A INVESTIGAÇÃO LITERÁRIA.
A investigação literária destina-se à interpretar e analisar a obra literária em si. O interesse por todos os aspectos envolvidos, tais como autor e época, entre outros, são justificados apenas porque estamos considerando a obra. Poucos são capazes para a tarefa de uma autêntica análise e valoração de uma obra. Para tanto, é importante considerar forma e conteúdo como indissociáveis; a forma deve incluir os elementos linguísticos, pelos quais o conteúdo se expressa.
Wellek&Warren (1971) chamam de “materiais” os elementos esteticamente neutros e “estrutura” ao modo pelo qual eles adquirem eficácia estética. Desse modo, estrutura contém conteúdo e forma, organizados para fins estéticos. A obra de arte é uma estrutura de signos que servem a um objetivo estético específico.
Sobre uma obra de arte, pode ser conveniente desfazer falsas impressões, definições, conceitos. Uma obra de arte literária não é, em sentido puro:
-A experiência visual, um artefato, o poema impresso. O que está escrito no papel, não é o poema; há muitos elementos estranhos a ele, tais como fonte, tamanho e ilustrações, embora haja elementos integrantes na parte impressa, como os fins de linha, as rimas visuais ou jogos de palavras que dependem da ortografia para serem compreendidos. A poesia é escrita para ser lida e ouvida.
-A experiência acústica, a leitura que á feita em voz alta ou a declamação porque, também nesse caso, estão presentes elementos estranhos ao poema, a saber, pronúncia, altura, ritmo e distribuição de acentos individuais. Ainda há o caso de poemas que nunca foram declamados e nem por isso deixam de ser poemas. O aspecto vocal tem importância, mas relativa.
-A experiência mental, a experiência do leitor. Ela existe, mas o poema é diferente de tal experiência. Para cada um será diferente, pessoal, individual.
-A experiência psicológica; a de um leitor perfeito. Esse é um evento momentâneo, que até mesmo o leitor perfeito poderia não repetir de forma idêntica.
-A experiência do autor durante a criação daquela obra. Tanto a experiência consciente (intenções), quanto a total (consciente e inconsciente), durante o período da criação. As intenções do autor podem ultrapassar de longe o produto acabado, enquanto a realização pode ficar aquém ou passar ao lado dos projetos e ideais.
-A experiência total, consciente ou inconsciente durante o período de criação. Trata-se inclusive de questão impossível de ser avaliada na prática.
-A experiência social e coletiva. O verdadeiro poema é a experiência comum a todas as experiências desse poema, entretanto, ele á apenas uma potencial causa dessa experiência.
Um poema autêntico deve ser concebido como uma estrutura de normas que apenas em parte é realizada na experiência concreta de seus numerosos leitores. Essas normas são implícitas e têm de ser extraídas de todas as experiências individuais de uma obra de arte e, no seu conjunto, perfazer globalmente essa mesma obra. Numa obra de arte, estão presentes vários estratos cada qual implicando um grupo a ele subordinado. Temos o estrato sonoro (que não é simplesmente o som das palavras); as unidades de sentido, combinando-se no contexto em sintagmas e em padrões frásicos; dos sentidos representados, oriundo da estrutura sintática , apresentando o “mundo” do autor, que pode ser visto tanto no aspecto interior e exterior, quanto nas suas qualidades metafísicas.
Há uma distinção por parte dos linguistas de Genebra e do Círculo Linguístico de Praga entre “langue e parole” (língua e fala) e podemos trazer esse paralelismo para a experiência individual do poema e o próprio poema. A estrutura de uma obra de arte apresenta-se (tem caráter de) uma tarefa a realizar, mesmo que imperfeitamente. A análise de uma obra de arte literária lida com os problemas das unidades de sentido e de sua organização específica tendo por finalidade os efeitos estéticos. Estes, referem-se a objetos e constituem as realidades imaginativas, inerentes às estruturas linguísticas, mas que, por sua vez, não devem ser confundidas com a realidade empírica.
