ESTILO E ESTILÍSTICA

AS UNIDADES DE SENTIDO


A obra literária é uma seleção aplicada a uma dada linguagem. Bateson afirma que há uma estreita relação de dependência entre a história poética e a história lingüística. Karl Vossler que a história literária de certos períodos ganharia com uma análise do ambiente lingüístico. A tese de Bateson não é sustentável por não se poder aceitar que a poesia reflete passivamente as modificações linguísticas. A relação entre língua e literatura é dialética. O fato de se poder escrever uma história que inclua as literaturas de várias línguas indica que a literatura não depende exclusivamente da linguagem. Entretanto, no caso da poesia, quando sua organização é cerrada, está intimamente ligada ao som e ao sentido de uma língua. Há razões evidentes para tanto. “O metro organiza o caráter sonoro da linguagem, regulariza o ritmo da prosa, aproximando-a do isocronismo, simplificando a relação entre as extensões silábicas; retarda a cadência, prolongando as vogais para o efeito de exibir os harmônicos ou sua cor tonal (timbre), torna mais simples e regular a entonação, a melodia da fala. A influência do metro está em dar realidade às palavras, chamara atenção para o seu som. Em boa poesia,  as relações entre as palavras são nitidamente salientadas. O significado da poesia é contextual: uma palavra transporta não só o seu significado léxico, mas também uma aura de sinônimos e homônimos; as palavras não só tem um significado como evocam os significados de palavras com elas relacionadas pelo som, ou pelo sentido, ou pela derivação, ou até por contraste e exclusão.”(Wellek&Warren: p. 219). Para o estudioso da poesia, os conhecimentos relevantes estão na área na morfologia, da fonologia e da lexicologia (apenas em raros casos sob o ponto de vista histórico); a literatura está relacionada a todos os aspectos da linguagem. Pode-se elaborar a gramática de uma obra de arte literária, partindo da fonologia e da morfologia, passando ao vocabulário (barbarismos, arcaísmos, provincianismos, neologismos) e culminando na sintaxe (por exemplo, a inversão, a antítese e os paralelismos), evidentemente visando a investigação dos efeitos estéticos da linguagem (estilística). A estilística abrange o estudo de todos os recursos que visam um propósito expressivo específico: as metáforas que permeiam todas as linguagens (mesmo as de tipo mais primitivo) todas as figuras de retórica e esquemas sintáticos. Há questões que foram estudadas pela estilística tradicional de modo arbitrário: figuras que, sob o ponto de vista dicotômico, separadas em redutoras ou intensificadoras ( repetição, acumulação, hipérbole, clímax), ligadas ao estilo “sublime”. Contudo, uma hipérboloepode ser trágica ou patética; grotesca ou cômica.  Não é possível  provar uma igualdade entre uma figura e um valor expressivo, embora haja uma relação entre os traços estilísticos e o efeito.

Segundo Wilhelm Schneider , de acordo com sua relação com o objeto, podemos dividir os estilos em:
-conceitual e sensorial;
-suscinto e abundante;
-diminutivo e exagerativo;
-decisivo e vago;
-tranquilo e agitado;
-baixo e elevado;
-simples e adornado.

E de acordo com a relação entre as palavras em:
-tenso e lasso;
-plástico e musical;
-macio e áspero;
-incolor e colorido.

E de acordo as relações das palavras com o sistema total da linguagem em:
-falado e escrito;
-estereotipado e individual.

E de acordo com a relação das palavras com o autor em:
-objetivo e subjetivo

Existem dois métodos para a realização da análise estilística; a análise sistemática do sistema linguístico da obra por aproximação, interpretando seus traços em função de seu objetivo estético, deduzindo-se o estilo como o sistema linguístico individual. O segundo método consiste em estudar o conjunto de traços individuais que torna seu sistema diferente de outros a ele comparáveis, estudo que é feito por contraste. O que mais interessa, no entanto é a análise estilística que alcança estabelecer um princípio unificador e um fim estético geral. Poe exemplo, o verso branco de Milton impõe certas recusas e exigências na escolha do vocabulário; o vocabulário requer perífrase, que por sua vez implica numa tensão entre a palavra e a coisa, pois o objeto não é enumerado, mas as qualidades dele o são. O acentuar das qualidades e sua enumeração implicam a descrição e o tipo particular de descrição da Natureza cultivado no séc. XVIII, implica uma filosofia específica, a argumentação tirada do desígnio final. Em sentido ideal, devemos ser capazes de começar a investigação em qualquer ponto e chegar aos mesmos resultados.

Há ainda um outro método mais sistemático (Motif und Wort), que se baseia na suposição de um paralelismo entre traços lingüísticos e elementos de conteúdo. Léo Spitzer tentou estabelecer uma conexão entre traços lingüísticos recorrentes e a filosofia do autor, mas essa relação pode ser falaciosa. Croce, diz que não é possível estabelecer distinção entre estado de espírito e expressão linguística. Ele nega qualquer distinção entre estilo e forma, entre forma e conteúdo; entre apalavra e alma, entre expressão e intuição, levando suas convicções ao exagero, a ponto de uma teoria inicialmente genuína acaba por impossibilitar qualquer distinção, ao menos para fins de estudos (com vistas, é claro a uma reunificação final).

Após ler: René Wellek e Austin Warren: Teoria da Literatura. Publicações Europa-América. 2ª ed. 1971