ÉDIPO REI
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Édipo Rei
(Tragédia de Sófocles, autor clássico que viveu de 496 a 406 a.C.)
Composta por Sófocles, em data ignorada, e particularmente admirada por Aristóteles em sua "Poética", esta obra-prima da tragédia grega, ilustra a impotência humana diante do destino.
A estória começa quando Édipo, príncipe de Corinto, é insultado por um bêbado, que o acusa de ser filho ilegítimo do Rei Políbios. Embora Políbios procure tranqüilizar Édipo, o príncipe, perturbado, recorre ao Oráculo de Píton, mais tarde conhecido como Delfos. O oráculo evita responder à sua dúvida, mas dá a terrível informação de que Édipo está destinado a matar o pai e casar-se com a mãe. Como Édipo não tem a menor intenção de deixar que isso aconteça, ele foge de Corinto e vai para Tebas. E aí começa a tragédia.
Em uma encruzilhada, Édipo depara-se com uma carruagem. À frente vem o arauto, que ordena rudemente a Édipo que se afaste e tenta empurrá-lo para fora da estrada. O príncipe começa uma briga e termina matando todo mundo que nela se envolve. Para sua desgraça, um dos homens que vinha na carruagem era seu pai verdadeiro, o rei Laios de Tebas. Após resolver o enigma da esfinge e salvar Tebas desse flagelo, Édipo é proclamado rei e casa-se com a viúva de Laios, Jocasta, sua mãe verdadeira. Só depois que uma nova maldição cai sobre Tebas – maldição que seria afastada apenas quando o assassino de Laios fosse descoberto e expulso – é que os fatos vêm à tona. Édipo não consegue suportar a verdade e arranca os próprios olhos.
Antes que Édipo tomasse a decisão de fugir da profecia do oráculo, Laios, sua vítima já tinha cometido o mesmo engano. Apolo havia advertido Laios de que seu próprio filho o mataria e, quando Édipo nasceu, o rei mandou perfurar com um cravo um dos pés da criança e abandoná-la em uma montanha. Mas o menino foi encontrado por um pastor e levado ao rei Políbios, que o adotou. Essa foi a origem da confusão de Édipo e foi daí que veio seu nome: "oidípous" significa "pé inflamado"
Fonte: http://www.geocities.com/Athens/4539/edipo.html
Édipo e o Ciclo Tebano
O ciclo de mitos que tratam das sortes da cidade de Tebas e sua família real é certamente tão antigo quanto as estórias que compõem a Ilíada e a Odisséia, mas chega até nós através de fontes muito posteriores. Enquanto a fundação de Tebas é principalmente conhecida a partir de autores romanos como o poeta Ovidio, as estórias de Penteu e Édipo são contadas pelos dramaturgos atenienses, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
Cadmo e a Fundação de Tebas
Cadmo era um dos três filhos de Agenor, rei de Tiro, na margem oriental do Mediterrâneo. A irmã deles, a linda Europa, estava brincando na praia quando foi levada através do mar por Zeus, na forma de um touro, até Creta. Agenor disse a seus filhos que encontrassem a irmã e que não voltassem sem ela. No decorrer de suas perambulações, Cadmo chegou em Delfos, onde o oráculo o avisou que uma vaca o encontraria ao deixar o santuário; foi instruído a fundar uma cidade onde a vaca finalmente parasse. O animal o levou ao local da futura Tebas. Quando a vaca se deitou para repousar, Cadmo percebeu que este era o local para a sua cidade e decidiu sacrificá-la aos deuses. Precisando de água, mandou seus ajudantes buscá-la em uma fonte próxima, a Fonte de Ares. A lagoa da fonte, entretanto, estava guardada por uma ameaçadora serpente, que atacou e matou todos os homens de Cadmo. Quando Cadmo veio a procura destes, encontrou apenas fragmentos de membros e o grande monstro saciado. Mesmo estando só e levemente armado, conseguiu subjugar a serpente e, a seguir, aconselhado por Atena, semeou os dentes do animal no solo. Deles surgiu um grupo de guerreiros, armados com espadas e lanças. Teriam atacado Cadmo, se este não tivesse tido a idéia de lançar uma grande pedra no meio deles; assim, começaram a atacar uns aos outros, parando apenas quando restavam apenas cinco deles; estes cinco se juntaram a Cadmo e se tornaram os fundadores das cinco grandes famílias de Tebas.
