TEORIA LITERÁRIA CLÁSSICA ROMANA (PLAUTO E A AULULARIA)
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Aulularia de Plauto - 3 estudos e resumo
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Mariza Mencalha de Souza (UFRJ)
Resumo:
Apresentação da vida e obra do comediógrafo latino Plauto. Destaque de alguns aspectos da comédia Aululária, sobretudo de seus personagens e enredo.Resumo dos atos e cenas da peça.
PALAVRAS-CHAVE: Plauto; Aululária; Euclião.
PLAUTO: VIDA E OBRA
Plauto nasceu em Sársina, na Úmbria, provavelmente em 254 a.C., e morreu em 184 a.C., data esta apresentada por Cícero no Brutus (15, 60) e aceita pela maioria dos especialistas modernos que se dedicaram ao estudo da vida e obra do comediógrafo latino. Provinha de família modesta, mas não sabemos ao certo se era livre ou escravo liberto, embora a primeira hipótese seja apontada pela crítica como a mais plausível.
Sua língua materna era o umbro, mesclado talvez de elementos célticos, mas conhecia o grego e tinha grande domínio do latim, adquirido, para alguns, na Úmbria latinizada e, para outros, em Roma, para onde supõem ter ido bem jovem.
Chegando à Urbe, ingressou, informa Aulo Gélio, numa companhia teatral, tornando-se algum tempo depois senhor de uma boa fortuna, perdida no comércio marítimo e nas viagens empreendidas pelo Mediterrâneo.
Arruinado, teve de voltar a Roma e sujeitar-se ao duro trabalho de moleiro, para garantir o seu sustento. Entre um intervalo e outro da penosa profissão, compôs as comédias Saturio, Addictus e uma terceira, hoje desconhecida. As três peças, já revelando o gênio do poeta, fizeram grande sucesso e, desde então, permitiram a Plauto refazer a vida e dar a ela um novo rumo.
A partir daí, a fama e a popularidade do dramaturgo viriam a crescer cada vez mais. Isto é comprovado não só pela audiência que tiveram suas futuras comédias junto ao público, mas também pelo próprio fato de circularem e serem representadas após sua morte dezenas de peças com seu nome, tidas mais tarde como apócrifas ou duvidosas.
Era um total de 130 comédias. Varrão, todavia, analisando e comparando o estilo e a língua empregados nessas peças, chegou à conclusão de que apenas vinte e uma delas eram plautinas.
Desse grupo das comédias autênticas, conhecidas como Varronianae, chegaram até nós alguns fragmentos da Vidularia e as vinte peças seguintes: Amphitruo, Asinaria, Aulularia, Bacchides, Captiui, Casina, Cistellaria, Curculio, Epidicus, Menaechmi, Mercator, Miles gloriosus, Mostellaria, Persa, Poenulus, Pseudolus, Rudens, Stichus, Trinummus e Truculentus.
Nada existe de seguro quanto ao ano de representação dessas obras. Com exceção do Stichus e do Pseudolus, encenados, respectivamente, conforme suas didascálias, em 200 e 191 a.C., as demais peças possuem datas aproximadas, algumas ainda incertas e controversas, outras aceitas sem muita polêmica e coincidentes entre si na opinião de vários críticos.
Plauto estreou no teatro cômico, a julgar pela data da comédia mais antiga, fixada em torno de 215 a.C., aos quarenta anos, e somente o abandonou aos setenta, quando, por volta de 185 a.C., levou ao palco a Casina, considerada pela crítica como sua última peça.
Nos seus prováveis trinta anos de carreira, Plauto dedicou-se apenas à comédia. Seu período de maior produção literária ocorreu por volta de 204-194 a.C., portanto, entre os seus cinqüenta e sessenta anos de idade.
Antes de abraçar a profissão de comediógrafo, atuou como palhaço em algumas farsas atelanas e exerceu alguns papéis em mimos, experiência que deixou profundas marcas em seu teatro.
Viveu de sua arte e para ela, exercendo, a um só tempo, o papel de diretor de companhia teatral, empresário, ator, autor e editor das próprias peças. Atuou como personagem em algumas de suas comédias e dedicou-se inteiramente à composição da palliata, gênero de temas e personagens gregos.
A palliata de Plauto foi grandemente elogiada por Varrão, Cícero e Élio Estilão, e atravessou os séculos, despertando o interesse de comediógrafos e estudiosos de várias épocas.
