, “obter”, “alcançar”,
“adquirir”.
“Donde houveste, ó pélago revolto,/Esse rugido teu?” (Gonçalves Dias)
“Tão nobre és, como os melhores, e rico; porque a ninguém mais que a ti devem de pertencer as terras que teu avô Digo Álvares conquistou ao gentio para El-Rei, de quem as houvemos nós e nossos pais.” (José de Alencar)
c) quando é verbo principal, com a forma reflexa, nas acepções de “portar-se”, “proceder”, “comportar-se”, “conduzir-se”. Exemplos
“Soares houve-se como pôde na singular situação em que se achava.” (Machado de Assis)
“Não vão crer que era pesar nem dor; por ocasião do casamento, houve-se com grande discrição, cuidou do enxoval da noiva e despediu-se dela com muitos beijos chorados.” (Machado de Assis)
d) quando é verbo principal, também com a forma reflexa, no sentido de “entender-se”, “ajustar contas”:
“Dava Belmiro passagem de graça a gente pobre, e se por acaso aparecia valentão no seu trem, teria que se haver com ele.” (José Lins do Rego)
e) quando é verbo principal, acompanhado de infinitivo sem preposição, com sentido equivalente a “ser possível”:
“Não há negá-lo, o apito é de uso geral e comum.” (Machado de Assis)
“Não havia contê-los,” (Euclides da Cunha)
2. É raro nos escritores modernos, mas muito freqüente nos do português antigo e médio, o uso pessoal do verbo haver, como verbo principal, na acepção de:
a) “ter”, “possuir”:
“Hei medo de deixar nome de injusto.” (A. Ferreira)
b) “julgar”, “pensar”, “considerar”, “ter para si”:
“Por bom hei guardar o gado.” (C. Falcão)
3. Comparem-se as expressões:
a) haver por bem = dignar-se, resolver assentar, julgar oportuno ou conveniente:
“Havemos por bem decretar.” (Caldas Aulete)
b) haver mister = precisar, necessitar:
“Ora, o soldado, entre nós, há mister de três benefícios urgentes.”
4. Emprega-se como impessoal, isto é, sem sujeito, quando significa “existir”, ou quando indica tempo decorrido. Nesses casos, em qualquer tempo, conjuga-se tão-somente na 3ª pessoa do singular:
“Havia pitangueiras na praia.” (A. F., Schimidt)
“Há três anos vivemos uma vida horrível.” (Graciliano Ramos)
5. Quando o verbo haver exprime existência e vem acompanhado dos auxiliares ir, dever, poder, etc., a locução assim formada é, naturalmente, impessoal:
“Lá e acolá devia haver terríveis cabeças humanas apontando da água, como repolhos de um canteiro, como moscas grudadas no papel-de-cola.” (Guimarães Rosa)
Distinção essencial
O verbo haver, quando sinônimo de existir, constrói-se de modo diverso deste. Nesta acepção, haver não tem sujeito e é transitivo direto, sendo o seu objeto o nome da coisa existente ou, a substituí-lo, o pronome pessoal o (a, os, as). Existir, ao contrário, é intransitivo e possui sujeito, expresso pelo nome da coisa existente.
Dir-se-á, pois:
Outrora, havia amendoeiras no parque.
Outrora, existiam amendoeiras no parque.
Construção do tipo:
“Houveram muitas lágrimas de alegria.” (Camilo Castelo Branco)
“Ali haviam vários deputados que conversavam de política, e os quais se reuniram a Meneses.” (Machado de Assis)
embora se documentem em alguns dos melhores escritores da língua, especialmente do século passado, não devem ser hoje imitadas.
Há que se votar para presidente
Essa frase não traz nenhum impedimento – ao menos do ponto de vista lingüístico. Muitos evitam o uso do verbo haver com o que, por considerarem espanholismo. Espanholismo que Frei Luís de Sousa usou, que Padre Antônio Vieira usou, que Alexandre Herculano usou, que nós – portanto – podemos também usar:
Uso correto - Sacconi
Há que se promover com urgência o retorno da democracia.
Há que se retomar urgentemente o caminho da competência.
Há que se voltar cereleramente aos quartéis
(Sacconi)
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/
(no dicionário )
do Lat. habere, ter v. tr., ter; possuir; obter, conseguir; receber, tomar; julgar; conceber, entender; existir; acontecer; ter passado, ter decorrido; v. refl., proceder, comportar-se; s. m., em escrituração mercantil, o lado das contas onde se lançam os pagamentos ou as saídas dos valores; contrapartida do Deve; crédito; (no pl.) bens; (no pl.) fazendas; (no pl.) riquezas; - por bem: dignar-se; — mister: necessitar.
Na gramática de Celso Cunha
O verbo haver, conforme o seu significado, pode empregar-se em todas as pessoas ou apenas na 3ª pessoa do singular.
