Bella e Edward: Charlotte e Werther do séc. XXI?
 
Crepúsculo, de Stephenie Meyer, como Werther (primeira obra do Romantismo), de Goethe, tem todos os componentes de uma história de amor romântica, a começar pelo local, Forks, uma cidadezinha fria, nebulosa, chuvosa, onde o sol raramente aparece, um lugar de “sombras melancólicas”. Eu diria um cenário cinza e misterioso.
 
Em Crepúsculo, Stephenie criou, como o fez Johan Wolfgang Goethe em Werther, um casal que vive um amor impossível.
 
Em uma rápida análise, encontrei semelhanças nos protagonistas que encheram de sonhos os corações de tantos jovens no séc. XVIII, e os que foram criados no séc. XXI.
 
Isabella, que prefere ser chamada de Bella, não sente medo de seu amado vampiro, pelo contrário, sente por ele irresistível atração. Mesmo sabendo que seu amor é impossível, apaixona-se “incondicional e irrevogavelmente por ele”.
 
Bella “com pele de marfim”, “quase translúcida” (mesmo vivendo em uma cidade ensolarada), pálida, doentia, desajeitada, desprotegida, é uma personagem bem ao gosto dos escritores e dos leitores românticos.

 

Edward, o vampiro, que arranca profundos suspiros de mulheres de todas as idades, um jovem de eternos 17 anos, é o protótipo personagem masculino romântico. Com um tipo como ele sonham as jovens desde imemoráveis tempos. O menino que “não namora”, cujos olhos mudam de cor, conforme seu estado de espírito, “bem-comportado e educado”, rodeado de mistério, aguça a fantasia das meninas. Além disso, é um verdadeiro super-herói: forte, veloz, lê os pensamentos dos humanos, com “sentidos a mais”, de uma beleza “absolutamente surreal”, capaz de ações sobrenaturais e inumanas (no que me lembra Peri, de O Guarani, de José de Alencar), faz tudo com perfeição, toca piano admiravelmente bem, compõe uma canção para a amada, salva sua vida e tira-a das garras do vampiro mau.
 
O vampiro Edward, que se apaixona por uma jovem humana, atraindo-a irremediavelmente, com sua voz “musical”, que, para não maltratá-la, sacia sua fome (sede) com o sangue dos animais, que a protege dia e noite, para que nada de mal lhe aconteça, como a fraca donzela que é, cativa as mulheres.
 
Guardando-se as proporções e a época, existe hoje uma comoção em relação à saga Crepúsculo, que me lembrou da que aconteceu com Werther: inúmeros jovens começaram a se vestir como os protagonistas, e até se suicidaram, o que fez governos tirarem o livro de circulação.
 
O interesse que a saga desperta demonstra que, embora no séc. XXI, na era da informação rápida do computador e do celular, o romantismo continua muito vivo.
 

Imagens: Google


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