APRESENTAÇÃO DA AULULARIA
Personagens
Os personagens que se envolvem diretamente na trama da peça, contracenando ou não com o protagonista Euclião (gr. eû-kléos, boa fama ou eu-kleío, aquele que esconde), seguem abaixo relacionados, com seus nomes, traços e papéis.
a) Licônides (gr. Lykonídes, de lúkon eîdos, semelhante ao lobo): é o jovem galã da peça. Aparece somente no final do enredo, para confessar o mal que fizera a Fedra. Apesar de sua personalidade fraca e de sua estroinice, é um bom rapaz.
b) Fedra (gr. Phaîdra, brilhante, termo associado, sem dúvida, à beleza física da moça): filha de Euclião. Jovem engravidada por Licônides na festa de Ceres. Será prometida em casamento a Megadoro. Só aparece na peça para dar à luz e conhecer o pai de seu filho. O traço mais marcante de seu caráter é a religiosidade.
c) Estáfila (gr. staphyle, cacho de uva madura, denominação que condiz com seu gosto pelo vinho): criada de Euclião. Exerce na peça o papel de confidente de Fedra e compartilha do drama da moça até o fim. É zombeteira, porém dedicada ao seu amo.
d) Congrião (gr. góggrion, côngrio, peixe intruso, imagem, possivelmente, aproveitada por Plauto para destacar esse traço do caráter de Congrião): um dos cozinheiros contratados por Megadoro para preparar o banquete de suas núpcias com Fedra. É intrometido e tem fama de ladrão.
e) Megadoro (gr. méga dôron, grande dom, generoso): irmão de Eunômia e tio de Licônides. Velho solteirão e rico, que se notabiliza pela generosidade e caráter zombeteiro.
f) Eunômia (gr. Eunomía, boa ordem, nome mítico de uma das três Horas que controlavam as estações do ano e as portas do céu): mãe de Licônides. Representa, juntamente com o irmão, um legítimo símbolo da “burguesia” romana. Suas qualidades mais notáveis são a serenidade, a discrição e o bom senso.
g) Estróbilo (gr. Stróbilos, rodopiante como um pião, nome que sugere o estado em que fica pelo seu hábito de tomar vinho): participa da peça como escravo, ora de Megadoro, ora de Licônides. À semelhança de Estáfila, é também zombeteiro e dedicado.
Enredo
A Aulularia (= marmita) é considerada uma comédia de intriga e de caráter. Como comédia de intriga, apresenta duas ações: uma voltada para as peripécias e confusões de Euclião, surgidas depois de ele haver encontrado, na lareira de sua casa, uma marmita cheia de ouro; outra, centrada na história de amor de sua filha, grávida de Licônides, e que será pedida em casamento por Megadoro, sem que este e seu futuro sogro saibam da gravidez da moça.
Os dois enredos, com predominância do primeiro, são independentes um do outro, mas encontram-se entrelaçados, uma vez que seus principais incidentes, o roubo da marmita e a confissão de Licônides, vão se combinar, no fim da história, para solucionar o problema de Euclião, de sua filha e do rapaz que, com a ajuda da mãe, levará o tio a desistir do casamento.
Nesse momento, já ciente do drama dos dois jovens e da desistência de Megadoro, Euclião concede Fedra em casamento a Licônides e dá ao casal a marmita recuperada.
Este final feliz, mostrando o desprendimento do protagonista, não consta da Aulularia. É de autoria de Codro Urceo, um latinista do século XV, que refez o último ato, com base nos argumentos, no prólogo e no IV fragmento da peça, a qual chegou até nós com o referido ato incompleto, contendo apenas fragmentos de sete versos.
Como comédia de caráter, a peça converge para um outro centro de interesse: a avareza de Euclião, tema em torno do qual gravitam as preocupações e temores do velho avarento, bem como suas manias e suspeitas infundadas.
Aqui o objetivo de Plauto é outro: pintar Euclião como uma figura ridícula e um pobre diabo que ficou transtornado com a súbita descoberta de um tesouro.
Modelos do avarento
O tema da avareza já havia sido tratado por Menandro nas comédias Hydría, Epitrépontes, Thesaurós e talvez em outras, mas é impossível precisar em qual dessas obras Plauto se inspirou para criar seu personagem, visto que Euclião possui traços de todos os avarentos presentes nessas peças.
