OS PALIMPSESTOS

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Estudos Literários

 

Primeiramente denominados códices rescripti (códices reescritos), os palim (do grego =  de novo) psestos (= riscar), ou seja, raspar de novo; são obras cujos textos manuscritos (científicos e filosóficos da Antiguidade Clássica) foram apagados - para o reaproveitamento dos pergaminhos em que tinham sido escritos – a fim de receber outro manuscrito; geralmente orações ou literatura litúrgica. Estes manuscritos eram feitos da erva papiro, mas, sobretudo, em pergaminhos de pele de animal. Este pergaminho era reutilizado, apagado ou lavado com leite e farelo de aveia, branqueados com gesso e cal, gerando novo meio material ou camada para que fosse acrescentado um novo texto escrito sobreposto nesta camada, sobre texto anterior, que permanecia encoberto. Mais tarde passou a ser raspado com pedra-pomes. Esta prática era comum na Idade Média, sobretudo entre os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do pergaminho.

Na Renascença, os palimpsestos começaram a ser estudados, e no século XVIII se aperfeiçoaram processos de reconstituir, por meios químicos, o manuscrito originário ou o que dele restava. Assim, vários textos antigos foram recompostos, por exemplo: a República, de Cícero, descoberto sob o palimpsesto um Comentário de Santo Agostinho aos Salmos; fragmentos de Eurípides, Plauto e outros. Às vezes, porém, o reagente químico danificava para sempre os pergaminhos.

Um dos mais famosos palimpsestos é o de Arquimedes. Trata-se de uma cópia em 170 páginas, manuscrita em fina pelica de carneiro, da obra O Método, de Arquimedes de Siracusa, feito por um escriba bizantino do século X, e raspado no final do século XII ou princípio do século XIII para dar lugar a um livro de orações. A obra foi desmontada por um monge de Jerusalém, em 1229. Ele raspou o texto, cortou as folhas ao meio e as encadernou novamente, escrevendo orações e pintando iluminuras sobre o delicado pergaminho. Veja a ilustração acima: do lado esquerdo à iluminura e do direito o texto de Arquimedes.

A existência do Palimpsesto de Arquimedes era conhecida, mas o livro sumiu na confusão da I Guerra e só reapareceu em 1998, quando foi leiloado por 2,2 milhões de dólares na Christie’s de Nova York. A primeira tentativa de desvendar o manuscrito foi realizada por um pesquisador dinamarquês em 1906. Ele estudou o livro com lente de aumento e publicou uma versão incompleta com o que conseguira decifrar.

Desta vez, o palimpsesto acaba de ser inteiramente decifrado depois de oito anos de trabalho executado por um grupo de pesquisadores convocados pelo Museu de Arte Walters, em Baltimore, nos Estados Unidos. Os cientistas consumiram quatro anos só para desmontar o livro sem danificá-lo.  As páginas frágeis foram submetidas a duas técnicas de imagens. Uma delas consistia em examinar o material com raios-X especial, de modo a registrar o ferro contido na tinta usada pelo escriba do século X. Reorganizado - o resultado das técnicas - no computador, os cientistas extraíram, na íntegra, o texto perdido de sete ensaios de Arquimedes.

Por derivação de sentido, entende-se também por palimpsesto toda obra derivada de uma obra anterior, por transformação ou por imitação; ou seja, o mesmo que hipertexto. ®Sérgio.

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Imagem: Roger Viollet Collection / Getty Images

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Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 24/10/2009
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T1883744
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