Guardador de Rebanhos
O "Guardador de Rebanhos" é um poema constituído por 49 textos escritos pelo heterônimo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro em 1914 e Fernando Pessoa atribuiu sua gêneses a uma única noite de insônia de Caeiro.
Vejo no "Guardador de Rebanhos", um Alberto Caeiro, como poeta voltado para a simplicidade e as coisas mais puras. Está sentindo o contato com a natureza,tirando dela os valores ingênuos, os mesmos que alimenta a alma do poeta.
Vejam a seguir os versos:
VI - Pensar em Deus
"Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ..."
Outra parte que me toca é:
"Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!"
"Aqui estou"! Mas, vejo o Caiero na figura bondosa e onipresente do pastor, o seu cajado reflete a força da sua alma em propiciar á segurança para suas ovelhas. Mas, Caiero é além de tudo um cético, que escreve bonito sobre a inexistência de Deus. Veja como ele esnoba poética nestes versos ao se declarar guardador de rebanhos:
"Sou guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca."
Sendo desse modo, o "Guardador de Rebanhos" contém e transmite pensamentos, enovelados em sensações. O tal do rebanho, Caiero, toma como o símbolo da representação do limite da existência humana, naquele ponto em que reside a tão procurada liberdade. Para o Poeta, o que permite nuances do religioso torna-se o mal encarnado no demôniaco. Caiero é a favor do pensar por si, sem a influência pervertida do religioso.
Bibliografia:
O Guardador de Rebanhos
Alberto Caeiro
(heterónimo de Fernando Pessoa)