Além disso, não está descartada aqui a hipótese de ser a Aulularia resultado da contaminatio, processo a que recorreram Plauto e outros cômicos latinos para fundir duas ou mais peças numa só.
Cronologia
O ano de representação da Aulularia também é incerto, contudo os estudiosos da peça costumam datá-la entre 195 e 186 a.C., fazendo-a coincidir com o período de maturidade artística de Plauto.
Episódios tirados da peça, como as desordens no culto de Baco (v. 408), a repressão ao luxo das mulheres (v. 503-504) e outros, têm sido freqüentemente comparados com referências históricas, para explicar sua cronologia.
Estrutura
Apesar de ser mais rica em partes faladas e recitadas, a Aulularia é constituída também de alguns cantos líricos, encontrados, por exemplo, no diálogo entre Eunômia e Megadoro (v. 120-160), no monólogo de Congrião (v. 406-413) e, sobretudo, na célebre cena em que Euclião lamenta o roubo de sua marmita (v. 713-726).
Influências
A Aulularia serviu de modelo a diversos escritores: a um autor anônimo do Baixo Império Romano inspirou a composição do Querolus (séc. V d. C.); a Gelli, a peça La sporta (1543); a Molière, a famosa comédia L’avare (1667).
Entre nós, sua influência também se faz notar na obra O santo e a porca (1964) de Ariano Suassuna, a qual motivou o estudo comparativo feito pelo Professor Paulo Roberto Guapiassú, em sua Tese de Doutorado, intitulada A marmita e a porca: a presença plautiniana na comédia nordestina (UFRJ, 1980).
Resumo da obra
Após os dois argumentos, vem o prólogo, no qual o deus Lar se apresenta como protetor da família de Euclião desde o tempo de seu avô, contando como este lhe confiou um tesouro de ouro e por que fez com que Euclião o reencontrasse. Aqui, o deus destaca, sobretudo, a avareza de Euclião.
Na primeira cena do primeiro ato, há um diálogo entre Euclião, o velho avarento, e sua criada Estáfila. Euclião, com medo de que Estáfila saiba que ele possui uma marmita com ouro, põe-se a agredi-la, tanto física como verbalmente, fazendo-lhe terríveis ameaças.
Em seguida vem o monólogo de Estáfila, centrado, de um lado, na sua perplexidade diante do comportamento insano de seu amo. De outro, em sua preocupação por não saber como ocultar de Euclião a gravidez e a iminência do parto de sua filha Fedra.
Na segunda (ou terceira) cena, fazendo-se passar por homem pobre, Euclião dirige-se à cúria para buscar as moedas de prata que lhe foram reservadas. Antes de sair de casa, o velho avarento constata que seu ouro está em segurança. Mas ainda assim, atormentado e desconfiado, faz diversas recomendações a Estáfila, advertindo-lhe que não permita a entrada de estranhos em casa, durante sua ausência.
Na primeira cena do segundo ato, há um diálogo entre dois irmãos: Megadoro e Eunômia. Preocupada com o irmão, homem de idade madura, Eunômia aconselha-o a se casar e a ter filhos. Para tanto, arranja-lhe uma mulher um pouco mais velha que ele, possuidora, porém, de grande dote. Megadoro, contudo, recusa a proposta da irmã, preferindo contrair matrimônio com uma mulher pobre. Alegando ser suficientemente rico e querendo evitar os inconvenientes que traz o casamento com uma mulher rica, escolhe para esposa a jovem filha de Euclião, vizinho tido por todos como homem pobre e avarento.
Na segunda cena, Euclião volta da cúria de mãos vazias e decepcionado, pois o tão esperado dinheiro não fora distribuído. No caminho para casa, encontra Megadoro, que vem cumprimentá-lo. Desconfiando do vizinho e fingindo-se de pobre, começa a se lamentar da sua vida miserável e do fato de ter uma filha sem dote, para a qual afirma não conseguir casamento. Megadoro então se propõe a ajudá-lo, pedindo-lhe a mão de Fedra. Depois de muita relutância, embora receoso ainda de que o vizinho estivesse cobiçando seu tesouro, Euclião acaba por aceitar-lhe a proposta. Megadoro, mais que depressa, dá início aos preparativos para a festa de suas núpcias.
Na terceira cena, Euclião resolve ir ao foro, mas antes de sair, ordena à sua criada que limpe toda a casa para o casamento da filha com Megadoro. Recomenda-lhe também manter tudo trancado, enquanto ele estiver ausente. Estáfila, por sua vez, surpresa com a rapidez do casamento de Fedra, fica preocupada com a possibilidade de a gravidez da moça vir a ser descoberta pelo pai.