A cidade de Cadmo rapidamente tornou-se rica e poderosa, e seu fundador prosperou com ela. Casou-se com Harmonia, a filha de Ares e Afrodite, e tiveram quatro filhas, Ino, Autônoe, Agave e Sêmele, e um filho, Polidoro. Estes por sua vez também tiveram seus filhos. Autônoe era a mãe de Actéon, o grande caçador morto pelos seus próprios cães de caça quando Ártemis o transformou em veado como punição por tê-la visto nua. A linda Sêmele foi seduzida por Zeus e ficou grávida de seu filho, o deus do vinho Dionisio. A esposa divina de Zeus, Hera, estava com ciúmes e astutamente sugeriu a Sêmele que pedisse a Zeus que surgisse para ela na forma que tinha aparecido para Hera. Como Sêmele tinha feito Zeus prometer cumprir qualquer pedido que fizesse, foi obrigado a se revelar como um relâmpago, o que a queimou viva. Zeus retirou a criança do útero de Sêmele e a implantou em sua própria coxa, da qual a criança acabou nascendo no tempo devido.
A família de Sêmele se recusava a acreditar que Zeus fosse o responsável pela condição dela, ou sua morte. À medida que o culto de Dionisio espalhou-se pela Grécia, ocorreu com muito entusiasmo e pouca resistência, salvo em Tebas, onde o primo de Dionisio, Penteu, filho de Agave, recusava-se a aceitá-lo.
Penteu
A característica principal do culto de Dionisio nos tempos clássicos era a formação de grupos de mulheres conhecidas como Mênades; vagavam por dias a fio pelas áreas das montanhas, num transe ou frenesi, bebendo vinho, alimentando filhotes de animais, ou despedaçando-os e comendo-os, encantando serpentes e de uma maneira geral se portando de maneira selvagem. Devido a estes aspectos semelhantes a orgias e também pelos principais seguidores serem mulheres, a adoração de Dionisio era vista com desconfiança pelas autoridades masculinas, que gostavam de manter as mulheres em casa e sob o seu controle. A tragédia de Eurípedes, As Bacantes, mostram um caso extremo de festividade de Dionisio e suspeitas masculinas. Nesta peça, o próprio Dionisio vem a Tebas, determinado a punir a família de sua mãe por sua falta de fé, tanto nas suas irmãs como nele próprio. As mulheres de Tebas, incluindo as irmãs de Sêmele, seguem entusiasmadas o deus; no correr da festa, altos brados erguem-se do Monte Citéron devido as brincadeiras. Penteu, o senhor de Tebas, considera seu primo de longos cabelos e modos afeminados com razoável desconfiança, mas, como deus gradualmente o acaba deixando maluco, confessa seu desejo de ir à montanha e espionar as Mênades. Então, Dionisio o leva lá, e quando se aproximam das mulheres, os deuses curvam um alto pinheiro para que Penteu se alojasse no topo e pudesse ver tudo que desejasse. Como seria previsível, torna-se um alvo fácil para as Mênades, que derrubaram as árvores e o despedaçaram com as próprias mãos. Entre elas está, principalmente, Agave, a própria mãe de Penteu, que retorna triunfalmente a Tebas ostentando a cabeça do próprio filho, acreditando ser esta a cabeça de um jovem leão. Ao final da peça, acaba por perceber o que tinha feito, e todas admitem o poder do deus.
A Casa de Édipo
Édipo, o trineto de Cadmo, é hoje talvez o herói grego mais famoso depois de Hércules; ele é famoso por ter resolvido o enigma da Esfinge, mas ainda mais notório por sua relação incestuosa com sua mãe. Na antiga Grécia era famoso por ambos os episódios, mas o maior significado era como o modelo do herói trágico, cuja estória incluía os sofrimentos universais da ignorância humana - a falta da compreensão da pessoa sobre quem ela é sua cegueira em face do destino.
Édipo nasceu em Tebas, filho de Laio, o rei, e sua esposa Jocasta. Devido ao oráculo ter predito que Laio encontraria a morte nas mãos de seu próprio filho, o jovem Édipo foi entregue a um pastor do Monte Citéron, com os tornozelos perfurados de modo que não pudesse se mover. Esta foi a origem de seu nome que significa "pé inchado". Entretanto, o bom pastor não conseguia abandonar a criança, entregando-a então a outro pastor do lado oposto da montanha. Este pastor, por sua vez, levou a criança a Pólibo, rei de Corinto, o qual não tendo filhos, ficou feliz em criar o menino como sendo seu filho. Enquanto Édipo crescia, era ameaçado com comentários sobre não ser filho legítimo de Pólibo; apesar de Pólibo ter lhe assegurado que o era, Édipo decidiu-se finalmente a viajar para Delfos e consultar o oráculo. O oráculo não revelou quem eram seus pais verdadeiros, mas contou-lhe que estava destinado a matar seu pai e casar com sua mãe. Horrorizado, e tão chocado que esqueceu completamente suas próprias dúvidas sobre seus pais, deixou Delfos resolvido a nunca mais retornar a Corinto, onde viviam Pólibo e sua esposa.
Desconhecido para Édipo, seu pai verdadeiro Laio estava também viajando nas redondezas de Delfos. Num local onde três estradas se encontravam, Édipo se viu ao lado da carruagem de Laio; um membro da escolta de Laio ordenou rudemente que Édipo saísse do caminho, e este, sem disposição para obedecer, vociferou de volta. Ao passar a carruagem, o próprio Laio golpeou Édipo com um bastão e este respondeu derrubando Laio do veículo e o matando. Esqueceu, então, o incidente e continuou o seu caminho.
