Menina dos olhos verdes – Luís Vaz de Camões

É interessante perceber o pensamento na introdução das Voltas no Mote Alheio, pois com os olhos vemos e enxergamos, entretanto a menina não vê nem enxerga o poeta, mesmo esta tendo as condições de ver e enxergar: tem olhos verdes – não precisa necessariamente sê-los – capazes para fazê-lo. Digo-vos isso porque esse é o tema central do poema: a incógnita de a menina poder ver o poema, e não vê-lo.

Na 1ª estrofe das Voltas, o poeta faz a metáfora da esperança aos olhos verdes da menina, porém "nas obras não" (como o poeta explicita no 4º verso), ou seja, os olhos da menina são verdes, o que é fato, mas são verdes também assim como a esperança o é, todavia não a corresponde; a menina não corresponde o poeta porque não o vê, pois ela não o vendo, a única esperança que o poeta alcançaria vendo os olhos verdes, e esperançosos, da menina estará extinta, porquanto sem vê-lo e sem vê-la parecem que não se crêem, apesar de que para ele a menina "(...) não me credes / porque me não vedes".

Nos versos 3 e 4 da 2ª estrofe o trocadilho gracioso de Camões: "olhos verdes"; "verdes olhos". Apesar de os signos estarem opostos entre si nos dois casos, parece que não há diferença no significado, contudo é preciso ficar atento, já que trocando os significantes o significado de um deles muda, pois o "verdes" de "olhos verdes" é o "verde" da cor, enquanto que o "verdes" de "verdes olhos" é o "verde" da esperança, poder-vos-ia dizer-vos que o adjetivo procedendo o substantivo, o significado é concreto, e que o adjetivo precedendo o substantivo, o significado é abstrato – podendo ser metafórico como nesse caso.

Nas 3ª e 4ª estrofes, acho interessante explicitar o jogo que há nelas; na 3ª estrofe o poeta não crê que esses olhos são verdes, mesmo estes tão belos e que não deveriam se esconder, contudo a menina esconde-os, não vendo o poeta cuja crença de os olhos verdes não os serem. Na 4ª estrofe, o poeta não alcança a esperança dos olhos da menina, por isso não são esperançosos; não obstante, diz que "verdes são aqueles / que esperança dão", mas mesmo o poeta desconfiando de os olhos da menina não serem verdes, ele confessa que sente esperança neles e, por conseguinte, finaliza: "Se na condição / está serem verdes, / porque me não vedes?". Devo ainda ressaltar que o final do poema tem a mesma incógnita do Mote alheio da Redondilha; "Menina dos olhos verdes, / por que me não vedes?".

Menina dos olhos verdes

Mote Alheio

Menina dos olhos verdes,

porque me não vedes?

Voltas

Eles verdes são,

e têm por usança

na cor, esperança

e nas obras, não.

Vossa condição

não é d'olhos verdes,

porque me não vedes.

Isenções a molhos

que eles dizem terdes,

não são d'olhos verdes,

nem de verdes olhos.

Sirvo de giolhos,

e vós não me credes

porque me não vedes.

Haviam de ser,

porque possa vê-los,

que uns olhos tão belos

não se hão-de esconder;

Mas fazeis-me crer

que já não são verdes,

porque me não vedes.

Verdes não o são

no que alcanço deles;

verdes são aqueles

que esperança dão.

Se na condição

está serem verdes,

porque me não vedes?

Poeta Lendário
Enviado por Poeta Lendário em 24/04/2010
Reeditado em 11/12/2024
Código do texto: T2217469
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