Uma nova teoria da comunicação, e a poesia de Marcelo Roque

Glória Kreinz

A forma como escrevemos hoje em dia e como nos comunicamos exige uma nova forma de se entender a teoria literária, que considero uma nova teoria da comunicação.

Os veículos eletrônicos produzidos pela equipe de meu centro de pesquisa na USP passam por constantes reformulações, tanto no corpo editorial, como na programação visual, assim como na infra-estrutura de sua apresentação, isto porque procuramos sempre estar atentos com as inovações da informática. Quanto aos temas nem se discute. Sempre tentamos renovar.

Estas transformações decorrem de uma postura crítica que procura adequar o que se produz com o avanço das pesquisas do projeto elaborado pelo coordenador geral do NJR/FiloCom, Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho, que trabalha O Princípio da Razão Durante: o movimento como substância das fronteiras, que afeta a divulgação da comunicação escrita e de todas formas midiáticas.

É inegável que os membros da equipe atualizam seus conhecimentos através de leituras sugeridas pelo projeto Razão Durante, com filósofos como Martin Heidegger, Jacques Derrida, Jean Baudrillard, além de outras leituras complementares e ações culturais.

Esta postura leva a um desejo constante de mudanças, tentando sinalizar o movimento contínuo de tudo o que existe ao redor, dentro da perspectiva de Marcondes Filho: “de agora em diante, os cientistas passam a ficar despertos aos processos e à sua liberdade, à indeterminação, à imprevisibilidade, a tudo que foge dos mecanismos uniformes e, desta forma, causam estranheza” (Marcondes Filho: p.2).

Então as fronteiras entre ciência e arte caem por terra. Já tinha visto isso em Paris com Roland Barthes, e por isso depois de um mestrado em letras fui para a área mais abrangente da comunicação. A literatura entra em todos os campos, e nada lhe é estranho.

Evidentemente, pouco se conseguiu produzir na prática diante da riqueza da proposta do projeto, mas há todo um esforço de atualização constante, de desconstrução de signos estáveis, dos consensos, das cristalizações de posturas previamente assumidas.

A poesia de Marcelo Roque exemplifica muito bem este universo do século XXI que trabalhamos:

"PIRACEMA"

Eu já posso até ver

cardumes cibernéticos

com seus chips branquiais

e escamas com micro-sensores

massageando os egos

dos rios Pinheiros e Tietê

(Sobre notícia vinculada pela imprensa,

que fala da invenção do peixe robô, que

irá auxiliar na fiscalização dos índices de

poluição dos mares e rios)

Uma teoria da escritura calcada em signos estáveis e cristalizados culturalmente não daria conta das propostas artísticas e poéticas do século XXI.