Voltando as costas a Corinto, acabou chegando em Tebas, a cidade de Laio, a qual estava sendo aterrorizada pela Esfinge, um monstro parte leão alado, parte mulher, que fazia uma pergunta que confundia: "O que é que anda com quatro pernas, duas pernas e três pernas?" Aqueles que tentaram e falharam em solucionar a charada eram jogados pela Esfinge num precipício, cujo fundo estava literalmente tomado por ossos das vítimas. Quando a morte de Laio se tornou conhecida em Tebas, o trono e a mão da rainha de Laio foram oferecidos ao homem que pudesse solucionar a charada e livrar a região da terrível Esfinge. Para Édipo a charada não ofereceu problema; rapidamente identificou seu sujeito como um "homem, que como um bebe engatinha de quatro, acaba crescendo e andando em duas pernas e com a idade necessita do suporte de uma terceira perna, uma bengala". Quando a Esfinge escutou esta resposta, ficou tão enraivecida e mortificada que se jogou no precipício causando sua morte.
Os cidadãos de Tebas receberam Édipo com deferência e o fizeram seu rei; casou-se com Jocasta e por muitos anos viveram em perfeita felicidade e harmonia. Édipo mostrou-se um governante sábio e benevolente, Jocasta deu-lhe dois filhos, Etéocles e Polínece, e duas filhas, Antígona e Ismênia. Eventualmente, entretanto, outra praga se abateu sobre a região de Tebas, e é neste ponto que começa a grande tragédia de Sófocles, Édipo Rei. A colheita estava morrendo nos campos e hortas, os animais estavam improdutivos, as crianças doentes e os bebês em gestação definhavam, enquanto os deuses estavam surdos a todos os apelos. Creonte, irmão de Jocasta, retornou de sua consulta ao Oráculo de Delfos, que ordenava que a maldição seria levantada apenas quando o assassino de Laio fosse trazido a justiça. Édipo, imediatamente e de maneira enérgica, tomou a tarefa de encontrá-lo, e como primeiro passo consultou o profeta cego Tirésias. Tirésias reluta em revelar a identidade do assassino, mas é levado gradualmente a se enfurecer pelas insinuações de Édipo sobre ter algo a ver com a morte. Acaba revelando que o próprio Édipo é o pecador que trouxe a maldição sobre a cidade; também profetiza que Édipo, que se considera tão inteligente e de visão larga, se recusará a aceitar a verdade de suas palavras, se recusará a reconhecer quem realmente é e o que tinha feito.
Édipo, enraivecido, suspeita que seu cunhado Creonte está mancomunado com Tirésias para assumir o trono; Creonte também nada pode dizer para acalmá-lo. Jocasta tenta acalmar a situação: é impossível que Édipo tenha morto Laio, diz ela, pois este foi morto numa encruzilhada de três estradas. Subitamente Édipo lembra seu encontro casual com um homem velho perto de Delfos; questionando Jocasta sobre a aparência de Laio (estranhamente, se parecia com o próprio Édipo) e o número de elementos na sua escolta, percebe que Laio foi provavelmente a sua vítima. Enquanto espera pela confirmação de um elemento da escolta que retornava a Tebas, um mensageiro chega de Corinto com a notícia que Pólibo tinha morrido de morte natural; Édipo, ainda não suspeitando de toda a extensão de seu crime, fica feliz por aparentemente ter se livrado de pelo menos uma parte da profecia do oráculo, mas resolve ter cautela antes que acabe se casando com sua mãe.
O mensageiro bem intencionado, ansioso em confortá-lo, assegura a Édipo que Pólibo e sua esposa não eram seus pais; o próprio mensageiro tinha recebido Édipo, então um bebê, das mãos de outro pastor do Monte Citéron e o entregou a Pólibo. Mesmo agora Édipo não consegue fazer a correta conexão, e enquanto a aterrorizada Jocasta tenta em vão persuadi-lo a parar a investigação, persiste nos seus esforços para chegar ao fundo do mistério e ordena que o pastor de Laio, agora um velho, seja trazido a sua presença. Por uma casualidade do destino, este homem é também a única testemunha ainda viva da morte de Laio. Quando finalmente aparece, o completo horror da situação finalmente chega a Édipo; o homem admite que tomou o filho de Laio e com pena o entregou ao pastor de Pólibo, ao invés de o deixar morrer. Esta criança era Édipo, que agora tinha sucedido seu pai no trono e no leito.
