A TRADIÇÃO ORAL E O CONTO POPULAR
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Estudos Literários
O conto, como hoje vemos, é uma forma literária reconhecida e utilizada por muitos escritores de renome. No entanto a sua origem é muito mais humilde. Começou na tradição oral dos povos, como um simples e despretensioso relato de histórias imaginárias. Além de propor aos ouvintes modelos de comportamento; o conto era próprio dos momentos de lazer. Na tradição oral brasileira, após um jantar, se organizam as "rodas" em varandas cobertas, nos galpões ou em volta do fogo, onde, sobre a chapa de ferro do fogão a chaleira de água ferve para o cafezinho da noite. Formada a roda, o contador de histórias, geralmente um visitante, narra ao reduzido e familiar auditório, um causo (um conto) considerado interessante. Todavia, a sua narrativa está sujeita as certas circunstâncias que impõem a história, sua brevidade: a limitação da memória do contador, o pouco tempo que dispõe e a simplicidade da roda.
Essas mesmas circunstâncias determinam a limitação do número de personagens, a sua caracterização vaga e estereotipada, a redução e imprecisão das referências de espaço e tempo, bem como a simplificação da ação. E foi nestas circunstâncias que se estruturou o conto como forma literária, e é, ainda hoje, a base do conto moderno.
Dentro da tradição oral, o conto não tem propriamente autoria. Na realidade ele constitui uma criação coletiva, dado que cada "contador" lhe introduz inevitavelmente pequenas alterações e, assim, passando sob modificações, de povo para povo. Daí vem o dito popular: "Quem conta um conto, aumenta um ponto".
É admirável ver como essas tradições orais, se submetem no tempo e no espaço, ao fenômeno da transplantação sem perder o sinal de origem. Passam de um a outro país, revivendo em raças e povos, as mais das vezes, tão diferentes.
Não podemos esquecer que os contos populares com os quais hoje temos contato, são diferentes dos que se perpetuaram na tradição oral. A transplantação destes para a escrita implicou, necessariamente, alguma adaptação. Sim, porque a narrativa oral, além da ênfase, da entoação, era acompanhada por outros tipos de linguagem como os movimentos corporais, a mímica, variáveis de contador para contador e irreproduzíveis na escrita. Outro fato está em que às pessoas presentes na roda do conto, cerceavam a narrativa com suas perguntas e comentários impedindo que o contador desse vazão a sua imaginação criadora. Na transposição para a escrita, o escritor, evidentemente, não é submetido a essa censura de roda, podendo dar vazão a sua imaginação.
As Coletâneas
O interesse dos intelectuais pelo conto popular surgiu no século XVII, quando, em 1697, Charles Perraut publicou a primeira coleção de contos populares franceses, que incluía histórias tão conhecidas como "A Gata Borralheira", "O Chapeuzinho Vermelho" e "O Gato das Botas". Esse interesse pela literatura popular acentuou-se no século XIX, com os trabalhos dos irmãos Grimm, na Alemanha, que tiveram consciência do valor dessas produções anônimas e as coligiram magnificamente, conservando-lhes o cunho popular e a graça com que ouviram dos lábios das mulheres e camponeses de sua pátria. Da mesma forma, temos no Brasil Sílvio Romeiro, Lindolfo Gomes, Câmara Cascudo, entre outros.
A maioria dos contos populares do Brasil é de importação européia; alguns de procedência africana e bem poucos de origem indígena.®Sérgio.
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Dados foram retirados e adaptados ao texto de: Lindolfo Gomes, Contos Populares Brasileiros; 3ª edição, Edições Melhoramentos.
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