Na quarta cena, após fazer as compras com Megadoro, Estróbilo, atendendo às ordens de seu amo, reserva metade da comida, um magro cordeiro, um cozinheiro (Congrião) e uma flautista (Elêusia) para a casa de Euclião. Um dos serviçais, Ântrax, fica espantado ao saber que o velho Euclião não gastou sequer um asse com as despesas para a festa de casamento da própria filha. E a partir desse episódio, Estróbilo passa a contar uma série de outras histórias, ridicularizando o comportamento mesquinho de Euclião.
Na quinta cena, Estróbilo vai à casa de Euclião e deixa com sua criada a comida, o cozinheiro e a flautista que lhe foram destinados por Megadoro.
Na sexta cena, Pitódico, chefe da cozinha, manda os serviçais da casa de Euclião iniciar os preparativos para o banquete de casamento. Depois, volta à casa de Megadoro para inspecionar o serviço dos outros cozinheiros e põe-se a imaginar como vigiá-los sem grande esforço.
Na sétima cena, Euclião vai ao mercado fazer compras para as núpcias de sua filha, mas não traz nada consigo, por achar tudo muito caro. Alegando não ter dinheiro, compra apenas um grão de incenso e uma coroa de flores. Aproximando-se de casa, nota que a porta está aberta e que há barulho e estranhos no interior de sua residência. Fica logo sobressaltado, imaginando que invasores estão roubando seu ouro. Apavorado, correndo de um lado para o outro, suplica a ajuda de Apolo e pede-lhe que dê cabo dos supostos ladrões.
Na oitava cena, na casa de Megadoro, Ântrax distribui as tarefas entre Dromão e Maquerião. Logo depois, dirige-se à casa de Euclião para pedir uma forma de pão emprestada. Lá, percebe uma grande gritaria, mas não consegue atinar com o que está acontecendo.
Na primeira cena do terceiro ato, o velho avarento espanca violentamente Congrião e seus companheiros que se encontravam em sua casa preparando o banquete de casamento. O cozinheiro sai dali correndo, açoitado por Euclião. Apavorado, pede a ajuda de todos para que o livre de tão humilhante flagelo, prometendo reagir contra a arbitrariedade do velho.
Na segunda cena, num longo diálogo, carregado de ameaças e insultos de parte a parte, Euclião acusa Congrião e seus companheiros de haver invadido sua casa e vasculhado seus quartos. Congrião, por sua vez, procura se defender, tentando convencê-lo de sua inocência e alegando ter entrado em sua casa na condição de cozinheiro e não de ladrão.
Na terceira cena, receoso de que pudessem roubar sua marmita com ouro, Euclião resolve retirá-la de casa e passa a levá-la consigo por toda parte. Por fim, já aliviado, acaba por consentir que os serviçais prossigam em seu trabalho e sai com seu tesouro escondido sob as vestes.
Na quarta cena, Euclião põe-se a pensar no mau negócio que empreendeu ao envolver-se com Megadoro numa aliança que, segundo ele, quase o levou a perder o ouro.
Na quinta cena, Megadoro põe-se a refletir sobre os problemas e conflitos existentes no casamento realizado com mulheres portadoras de dote. Em sua opinião, se os homens ricos se casassem com moças pobres, desprovidas de dote, tais problemas seriam amenizados e, conseqüentemente, a vida conjugal tornar-se-ia mais harmoniosa, e as mulheres, menos perdulárias. Além disso, as esposas ficariam mais submissas aos seus maridos e seriam mais virtuosas. Daí haver Megadoro escolhido para esposa a filha de Euclião, o qual tudo ouve sem ser notado, aprovando fascinado a parcimônia do futuro genro.
Na sexta cena, Megadoro chega-se para Euclião e sugere-lhe apresentar-se mais elegante nas núpcias de sua filha. Este, por sua vez, tenta se esquivar de tal proposta, alegando ser um homem pobre e de origem modesta.
Após defender-se das acusações feitas por Euclião, Megadoro o convida para tomar vinho. Desconfiado de que este pretende embebedá-lo para roubar-lhe o ouro, Euclião recusa o convite, resolvendo tomar apenas água.