Jocasta não esperou pelo desfecho; tinha ido antes de Édipo para o palácio, e quando a seguiu, com o que parecia uma intenção assassina, descobriu que tinha se enforcado. Arrancando os broches de ouro do vestido dela, golpeia seguidamente seus olhos com eles, até que o sangue corra pela sua face. Como pode olhar para o mundo, agora que consegue ver a verdade? O coro da peça mostra a moral da estória: por mais seguro que um homem possa se sentir, mesmo sendo rico, poderoso e afortunado, ninguém pode se sentir seguro de escapar de um desastre; não é seguro chamar qualquer pessoa de feliz deste lado do túmulo.
Apesar de Ter solicitado a Creonte um banimento imediato, não foi permitido a Édipo partir de Tebas por vários anos, até que sua punição tivesse sido confirmada por um oráculo. Na ocasião em que foi mandado embora, estava muito menos ansioso para partir. Agora já um velho, estava condenado a vagar de lugar em lugar, pedindo comida e abrigo, suas passadas cegas guiadas por suas filhas Antígona e Ismênia. Apesar de elas trazerem algum conforto e alegria para ele, seus filhos, Polínice e Etéocles, estavam cada vez mais afastados dele, de seu tio Creonte e um do outro. Tinha sido combinado que se alternariam no governo, um ano para cada um, mas, quando o primeiro ano de Etéocles terminou, este se recusou a entregar o trono a seu irmão. Polínice se refugiou em Argos, onde agrupou a sua volta uma equipe de seis outros campeões, com os quais se propôs a sitiar sua cidade natal. É esta a situação no início da obra Édipo em Colona, de Sófocles, quando Édipo, chegando ao fim de sua vida, chega aos olivais de Colona, um distrito nos arredores de Atenas.
Ajudado por Antígona, Édipo se refugia num altar para aguardar a chegada de Teseu, rei de Atenas, quando Ismênia chega com notícias de Tebas. As facções rivais dos irmãos ficam a cada dia mais nervosas, e um oráculo se pronunciou dizendo que o lado que conseguisse o apoio de Édipo seria o vencedor. Édipo, igualmente irritado com Creonte e com seus dois filhos, está seguro que não apoiará qualquer um dos lados; podem lutar entre si, esperando que destruam um ao outro no processo. Quando Teseu chega, portanto, Édipo solicita que lhe seja permitido terminar seus dias em Atenas. Teseu escuta com atenção seu pedido e oferece a Édipo um local mais confortável, mas Édipo deseja permanecer no local onde está. Surge então Creonte, determinado a fazer Édipo acompanhá-lo de volta a Tebas, mas apenas à fronteira da cidade, de modo a ainda evitar a maldição de ter Édipo realmente no solo Tebano, para manter sua facção protegida de sua proximidade. Quando Édipo recusa a pretensão de amizade e rejeita a oferta imediatamente, Creonte se torna violento e ameaça levar Édipo a força; já tinha capturado Ismênia, e agora seus soldados tinham levado Antígona para muito longe de seu indefeso pai.
Teseu, retornando bem a tempo de evitar que Édipo seja retirado de seu altar, critica asperamente as ações de Creonte e promete devolver as filhas a Édipo; ordena que Creonte volte a Tebas. Chega então Polínice, juntamente com uma razão política para desejar a proteção de seu pai, o qual tinha ajudado a expulsar de Tebas; também é rejeitado, e Édipo anuncia sua intenção de permanecer em Colona até o fim de seus dias. A peça termina de maneira dramática: após Édipo desaparecer no arvoredo sagrado, um mensageiro emerge para contar seu fim miraculoso, testemunhado apenas por Teseu. Édipo, anuncia-se, tinha transferido as bênçãos que poderia ter dado a Creonte ou Polínice para Atenas, a qual seria daí em diante protegida por sua presença.
O ataque a Tebas feito por Polínice e seus aliados é o assunto da peça Sete contra Tebas, de Ésquilo. Sete campeões lideraram o ataque nos sete portões de Tebas, calhando a Polínice tomar o portão defendido por seu irmão Etéocles. Apesar dos tebanos finalmente repelirem o ataque sobre sua cidade, os dois irmãos morrem pelas espadas um do outro, cumprindo assim a praga de seu pai e prosseguindo a triste saga da casa de Édipo.
A ação dramática de Antígona de Sófocles começa neste ponto da estória. Com os dois herdeiros masculinos de Édipo mortos, Creonte assume o título de rei de Tebas. Decreta que, enquanto Etéocles devesse ser sepultado com toda a cerimônia, o traidor Polínice deveria ser deixado no local onde tombou, para ter seu corpo destruído pelos cães e pássaros predadores. Creonte mandou montar guarda ao lado do corpo para certificar-se que seu édito seria cumprido; logo seus soldados retornariam com Antígona, que tinha sido apanhada atirando punhados de terra sobre os restos desfigurados de seu irmão, num esforço de fornecer-lhe um sepultamento simbólico. Quando desafiada quanto a sua desobediência, replicou que as leis dos deuses, que dizem que os parentes sejam sepultados, são irrevogáveis e imutáveis, devendo ter precedência sobre a lei dos homens. Na sua Antígona, Sófocles utiliza o mito para explorar este conflito entre a lei humana e a divina: o que uma pessoa comum deve fazer quando duas destas leis entram em conflito? Apesar de, por fim, a resposta parecer ser que a lei divina deve ser obedecida a qualquer custo, esta conclusão não é de nenhuma forma evidente no início. Enquanto Antígona é mostrada como uma mulher forte e pouco feminina que não está feliz me permanecer no reino feminino tradicional do lar, mas aventura-se desafiando as leis de seu guardião masculino, Creonte aparece inicialmente como um homem que tenta fazer o máximo para governar a cidade pela regra do rei.
Quando Antígona não mostra qualquer remorso por seu crime, Creonte ordena que seja sepultada viva, um método cruel de execução calculado para absolvê-lo de responsabilidade direta pela morte. Neste ponto o noivo de Antígona, Hêmon filho de Creonte, vem a Creonte pedir pela sua vida, argumentando que a punição é bárbara e politicamente ruim, pois Antígona tem grande possibilidade de tornar-se heroína entre o povo de Tebas. Creonte, entretanto, permanece inflexível, como as árvores que não se curvarão frente corrente nas margens de um rio alagado, ou o marinheiro que não retirará suas velas antes da borrasca; assim, dá instruções para que a punição prossiga. Apenas quando aparece o profeta Tirésias, e revela a zanga dos deuses e a terrível punição que se abaterá sobre Creonte se persistir nesta ação, é que Creonte finalmente aceita o conselho e liberta Antígona da prisão. Nesciamente, como resultante, detém-se enquanto ia ao sepultamento de Etéocles e apenas chega ao túmulo para encontrar Hêmon segurando o corpo de Antígona - tinha se enforcado em sua cinta. Hêmon então volta sua espada contra seu próprio peito. Creonte retorna a sua casa recebendo a notícia que sua esposa Eurídice tinha se suicidado, amaldiçoando seu marido no seu leito de morte. Esmagado pela tragédia que o tinha atingido de maneira tão súbita, Creonte é conduzido para longe, deixando o coro refletindo sobre o fato da maior parte da felicidade ser a sabedoria, em conjunto com a devida reverência aos deuses.
Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/edipo.htm
Rei Édipo: culpa e existência
Prof.ª Dr.ª Gilda Naécia Maciel de Barros, FE-USP.
Não foi sem razão que Aristóteles, na Poética, ao estabelecer os princípios de uma teoria da tragédia, considerou o Rei Édipo uma peça exemplar. Todavia, o caráter paradigmático deste texto parece-nos ultrapassar as exigências formais da teoria aristotélica para se impor a nós, ainda hoje, como obra de valor perene e sempre atual. De fato, no teatro sofocleano experimentamos a especial sensação de nos colocar diante de nós próprios, no desafio que representa o fato de existirmos e, de existindo, assumir a decisão de escolher o sentido de ser.
E, sob este aspecto, entre todas as tragédias sofocleanas se adianta o Rei Édipo, obra das mais bem acabadas da literatura grega, na forma e no conteúdo, onde a arte de Sófocles parece haver alcançado o mais alto ponto de sua maestria.
Múltiplos são os ângulos dos quais se poderia examinar este texto, cuja complexidade favorece estudos de caráter literário, religioso, sociológico, antropológico, jurídico, e, por que não lembrar? - também psicanalítico, ou detetivesco! Realmente, para os profissionais simpáticos à explicação do homem, com algum matiz freudiano, ou, ainda, para os apaixonados pelo conto policial, a leitura do Rei Édipo é de primeira linha.
Entretanto, a nenhuma outra área da reflexão humana esta obra serve tão bem quanto à da educação e da filosofia. E por que? Porque levanta, entre muitas outras, esta problemática vital: a de ser, de existir no mundo. Rei Édipo trata de um tema do qual o homem, em época alguma, desde que conserve a sua humanidade, pode fugir.
O Rei Édipo é uma tragédia da existência. E se é uma tragédia da existência, por que não se pode considerá-lo também uma tragédia da culpa? Culpa e existência mostram-se inseparáveis e, nos termos da irracionalidade de ser, o homem deve pagar por sua individualização. Ora, esta culpa de ser, Édipo a traduz muito bem. Na versão de Sófocles, funesta maldição pesa sobre o herói; o que a justifica? Na linguagem da consciência mítica, de onde Sófocles foi colher os elementos do drama, realmente nada. É o absolutamente gratuito. Simplesmente Édipo não deve nascer. Não há qualquer ato pessoal de desmedida ou impiedade que justifique a sua desdita; esta reside na sua existência mesma. Um oráculo de Apolo predissera a Laio, rei de Tebas, que, se tivesse um filho, ele seria o matador de seu pai e marido de sua própria mãe.
