Intertextualidades com macacos
Aprendi no Brasil que Camilo Castelo Branco continuou a escrever e a vaguear, depois de morto pelo uso de um Bull-Dog de coronha de madeira corroída, de onde saíra, na direcção de um dos seus ouvidos, uma única carga das seis que o carregavam.
É bem provável que o cérebro do génio de Ceide não tivesse sido seriamente danificado pela pequena bala. Porém, não é isso que o dr. Rodrigues Ferreira, médico tirsense assistente no leito comatoso, refere na sua correspondência científica.
Vem isto a propósito do recente livro do pervicaz José Saramago, «Caim» - que me parece não lerei – e que apresenta uma curiosa intertextualidade.
M. Gresner escreveu “La Mort d’Abel”. Alexandre Dumas Filho, e Pai, também trataram do caso «Caim», como Lamarck e Milne-Edwards e muitos outros antes e depois de Saramago.
Previamente, sobre o mesmo tema, havia sido redigido o “Genesis” e o “Pentateuco”.
“Quem era a mulher de Caim?”
O alemão Gesner chamou-lhe «Méhala». E chamou «Thyrsa» à mulher de Abel.
“Adão e Eva tiveram dois filhos, Caim e Abel. Com quem casaram estes sujeitos, se na terra não havia outra família?», pergunta o intrigante Camilo.
Caim, homiziado inulto, foi casar a Nod, a nascente do Éden.
Apesar da “sombra picada das bexigas” não se fiar em Dumas filho, é para a sua versão que me inclino.
Dumas Filho diz que Caim casara numa família de macacos, cuja tribo se chama Catarhina, no país de Nod.
E cá estamos nós – eu e, agora, o José Saramago – descendentes na linha directa do humanal Caim… que, segundo o laureado, nunca existiu! E as macacas caudetas?