A distinção entre estratos tem a vantagem de superar a distinção enganadora entre conteúdo e forma. Há íntimo contato entre conteúdo e substrato linguístico, no qual está implícito e do qual depende. Apesar de ter sido criada num certo momento temporal, a obra de arte está sujeita a modificações e mesmo, à destruição.
O material de análise de uma obra de arte literária, não faz parte de um conjunto do tipo “ideal”, como o são os números, por exemplo. É apreensível através da parte empírica de sua estrutura. O “sistema de sons”, de certa forma é “vivo”, surge num dado momento , modifica-se no decorrer do tempo e até pode perecer. A crítica sempre se faz a partir do nosso conhecimento á luz do mais alto padrão estabelecido por outra parte. Contudo, não temos capacidade de compreender muitas ambiguidades verbais, que são a parte essencial do sentido, recurso de que todos os poetas se utilizam.
Diz Wellek&Warren (1971): “ A obra de arte literária é um objeto de conhecimento sui generis, que tem uma categoria ontológica especial. Não é real (uma estátua...), nem mental (a luz ou a dor...), nem ideal (um triângulo...). É um sistema de normas e conceitos ideais que são intersubjetivos”. Eles fazem parte da ideologia coletiva, evoluem com ela e são acessíveis apenas através das experiências mentais individuais, baseadas nas estruturas sonoras de suas orações.
Não existe estrutura fora das normas e dos valores. A estrutura, o signo e o valor são aspectos da mesma questão e não podem ser isolados artificialmente.
Depende, pois, a análise de uma obra de arte literária, da apreciação dos seguintes estratos:
-o sonoro, que compreende eufonia, ritmo e metro;
-as unidades de sentido, isto é, as estruturas morfo-sintáticas, relacionadas ao estilo;
-a imagem e a metáfora, que são os componentes mais essencialmente poéticos;
-o mundo da poesia, representado pelo símbolo e pelo sistema de símbolos denominados “mito poético”.
Após ler: René Wellek e Austin Warren: Teoria da Literatura. Publicações Europa-América. 2ª ed. 1971
A investigação literária destina-se à interpretar e analisar a obra literária em si. O interesse por todos os aspectos envolvidos, tais como autor e época, entre outros, são justificados apenas porque estamos considerando a obra. Poucos são capazes para a tarefa de uma autêntica análise e valoração de uma obra. Para tanto, é importante considerar forma e conteúdo como indissociáveis; a forma deve incluir os elementos linguísticos, pelos quais o conteúdo se expressa.
Wellek&Warren (1971) chamam de “materiais” os elementos esteticamente neutros e “estrutura” ao modo pelo qual eles adquirem eficácia estética. Desse modo, estrutura contém conteúdo e forma, organizados para fins estéticos. A obra de arte é uma estrutura de signos que servem a um objetivo estético específico.
Sobre uma obra de arte, pode ser conveniente desfazer falsas impressões, definições, conceitos. Uma obra de arte literária não é, em sentido puro:
-A experiência visual, um artefato, o poema impresso. O que está escrito no papel, não é o poema; há muitos elementos estranhos a ele, tais como fonte, tamanho e ilustrações, embora haja elementos integrantes na parte impressa, como os fins de linha, as rimas visuais ou jogos de palavras que dependem da ortografia para serem compreendidos. A poesia é escrita para ser lida e ouvida.
-A experiência acústica, a leitura que á feita em voz alta ou a declamação porque, também nesse caso, estão presentes elementos estranhos ao poema, a saber, pronúncia, altura, ritmo e distribuição de acentos individuais. Ainda há o caso de poemas que nunca foram declamados e nem por isso deixam de ser poemas. O aspecto vocal tem importância, mas relativa.
-A experiência mental, a experiência do leitor. Ela existe, mas o poema é diferente de tal experiência. Para cada um será diferente, pessoal, individual.
-A experiência psicológica; a de um leitor perfeito. Esse é um evento momentâneo, que até mesmo o leitor perfeito poderia não repetir de forma idêntica.