Na lógica do mito, a única esperança para a criança que nasceu é a morte, caso contrário só lhe resta realizar tão infeliz destino. E outra não é a escolha de Jocasta, a mãe acuada e aterrorizada diante do aviso profético e inflexível. Mas Jocasta comete um erro vital, delegando a um servo de confiança a desumana matéria de matar o filho. A piedade perdeu Édipo, que o criado salvou da morte, para manter vivo, a despeito do oráculo. E este mesmo oráculo, que não mudou, ao Édipo jovem, filho adotivo da casa real de Corinto, repete a mesma sentença que outrora proferira a Laio, o pai.
E agora, Édipo, como agir? Como viver carregando o peso de tão terrível desgraça? Que sentido atribuir à existência, de antemão condenada a crimes nefandos? Viver para realizá-los? E como viver, sem cumpri-los?
Na montagem do drama, Sófocles recolhe e reúne vários elementos de uma tradição bem anterior a ele, tradição mítico-mágica em que as esferas do ser e do valer estão monisticamente confundidas. De fato, no pensamento arcaico, o erro moral comunica ao mundo físico uma espécie de poluição contaminadora; a natureza toda reflete as conseqüências do mal. Não é noutro sentido a advertência do poeta Hesíodo; a cidade inteira paga as faltas de um só, pois as colheitas fenecem, as mulheres mostram-se estéreis, a fome e a peste aniquilam inúmeras vidas e Zeus retira sua proteção aos exércitos e aos homens no mar. Esta poluição natural estende-se à descendência do homem ímpio, cujos filhos já nascem marcados pelo mal; herdeiros da culpa, eles pagam, como lembra o poeta Sólon, pelos erros dos pais; a divindade, inexorável, cobra, na pessoa de inocentes, a expiação.
Pela lei da antiga fé, os deuses assumem a tarefa de punir o homicídio de uma criatura do mesmo sangue do criminoso. As Eríneas, em especial, perseguem o matador de forma incansável e aterradora, até a compensação da falta e a subseqüente purificação. Enquanto tal não ocorre, o homicida impune carrega um miasma e comunica esta mácula aos descendentes, além de atrair, contra a cidade em que habita, a cólera divina.
Pois bem, Édipo é uma figura claramente moldada nesse esquema de crenças da tradição religiosa arcaica. Sem o saber, já homem feito, é ele o ímpio contaminador de Tebas. Uma peste funesta enluta a cidade. E, de novo, o oráculo délfico se faz ouvir: um homicida polui a terra de Cadmo; urge descobri-lo, afastando, com ele, o mal. E a quem cabe esta tarefa? Ao rei que, outrora, libertou Tebas das garras da esfinge, decifrando-lhe os enigmas. E, quem é o rei? Édipo, que fugira de Corinto temendo a sentença pítica, e que, numa encruzilhada de três caminhos, acidentalmente, assinara o rei de Tebas, Laio, seu pai, e os homens de sua comitiva, ignorando-lhes a identidade, e que, chegando a Tebas, por livrá-la do monstro, desposara em recompensa a rainha, Jocasta, sua mãe.
Em nenhuma outra peça sofocleana a ironia trágica se propõe com tanta finura, exacerbando o sentimento de piedade e temor que a leitura do texto provoca, como se para a catarse dessas paixões não bastasse a dramática situação do próprio Édipo. Apenas a título de um pálido exemplo (não nos interessa aqui um estudo literário do drama), vejam-se estas palavras do sacerdote ao rei, no prólogo:
"Tu, o melhor dos homens, conduz, de novo, o governo da cidade, com segurança, mas pensa que, se hoje esta terra te aclama como seu salvador, porque com ela te preocupaste, faz com que não tenhamos de recordar, mais tarde, o teu governo, como uma época em que nos erguemos muito alto, para depois cairmos no mais profundo mal". (Rei Édipo in Antígona, Ájax, Rei Édipo, trad. de Antônio Manuel Couto Viana, ed. Verbo).
Para salvar Tebas, Édipo deve encontrar o assassino de Laio, devolvendo, assim, à cidade a paz e prosperidade perdidas. Ao fazê-lo, porém, irá provocar justamente a desgraça que procurara evitar. Na verdade, a maior ironia da trama está no fato de Édipo procurar, com empenho e perseverança sem limites, um assassino que é ele próprio. Considere-se o duplo sentido desta fala de Édipo, referindo-se a Laio:
"Eu, que detenho agora o poder que a ele pertenceu; que durmo na sua cama, e fecundo a mulher que foi sua e lhe devia dar filhos, se a sua má fortuna não tivesse caído sobre a cabeça dela; por todas estas razões, eu, como se de meu próprio pai se tratasse, por ele lutarei e chegarei tão longe quanto me for possível, tentando deitar mão ao responsável pela morte do filho de Lábdaco, da linhagem de Polidero e para mais além de Cadmo e, antes, ainda, de Agenor".
