RETROSPECTIVA DO TEATRO BRASILEIRO
                      Do Quinhentismo ao Romantismo


O Teatro de Gonçalves Dias (1823 – 1864) 
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[•] Gonçalves Dias, artífice do verso, mestre de Olavo Bilac, inclui-se entre os raros exemplos da história do teatro que só receberam a consagração da posterioridade. Na dramaturgia esse fenômeno parece praticamente impossível, porque ou a obra encontra aceitação imediata, ou fica logo na marginalidade, sem ressonância no futuro.
       Nenhuma das quatro peças de Gonçalves foi encenada no Rio ou em São Paulo, enquanto viveu o poeta. Há quem defenda a idéia de que "o poeta de inspiração inesgotável ofuscou o dramaturgo”. 
      Patkull e Beatriz Cenci foram suas primeiras obras teatrais, escritas ao redor de vinte anos, em Coimbra. Devido a pouca experiência do autor com o palco não chegaram nem a ser encenadas. Foram, como se costuma dizer, apenas “teatro de papel”. Eram temas históricos, mas com fontes estrangeiras e, talvez, seja esta a principal razão do desinteresse de um público que almejava a grande exaltação da cor nacional. Além de que eram peças de períodos longos e diálogos monótonos. É importante ressaltar também que a ópera italiana conhecia o seu apogeu, naquele momento. 
       Leonor de Mendonça (1848), vem logo a seguir e é sua melhor obra teatral. Escrita em sua plena juventude. Foi considerada pelo próprio Gonçalves Dias “a expressão do drama moderno”, isso porque ele estava com os olhos fixos na restauração do teatro português, empreendida por seu mestre Garret desde 1838 com Um Auto de Gil Vicente até a publicação da obra prima Frei Luis de Sousa (1843).
      O tema foi emprestado de uma crônica portuguesa arcaica; narra, a tragédia conjugal dos Duques de Bragança, Jaime e Leonor, e a dúvida de D. Jaime acerca da fidelidade da esposa Leonor. A inclinação desta por um corajoso jovem da sua corte, Alcoforado, afeto que, embora não adulterino, suscitou o ciúme do Duque e o assassínio dos supostos amantes.  A ação se desenvolve em três atos, mas com quebra da unidade de lugar. A prosa romântica dialoga o tempo inteiro com o modelo shakespeariano de tragédia, onde prosa e verso se revezariam segundo o tom e o ritmo dos afetos que movem as personagens. O Duque é um novo Otelo, enfurecido, impiedoso, que deseja executar a sua vingança a qualquer custo. A diferença é que Otelo é ciumento porque ama; D. Jaime porque tem orgulho de sua nobreza. As duas histórias se fundem de tal maneira que alguns diálogos parecem pertencer a um só texto. 
       Cabe lembrar a consciência que tinha o jovem dramaturgo do sentido moderno que deveria conotar a presença do destino na estrutura do teatro romântico. Diz ele, no prólogo, explicando a fatalidade em Leonor de Mendonça:
 
               "Não aquela fatalidade implacável que perseguiu a família dos
          Atridas, nem aquela outra cega e terrível que Werner descreve no 
         seu drama 24 de Fevereiro. É a fatalidade cá da terra a que eu quis
         descrever, aquela fatalidade que nada tem de Deus e tudo dos 
         homens, que é filha das circunstâncias e que emana toda de nossos 
         hábitos de civilização; aquela fatalidade, enfim, que faz com que um
         homem pratique tal crime porque vive em tal tempo, nestas ou 
         naquelas circunstâncias." 

       Aí está a consciência do novo, do não mais clássico. Experiência que Gonçalves Dias não realizou, mas que está plenamente no âmbito do ideal romântico de criar um gênero superior à tragédia e à comédia tradicional, e que a ambos abrace: o drama.
      Sintoma das novas predileções á a sofrível peça, “opera em dois atos", O Primo da Califórnia, de Macedo, , levada à cena com grande êxito.


José de Alencar Dramaturgo (1829 – 1877)
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• De todo o tempo que José de Alencar escreveu, apenas entre os seus 28 e 32 anos, ou seja, de 1857 e 1860, dedicou-se ao teatro.
• Estréia em 28 de outubro de 1857, no Teatro Ginásio Dramático, com a comédia Verso e Reverso, peça ligeira na qual focaliza o Rio de Janeiro de sua época.
• O Teatro realista teve como base de seu desenvolvimento o "Ginásio Dramático" e serviu de transição do Teatro Romântico para o Teatro Naturalista.
• Sua segunda peça O Demônio Familiar, é uma comédia, onde os vaivens da intriga são obra de um escravo, Pedro, o demônio familiar, moleque atrevido e ambicioso, pivô dos embaraços de uma família “de bem”. No último ato, o moleque é alforriado para que, fora da irresponsabilidade em que vivera como escravo, possa escolher honradamente seu caminho. Diz-lhe o senhor:
Toma: é tua carta de liberdade, ele será a tua punição de hoje em
diante, porque as tuas faltas recairão unicamente sobre ti; porque a
moral e a lei te pedirão uma conta severa de tuas ações. Livre, sentirás
a necessidade de trabalho honesto e apreciarás os nobres sentimentos
que hoje não compreendes.
• Esta era a intenção de Alencar ao redigir a comédia. Porém, o que ficou foi a figura do moleque irrecuperável: Pedro apenas mudará de senhor, realizando seu sonho dourado – ser cocheiro de um rico major, função que lhe permitirá gracejar com desprezo os cocheiros de aluguel. Ficou o estereótipo, vivo na cultura escravocrata brasileira, do negrinho maroto, astuto, no fundo cínico por incapacidade de coerência moral.
• As Asas de Um Anjo, apresentada no ano seguinte, foi proibida pela censura, pois tratava-se de um tema muito ousado: a reabilitação pelo amor da mulher culpada. Com As Asas de Um Anjo, apresentava Alencar um dos maiores vícios do teatro realista, que é a substituição da psicologia pela moral.
• O Jesuíta foi a última peça que escreveu, destinava-se, a pedido de João Caetano, a “solenizar a grande festa nacional no dia 7 de setembro de 1861”. Mas, João Caetano desistiu de apresentar o drama, após alguns ensaios. Só em 1875 o público pôde assisti-la, porém foi um fracasso total. Era uma peça histórica onde se misturam o amor, o mistério e a luta pela independência.
• José de Alencar acusa o público do desinteresse pela produção nacional. Numa cidade de quase trezentos mil habitantes, pouco mais de cem compareceram, o que, certamente causou o baixo desempenho em cena. ® ____________________________
Ajudaram na elaboração deste texto:
• História do Teatro Brasileiro, de Carlos Mendonça.
• O Teatro no Brasil, de Múcio da Paixão.
• Panorama do Teatro Brasileiro, de Sábato Magaldi.
• História concisa da Literatura Brasileira, Alfredo Bosi
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário.