Teoria literária e século 21:como reunir palavras? Barthes, Heidegger e Marcelo Roque

Glória Kreinz

O filósofo alemão Martin Heidegger escreveu uma ótima obra para a Teoria Literária.No livro A Caminho da Linguagem, Petrópolis, RJ; Vozes,2003, pergunta: onde encontramos a fala da linguagem?

Diz ainda que "o verso evoca o entre, o meio reunidor, em cuja intimidade os gestos das coisas e a doação do mundo se dimensionam entre si" (Heidegger; 2003,21). Discute aquilo que simplifico como o lugar ENTRE palavras, que provoca a magia da poesia.

Este meio reunidor é um dos elementos básicos para se pensar Uma Nova Teoria da Literatura e da Comunicação e também para se aproximar de fatos e acontecimentos ao nosso redor, dificilmente explicáveis em suas múltiplas dimensões de sentido.

Cito como exemplo, quando Marcelo Roque, poeta do Orkut da equipe do NJR/ECA/USP diz, na poesia O SER E O ESTAR:

A poesia é o poeta,

mas o poeta,

não é a poesia.

O que está mostrando neste momento é a fala da linguagem se tornando a fala do mundo. A forma como as palavras são agrupadas é que vai dar um brilho especial a elas, e conferir o que Heidegger considerava a revelação poética.

A linguagem se apropria de forma empírica dos acontecimentos que estão no mundo, ao nosso redor, estabelecendo diferenças e transformando, muitas vezes, o indizível em dizível.

Vale lembrar que Heidegger trabalha os versos de Novalis, sobretudo no capítulo que interroga O Caminho para a Linguagem, no livro traduzido para a língua portuguesa, em 2003, com o título de A Caminho da Linguagem, pela editora Vozes, que citei, procurando como elas, as palavras, se juntam...O lugar ENTRE elas...

No início do capítulo citado Heidegger escreve: "Escutemos, para começar, algumas palavras de Novalis. Elas se encontram num texto chamado Monólogo. O título acena para o mistério da linguagem: a linguagem fala unicamente e solitariamente consigo mesma.

"Uma frase do texto diz: ‘Precisamente o próprio da linguagem, ou seja, o fato de apenas concernir a si mesma, isso ninguém conhece’" (Heidegger; 2003, 191). A proposta do filósofo alemão diz respeito ao que é silenciado, mas transparece no fazer poético.

REDENÇÃO

Para a palavra,

o verso,

nada mais é,

que a sua redenção

Marcelo Roque

E assim entendemos a comunicação e a teoria da literatura no século 21.Palavras reunidas em redenção...Mas vem de Heidegger, que chamava de revelação...

Quando fui aluna de Roland Barthes, em Paris, ele insistia muito em revelar a polissemia das palavras. Tratava cada palavra com um amor especial, retirando todos os significados que ela pudesse conter.

Juntando os conceitos de Barthes e Heidegger, só podemos concluir que palavras, quando reunidas, nos revelam o mundo mágico do fazer literário.O atrito entre elas é o momento que diferencia o cotidiano do artístico. Cabe a nós, escritores, pensar a melhor maneira de fazer este acontecimento/reunião acontecer...