Há nesta peça muitos outros momentos de alta tensão em que a ironia não deixa de colaborar ainda mais para carregar nos efeitos dramáticos do texto, manifestando-se na ambigüidade das palavras e nas intervenções de certos personagens. Neste último caso, quem fala julga que vai trazer tranqüilidade ao espírito angustiado de Édipo, libertando-o de seus temores (assassinato do pai e casamento com a mãe), mas o resultado é justamente o oposto, e o herói se vê mais perturbado ainda e preso nas malhas da fatalidade.
Não é difícil reconhecer a presença da fatalidade no Rei Édipo. Ela está ligada a todos os elementos da religião arcaica anteriormente apontados, mas o que melhor a define é a idéia de uma culpa objetiva desabando sobre o herói de forma irracional. Essa idéia garantiu por muito tempo na Grécia os fundamentos do direito de punir; ela pode explicar a estranha prática judicial que, submetendo a julgamento animais e objetos inanimados responsáveis, acidentalmente, pela morte de alguém, marcava-os com um miasma contaminador. Por esta mesma idéia se pode entender também a força da justiça gentílica, na qual uma família inteira respondia pelo crime de um membro seu ou assumia o papel de vingadora da morte de qualquer de seus filhos. Foi com a descoberta da pessoa humana e a sua progressiva valorização que as bases religiosas da justiça foram cedendo lugar à idéia de individualização do crime e da pena e que o conceito de culpa objetiva foi reavaliado em função dos elementos íntimos da moralidade.
Embora, como vemos, o texto em questão se alimente da mais legítima tradição da mentalidade mítica, todavia, vai muito além dela. No cerne de uma visão monística e totalizante do homem e do universo que o rodeia, Sófocles descobre o indivíduo e uma força nova - a vontade - pela qual o homem se separa do mundo, instituindo-se como o organizador de uma ordem da qual pretende ser, ele próprio, o fundamento. Problematizada, a existência mostra-se como um irracional imponderável a que o querer e o saber humanos dão combate e aspiram vencer. E nada melhor para traduzir este irracional do que a idéia de Fatalidade, ou para ser mais preciso, de um destino (Moira) inexorável que está acima do homem, que o acompanha a cada passo e que, por fim, o faz sucumbir. Todavia, no momento em que o homem questiona este imponderável e lhe opõe a resistência de seu querer, ainda que o de um querer marcado pela fragilidade de sua própria condição, neste momento, a presença da fatalidade passa a ser uma presença dramática e do mais alto significado ético.
Não nos parece ser outro o sentido do Rei Édipo. Nele, correm paralelas a força do irracional, consubstanciada na figura mítica da Moira, e a da obstinada autodeterminação de seu personagem principal, Édipo. E, num jogo de ambigüidades, a manifestação de uma se revela a realização da outra. De fato, Édipo fugira de Corinto por acreditar que conseguiria elidir o decreto pítico. Mas em Corinto viviam seus pais adotivos, e a fuga apenas o leva ao encontro de suas vítimas, Laio e Jocasta. E o herói sofocleano, que julga estar se afastando a cada passo de seu cruel destino, a cada passo mais se aproxima da consumação desse mesmo destino.
Vemos, entretanto, na pertinaz fuga de Édipo um ato de liberdade, pois outro não é o significado de uma vontade que aspira a transcender o dado e a ele se impor. Assim, também, vemos na persistente e corajosa investigação de Édipo, na qualidade de rei de Tebas, na busca do ímpio poluidor, mais um exercício de liberdade. Reconhecemos na audácia e firmeza de Édipo ao levar o inquérito até o final, ainda quando lhe parece claro que o processo de busca do assassino de Laio se confunde com o processo de busca de sua própria identidade, mais uma autêntica profissão de fé no homem. É com impiedosa obstinação que Édipo, sem mais esperanças de que a desgraça não desabe sobre sua cabeça, constrange com firmeza o criado do palácio a revelar a sua origem. "Ai de mim", diz o fiel servo de Jocasta, "cheguei ao ponto mais terrível do que terei de dizer!". "E eu", retruca Édipo, "do que terei de ouvir. Mas há que ouvi-lo".
A única forma de Édipo recobrar a dignidade como homem é desvelar o segredo de sua origem, sem o que, para ele, a existência permanecerá sempre um enigma, desprovida de qualquer sentido. Aqui aparência e realidade se reúnem para dar a nota mais alta da tragédia. Realmente, quanto mais Édipo se aproxima da verdade, de seu próprio ser, mais próxima se faz a sua destruição. E quanta grandeza se descobre nesta figura aniquilada pelo sofrimento que exclama, agora conhecedora de toda a verdade: "Ai, ai! Era tudo certo e tudo se cumpriu. Ó luz! Vejo-te, hoje, pela última vez!, que hoje se revela que nasci de quem não devia; daqueles cuja convivência devia ter evitado; matador de quem não podia matar".
