FIGURAS DE LINGUAGEM
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SINTÁTICAS OU DE CONSTRUÇÃO
 
Compare estas duas maneiras de construir a mesma frase:
=•> Os homens pararam, com o medo no coração.
=•> Os homens pararam, o medo no coração.
Não será necessária muita percepção para chegar-se a conclusão de que a segunda construção é mais concisa e elegante. E por quê? Porque ela se desvia da norma estritamente gramatical para atingir um fim expressivo ou elegante (estilístico). Foi, justamente, com esse intuito que Jorge Amado a redigiu. A essas construções que se afastam das estruturas regulares ou comuns e que visam transmitir à frase, expressividade ou elegância, dá-se o nome defiguras de sintaxe ou de construção. São elas:
 
I - ANACOLUTO (Grego anakólouthon, desacompanhado.)
Ocorre quando a palavra ou as palavras «são jogadas» no início de uma frase sem ter nenhuma relação com as demais. É como se a construção iniciada fosse bruscamente interrompida, para prosseguir de outra maneira, veja:
Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas. (Alcântara Machado)
Temos, nesse exemplo, um caso de anacoluto. «Essas empregadas de hoje», é um termo que não se liga sintaticamente à oração, já que não cumpre nenhuma função sintática, embora esclareça em quem não se pode confiar. O anacoluto desempenha função estilística (elegante) quando empregado com o intuito de atribuir ênfase ao texto. Acompanhe:
=•> E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas, sufocando a tosse.
=•> Eu, que cair não pude neste engano.
=•> Poesia, ninguém gosta de choradeiras poéticas, ora!
 
II - ANÁFORA (Grego anaphorá = repetição)
Também chamada de epanáfora, consiste na repetição de uma ou mais palavrasno princípio de cada um dos membros da oração ou período:
=•> Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só. (Rocha Lima)
Ou a repetição no princípio dos sucessivos seguimentos de versos. Observe a anáfora, nos versos de Manuel Bandeira:
Vi uma estrela tão alta, / Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta! / Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha / Luzindo no fim do dia.
A Epístrofe é a repetição de uma ou mais palavras [no fim]de cada um dos membros da frase:
=•> Gastos largos, esperanças do mundo largas, variedades largas, consciências largas, com apertos e estreitezas se hão de castigar.
A anáfora e a epístrofe eram particularmente queridas do poeta Frederico Augusto, um dos traços mais característicos de seus poemas.
 
III - ASSÍNDETO
É a falta de conjunção entre os elementos coordenados, ou seja, é a eliminação do conetivo. O emprego adequado desta figura comunica ao estilo brevidade e rapidez, cria um efeito de nivelamento:
=•> Espero sejas feliz. (= Espero que sejas feliz.)
=•> Veio à cidade, falou com o gerente, partiu. (e partiu.)
=•> Chegou, viu; gostou, pediu; bebeu, cuspiu; pagou, saiu; tropeçou, caiu; levantou e sumiu. [eliminação do e]
Já o Polissíndeto é a repetição expressiva da conjunção coordenativa. Observe:
=•> Vão chegando as burguesinhas pobres e as crianças das burguesinhas ricas,e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
=•> Trabalha, e teima, e sofre, e lima, e sua! (Olavo Bilac)
 
IV – ELIPSE
É a omissão de um termo ou de uma oração inteira, que facilmente se pode subentender no contexto. É uma espécie de economia de palavras. São comuns as elipses dos pronomes sujeitos, dos verbos e de palavras de ligação (preposições e conjunções). A elipse das conjunções e preposições assegura à frase concisão, leveza e desenvoltura:
=•> Oxalá tenha razão. [elipse da conjunção "que"]
=•> E espero tenha sido a última. [elipse da conjunção "que"]
=•> De mau corvo, mau ovo. [omissão do verbo vir = vem]
=•> João estava com pressa. Preferiu não entrar. [do sujeito ele]
• De belo efeito é a elipse nestes versos de Manuel Bandeira:
Nossa! A poesia morrendo... / O Sol tão claro lá fora.
O sol tão claro, Esmeralda, / E em minha alma – anoitecendo!
Neles temos a elipse do sujeito Senhora em: Nossa [senhora]!
Há várias elipses do verbo estar: O sol [está] - [está] anoitecendo.
Pode ocorrer a elipse total ou parcial de uma oração:
=•> Eu já tinha visto aquela moça, mas não sabia onde. [isto é: mas não sabia onde a tinha visto.]
 
V - HIPÉRBATO (Grego hiperbaton, que ultrapassa, revirado)
O Hipérbato se caracteriza pela «inversão»da ordem natural das palavras na oração, ou da ordem das orações no período. Empregado deliberadamente o hipérbato consiste num recurso lingüístico que visa a preservar ou sugerir a harmonia e a beleza da forma. Usado indevidamente pode gerar ambigüidade ou obscurecimento de sentido, em vez da harmonia e beleza desejadas.
Camões em Os Lusíadas, cVI, est.64 fez o seguinte hipérbato:
O coração no peito que estremece
De quem os olha, se alvoroça e teme.
Embora pareça, à primeira vista, referir-se a oração [que estremece] a peito, na verdade, prende-se a coração. O sentido é esse:
O coração, que estremece no peito
De quem os olha, se alvoroça e treme.
Estas são de Carlos Drummond:
=•> Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.(As belas passeiam na Av. ...)
=•> Passarinho, desisti de ter. (Rubens Braga)
 
VI - ZEUGMA
É a omissão de um termo anteriormente expresso:
=•> vibraram os risos, as impaciências.
Na segunda oração houve a omissão do verbo vibrar, que está oculto, mas pode ser subentendido.
Em geral, nos zeugmas, o termo que sofreu omissão, é uma forma flexionada de um termo que já apareceu. Observe:
=•> “Nem ele entende a nós, nem nós (entendemos) a ele.”(Camões)
Na segunda oração está oculto o verbo entender, porém flexionado, na forma de entendemos.
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Ajudaram na elaboração deste glossário:
Helio Seixas Guimarães, Ana Cecília Lessa - Figuras de Linguagem –– Atual Editora
Rocha Lima – Gramática Normativa da Língua Portuguesa – José Olympio.
Graça Paulino – Literatura Participação & Prazer – Ed. FTD.
Assis Brasil – Vocabulário Técnico de Literatura - Edições de ouro.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.