1. Emprega-se em todas as pessoas:
a) Quando é auxiliar (com sentido equivalente a ter) verbo pessoal, quer junto a particípio, quer junto a infinitivo antecedido da preposição de.
“O tempo que hei sonhado/ Quantos anos foi de vida!” (Fernando Pessoa)
“Haviam decorrido cinco anos sem nos vermos.” (Camilo Castelo Branco)
“Deixe: amanhã hei de acordá-lo a pau de vassoura!” (Machado de Assis)
b) quando é verbo principal, com os significações de “conseguir”, “obter”, “alcançar”,
“adquirir”.
“Donde houveste, ó pélago revolto,/Esse rugido teu?” (Gonçalves Dias)
“Tão nobre és, como os melhores, e rico; porque a ninguém mais que a ti devem de pertencer as terras que teu avô Digo Álvares conquistou ao gentio para El-Rei, de quem as houvemos nós e nossos pais.” (José de Alencar)
c) quando é verbo principal, com a forma reflexa, nas acepções de “portar-se”, “proceder”, “comportar-se”, “conduzir-se”. Exemplos
“Soares houve-se como pôde na singular situação em que se achava.” (Machado de Assis)
“Não vão crer que era pesar nem dor; por ocasião do casamento, houve-se com grande discrição, cuidou do enxoval da noiva e despediu-se dela com muitos beijos chorados.” (Machado de Assis)
d) quando é verbo principal, também com a forma reflexa, no sentido de “entender-se”, “ajustar contas”:
“Dava Belmiro passagem de graça a gente pobre, e se por acaso aparecia valentão no seu trem, teria que se haver com ele.” (José Lins do Rego)
e) quando é verbo principal, acompanhado de infinitivo sem preposição, com sentido equivalente a “ser possível”:
“Não há negá-lo, o apito é de uso geral e comum.” (Machado de Assis)
“Não havia contê-los,” (Euclides da Cunha)
2. É raro nos escritores modernos, mas muito freqüente nos do português antigo e médio, o uso pessoal do verbo haver, como verbo principal, na acepção de:
a) “ter”, “possuir”:
“Hei medo de deixar nome de injusto.” (A. Ferreira)
b) “julgar”, “pensar”, “considerar”, “ter para si”:
“Por bom hei guardar o gado.” (C. Falcão)
3. Comparem-se as expressões:
a) haver por bem = dignar-se, resolver assentar, julgar oportuno ou conveniente:
“Havemos por bem decretar.” (Caldas Aulete)
b) haver mister = precisar, necessitar:
“Ora, o soldado, entre nós, há mister de três benefícios urgentes.”
4. Emprega-se como impessoal, isto é, sem sujeito, quando significa “existir”, ou quando indica tempo decorrido. Nesses casos, em qualquer tempo, conjuga-se tão-somente na 3ª pessoa do singular:
“Havia pitangueiras na praia.” (A. F., Schimidt)
“Há três anos vivemos uma vida horrível.” (Graciliano Ramos)
5. Quando o verbo haver exprime existência e vem acompanhado dos auxiliares ir, dever, poder, etc., a locução assim formada é, naturalmente, impessoal:
“Lá e acolá devia haver terríveis cabeças humanas apontando da água, como repolhos de um canteiro, como moscas grudadas no papel-de-cola.” (Guimarães Rosa)
Distinção essencial
O verbo haver, quando sinônimo de existir, constrói-se de modo diverso deste. Nesta acepção, haver não tem sujeito e é transitivo direto, sendo o seu objeto o nome da coisa existente ou, a substituí-lo, o pronome pessoal o (a, os, as). Existir, ao contrário, é intransitivo e possui sujeito, expresso pelo nome da coisa existente.
Dir-se-á, pois:
Outrora, havia amendoeiras no parque.
Outrora, existiam amendoeiras no parque.
Construção do tipo:
“Houveram muitas lágrimas de alegria.” (Camilo Castelo Branco)
“Ali haviam vários deputados que conversavam de política, e os quais se reuniram a Meneses.” (Machado de Assis)
embora se documentem em alguns dos melhores escritores da língua, especialmente do século passado, não devem ser hoje imitadas.
Há que se votar para presidente
Essa frase não traz nenhum impedimento – ao menos do ponto de vista lingüístico. Muitos evitam o uso do verbo haver com o que, por considerarem espanholismo. Espanholismo que Frei Luís de Sousa usou, que Padre Antônio Vieira usou, que Alexandre Herculano usou, que nós – portanto – podemos também usar:
Uso correto - Sacconi
Há que se promover com urgência o retorno da democracia.
Há que se retomar urgentemente o caminho da competência.
Há que se voltar cereleramente aos quartéis
(Sacconi)
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/