Parricida e réu de incesto, é no momento de sua maior grandeza que este homem sofre golpe tão inominável! Não foi noutro sentido a profecia de Tirésias, o adivinho: "O dia de hoje te fará nascer, e te matará".
"Era tudo certo e tudo se cumpriu", diz Édipo. De novo parece vitoriosa a força do irracional. Mas que importam êxito e fracasso diante de uma consciência que luta? O homem que uma só vez acreditou em si próprio é, já, um vencedor. Édipo não é uma vítima do destino, passiva e desesperadora, mas uma vítima que contra o inexorável reuniu e opôs todas as suas forças. E, como tal, não pode ser um derrotado. Entretanto, para tão funesta desgraça a morte é quase nada. Viver, sim, assumindo com coragem a própria condição, ainda que vergonhosa, é, ainda, apostar no homem. Aceitar a existência, agora condenada à solidão, ao exílio e à impiedade, mas sem ver, estampado no olhar de seus semelhantes, o horror a um ímpio contaminado, agente da poluição. Daí, de novo, na manifestação de um querer personalíssimo, a autopunição:
"Apolo. Foi Apolo, amigos, e o que me culminou dos mais horríveis, dos mais horrorosos sofrimentos. mas estes olhos vazios não são obra dele, mas obra minha. Que desgraçado sou! Que poderia eu querer ver, ainda, se nada mais existe que possa trazer alegria aos meus olhos?"
Numa outra peça de Sófocles, Édipo em Colona, reencontramos Édipo, agora em busca de um local de repouso definitivo, à espera da morte. Ele já cumpriu a sua pena, peregrinando, sem família e sem amigos; na solidão, o tempo amadureceu a sua dor, mas como os anos vieram também a sabedoria e uma profunda paz. O Édipo de Colona é um homem sereno, reconciliado com os deuses e consigo próprio. Não há revolta em sua alma: "Os sofrimentos e a experiência de tantos anos - e também a minha natureza corajosa - ensinaram-me a resignação". (Théatre de Sophocle, ed. Garnier, segundo a trad. de Robert Pignarre. V. 6-9). Todavia, a atitude de piedade e respeito aos deuses não o impedem de fazer sua autodefesa "Estrangeiros, cometi meus crimes. Cometi-os, mas, em face do céu, eu o afirmo: nestes crimes, não teve parte a minha vontade" (ed. citada, v. 521-3). Dessa forma, desqualifica em Sófocles a idéia de culpa objetiva e o querer do homem se impõe como o fundamento da ordem moral. Édipo se reconhece culpado, sim, mas de homicídio, nunca de parricídio e incesto, pois não sabia que matava, em Laio, o próprio pai e jamais teria repartido o leito com Jocasta, se soubesse ser ela sua mãe. "Assassino, seja; mas sem tê-lo premeditado e puro diante da lei, pois que eu tudo ignorava" (ed. citada, v. 549-50).
Vontade e conhecimento, eis o que Sófocles reclama como critério da responsabilidade. O homem responde pelo que faz querendo e conhecendo, nunca por atos que cumpre sem uma participação voluntária ou na ignorância de seu significado.
Afinal, no teatro sofocleano o grande personagem é o homem. Significativamente, deixando de lado a composição dramática de trilogias ligadas pelo mesmo tema - em geral a história de uma família sobre a qual pesa uma falha moral ou maldição - no estilo de Ésquilo, Sófocles dá realce a grandes figuras humanas, personalidades de caráter inflexível, de um querer obstinado, que agem em função de suas próprias eleições, sem o apego a qualquer motivo que não proceda de seu próprio íntimo. Ajax, Antígona, Electra, Édipo, Filoctetes, são individualidades poderosas, cuja consciência e vontade, uma vez manifestadas, se mantêm firmes e desencadeiam todas as evoluções da ação dramática. São, entretanto, criaturas solitárias, que permanecem irremediavelmente sozinhas no momento decisivo em que assumem o seu destino. Elas nos ensinam que um ato de liberdade, real ou ilusório, é sempre decidido na solidão da consciência e que apenas nós, mais ninguém, respondemos por ele.
Édipo é, todavia, uma criatura em paz com os deuses. Piedosamente, aceita a sua sorte e tem fé, apesar de tudo. No universo sofocleano a transcendência do querer humano encontra um limite, pois deve acomodar-se a uma ordem divina contra a qual, por vezes desolado e aturdido, o herói se opõe, para, afinal, a despeito das incongruências da vida, entoar-lhe um cântico de fé. Quanto a nós, que importa se parecemos frágeis brinquedos do imponderável - Destino ou Acaso - qualquer que seja o nome que se lhe dê? Enquanto buscarmos o fundamento da ordem na qual nos inserimos em nós mesmos, ainda há esperança para o homem.
Fonte: http://www.paideuma.net/reiedipo.htm