-A experiência do autor durante a criação daquela obra. Tanto a experiência consciente (intenções), quanto a total (consciente e inconsciente), durante o período da criação. As intenções do autor podem ultrapassar de longe o produto acabado, enquanto a realização pode ficar aquém ou passar ao lado dos projetos e ideais.
-A experiência total, consciente ou inconsciente durante o período de criação. Trata-se inclusive de questão impossível de ser avaliada na prática.
-A experiência social e coletiva. O verdadeiro poema é a experiência comum a todas as experiências desse poema, entretanto, ele á apenas uma potencial causa dessa experiência.
Um poema autêntico deve ser concebido como uma estrutura de normas que apenas em parte é realizada na experiência concreta de seus numerosos leitores. Essas normas são implícitas e têm de ser extraídas de todas as experiências individuais de uma obra de arte e, no seu conjunto, perfazer globalmente essa mesma obra. Numa obra de arte, estão presentes vários estratos cada qual implicando um grupo a ele subordinado. Temos o estrato sonoro (que não é simplesmente o som das palavras); as unidades de sentido, combinando-se no contexto em sintagmas e em padrões frásicos; dos sentidos representados, oriundo da estrutura sintática , apresentando o “mundo” do autor, que pode ser visto tanto no aspecto interior e exterior, quanto nas suas qualidades metafísicas.
Há uma distinção por parte dos linguistas de Genebra e do Círculo Linguístico de Praga entre “langue e parole” (língua e fala) e podemos trazer esse paralelismo para a experiência individual do poema e o próprio poema. A estrutura de uma obra de arte apresenta-se (tem caráter de) uma tarefa a realizar, mesmo que imperfeitamente. A análise de uma obra de arte literária lida com os problemas das unidades de sentido e de sua organização específica tendo por finalidade os efeitos estéticos. Estes, referem-se a objetos e constituem as realidades imaginativas, inerentes às estruturas linguísticas, mas que, por sua vez, não devem ser confundidas com a realidade empírica.
A distinção entre estratos tem a vantagem de superar a distinção enganadora entre conteúdo e forma. Há íntimo contato entre conteúdo e substrato linguístico, no qual está implícito e do qual depende. Apesar de ter sido criada num certo momento temporal, a obra de arte está sujeita a modificações e mesmo, à destruição.
O material de análise de uma obra de arte literária, não faz parte de um conjunto do tipo “ideal”, como o são os números, por exemplo. É apreensível através da parte empírica de sua estrutura. O “sistema de sons”, de certa forma é “vivo”, surge num dado momento , modifica-se no decorrer do tempo e até pode perecer. A crítica sempre se faz a partir do nosso conhecimento á luz do mais alto padrão estabelecido por outra parte. Contudo, não temos capacidade de compreender muitas ambiguidades verbais, que são a parte essencial do sentido, recurso de que todos os poetas se utilizam.
Diz Wellek&Warren (1971): “ A obra de arte literária é um objeto de conhecimento sui generis, que tem uma categoria ontológica especial. Não é real (uma estátua...), nem mental (a luz ou a dor...), nem ideal (um triângulo...). É um sistema de normas e conceitos ideais que são intersubjetivos”. Eles fazem parte da ideologia coletiva, evoluem com ela e são acessíveis apenas através das experiências mentais individuais, baseadas nas estruturas sonoras de suas orações.
Não existe estrutura fora das normas e dos valores. A estrutura, o signo e o valor são aspectos da mesma questão e não podem ser isolados artificialmente.
Depende, pois, a análise de uma obra de arte literária, da apreciação dos seguintes estratos:
-o sonoro, que compreende eufonia, ritmo e metro;
-as unidades de sentido, isto é, as estruturas morfo-sintáticas, relacionadas ao estilo;
-a imagem e a metáfora, que são os componentes mais essencialmente poéticos;
-o mundo da poesia, representado pelo símbolo e pelo sistema de símbolos denominados “mito poético”.
Após ler: René Wellek e Austin Warren: Teoria da Literatura. Publicações Europa-América. 2ª ed. 1971