Na primeira cena do quarto ato, Estróbilo descreve como deve comportar-se o bom escravo para servir ao seu amo com eficiência, rapidez e lealdade. Por isso, atendendo à ordem de Licônides, resolve sentar-se junto ao altar para inteirar-se do que se passa entre o tio Megadoro e Fedra.
Na segunda cena, Euclião resolve esconder sua marmita no templo da Boa Fé, recomendando à deusa guardar segredo e zelar pela segurança de seu ouro. Contudo, parecendo não confiar inteiramente na deusa, ele se afasta de seu altar, suplicando-lhe ainda que ela lhe permita retirar dali seu tesouro, são e salvo. Estróbilo, que se encontra próximo do local, ouve as preces de Euclião e corre logo para o interior do templo, em busca do ouro.
Na terceira cena, mal sai do templo, Euclião ouve um corvo crocitar e ciscar o chão à sua esquerda. Tem o pressentimento então de que seu ouro corre perigo. Tomado de pavor, resolve voltar ao templo.
Na quarta cena, no interior do templo, Euclião depara-se com Estróbilo e, suspeitando de que sua marmita se encontra em poder do escravo, passa a revistá-lo, exigindo que este a devolva. Põe-se então a espancá-lo e a dirigir-lhe ameaças e insultos. Depois de constatar a inocência do escravo, Euclião resolve expulsá-lo dali. Supondo haver um outro suspeito a quem imagina ser comparsa de Estróbilo, ele sai em seu encalço, ameaçando estrangulá-lo.
Na quinta cena, acompanhando os movimentos de Euclião, que deixa o templo levando a marmita, Estróbilo, de olho em seu tesouro, promete preparar-lhe uma armadilha.
Na sexta cena, decepcionado com a traição da Boa Fé, Euclião retira o tesouro de seu templo para escondê-lo no bosque de Silvano, certo de que agora, guardado em local ermo e inacessível, ele estaria mais seguro. Estróbilo, todavia, descobre o novo plano do velho e, radiante de alegria, chega antes de Euclião às imediações do bosque, para observar, de cima de uma árvore, onde o ouro será escondido.
Na sétima cena, Licônides conta à sua mãe que desonrou, sob o efeito do vinho, a filha de Euclião. Logo que Eunômia ouve os gritos das dores do parto da moça, atendendo ao pedido do filho, procura seu irmão Megadoro para conversar com ele sobre o assunto e pedir-lhe que renuncie ao casamento. Enquanto isso, o rapaz põe-se a procurar pelo seu servo Estróbilo. Não o encontrando, entra para saber o desfecho de sua história.
Na oitava cena, enfim, com a marmita na mão e orgulhoso de si mesmo, Estróbilo dá pulos de alegria, contando em detalhes como conseguiu realizar a façanha de surrupiar o tesouro de Euclião. Tão logo percebe que este se aproxima, sai para esconder o ouro em sua casa.
Na nona cena, Euclião entra em pânico quando finalmente dá pela falta de sua marmita e, desesperado, dirige-se à platéia, na esperança de recuperar seu tesouro. Contudo, notando que ali ninguém sabe de seu paradeiro, perde a vontade de viver. Licônides chega em seguida e, ignorando o que se passa, apavora-se quando vê Euclião aflito, supondo que o velho já sabe que a filha deu à luz.
Na décima cena, Licônides procura Euclião para pedir-lhe perdão pela má ação cometida. Julgando que o rapaz estava falando do roubo de sua marmita, e não da desonra da filha, o velho põe-se a acusá-lo e a ameaçá-lo, exigindo-lhe seu tesouro de volta. Com muito custo, Licônides consegue provar sua inocência e desfazer o mal-entendido, revelando-lhe enfim a má ação praticada e pedindo-lhe a filha em casamento. Sai em seguida à procura de seu escravo Estróbilo, mas promete a Euclião devolver-lhe a marmita, caso venha a descobri-la.
Na primeira cena do quinto ato, Estróbilo vai imediatamente contar a Licônides que furtou a marmita de Euclião e pede-lhe que o liberte. O rapaz, entretanto, conforme prometeu ao sogro, cumpre sua palavra, obrigando o escravo a devolver-lhe o ouro.
O final da peça perdeu-se, restando apenas fragmentos de sete versos.
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<!--[if !supportFootnotes]-->
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> trabalho apresentado no VIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA (I Congresso Internacional de Estudos Filológicos e Lingüísticos), promovido pelo CiFEFiL no Instituto de Letras da UERJ, em agosto de 2004.