OS DEZ CLÁSSICOS DA LITERATURA MUNDIAL--5º LIVRO

Dom Quixote

Miguel de Cervantes Saavedra(1547 - 1616) Romancista, dramaturgo e poeta espanhol foi o criador de Dom Quixote, a figura mais famosa da literatura espanhola. Revolucionou a literatura ao utilizar recursos como a ironia e o humor.

Embora a reputação de Cervantes se apoie quase que totalmente nas aventuras do cavaleiro das ilusões, Dom Quixote e seu fiel escudeiro, sua produção literária foi considerável.

Miguel de Cervantes nasceu em Alcalá de Henares, uma cidade perto de Madri, em uma família da baixa nobreza. Seu pai era médico e passou a maior parte de sua infância se mudando de uma cidade à outra enquanto seu pai procurava por emprego. Após estudar em Madri (1568-1569), foi para Roma a serviço de Guilio Acquavita.

Em 1570 se tornou soldado, participando na batalha de Lepanto (1571), durante a batalha foi ferido na mão, o que o deixou aleijado da mão esquerda. Cervantes teve muito orgulho da sua participação na famosa vitória e do apelido que ganhou, el manco de Lepanto. Em 1575, partiu com seu irmão Rodrigo, na embarcação El Sol, para a Espanha. O navio foi capturado pelos turcos e os irmãos levados para Algers como escravos. Cervantes passou 5 anos como escravo, até que sua família conseguiu juntar dinheiro suficiente para pagar seu dono. Cervantes foi então liberado em 1580. Em 1584 se casou com a jovem Catalina de Salazar y Palacios.

Durante os próximos 20 anos levou uma vida nômade, trabalhando também como coletor de impostos. Foi a falência e preso pelo menos duas vezes (1597 e 1602) por irregularidades fiscais. Entre os anos de 1596 e 1600 viveu primeiramente em Sevilha. Em 1606 se estabeleceu em Madri, onde permaneceu até o resto de sua vida. Além do romance Dom Quixote, escrito em duas partes (1605-1615), escreveu Calatea (1585), Novelas exemplares (1613), Viagem ao Parnaso (1614) e Os trabalhos de Persiles e Segismunda (1617). Morreu em 23 de abril de 1616.

Caros amigos literatos: Ao trazer à luz, em 1605, o personagem que pode ser considerado como um dos mais conhecidos do mundo até hoje, Miguel de Cervantes pretendia fazer uma crítica às novelas de cavalaria, tão em voga naquela época. D. Quixote é um fidalgo que, de tanto se entregar à leitura de novelas de cavalaria, tem suas faculdades intelectuais prejudicadas a ponto de não mais conseguir distinguir a realidade da fantasia. Ele mergulha no universo dessas histórias e crê que sua missão na Terra é tornar-se cavaleiro andante, coisa que já não existe no século XVII.

Acreditando ter sido nomeado cavaleiro, sai pelo mundo imbuído das obrigações que sua ordenação lhe confere: proteger os fracos e estabelecer a justiça, além de defender sua adorada Dulcinéia, a donzela a quem, mesmo só a tendo visto uma ou duas vezes, promete seu amor eterno.

Decorre daí mil aventuras em que D. Quixote sempre leva a pior. Cenas de inegável senso de humor alternam-se com situações dramáticas e momentos de desespero. Depois de muitas e tristes derrotas, D. Quixote, desiludido, começa a ver, cada vez com maior clareza, a crua realidade da qual tanto se havia afastado.

O livro foi escrito em dois volumes, com diferença de 10 anos do primeiro para o segundo. Com essa obra, Cervantes escreve uma narrativa inovadora para a época, retratando em seus personagens a complexidade da alma humana.

Trecho do livro O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra (páginas 117 a120).

Do bom sucesso que o valoroso D. Quixote teve na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento, mais outros sucessos dignos de feliz lembrança Nisto, avistaram trinta ou quarenta moinhos de vento dos que há naqueles campos, e assim como D. Quixote os viu, disse ao seu escudeiro:

- A ventura vai guiando as nossas coisas melhor do que pudéramos desejar; pois vê lá, amigo Sancho Pança, aqueles trinta ou pouco mais desaforados gigantes, com os quais penso travar batalha e tirar de todos a vida, com cujos despojos começaremos a enriquecer, pois esta é boa guerra, e é grande serviço de Deus varrer tão má semente da face da terra.

- Que gigantes? - disse Sancho Pança.

- Aqueles que ali vês - respondeu seu amo -, de longos braços, que alguns chegam a tê-los de quase duas léguas.

- Veja vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que ali aparecem não são gigantes, e sim moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as asas, que, empurradas pelo vento, fazem rodar a pedra do moinho.

- Logo se vê - respondeu D. Quixote - que não és versado em coisas de aventuras: são gigantes, sim; e se tens medo aparta-te daqui, e põe-te a rezar no espaço em que vou com eles me bater em fera e desigual batalha.

E, isto dizendo, deu de esporas em seu cavalo Rocinante, sem atentar às vozes que o seu escudeiro Sancho lhe dava, advertindo-lhe que sem dúvida alguma eram moinhos de vento, e não gigantes, aqueles que ia acometer. Mas ele ia tão certo de que eram gigantes, que nem ouvia as vozes do seu escudeiro Sancho, nem via o que eram, embora já estivesse bem perto, antes ia dizendo em altas vozes:

- Non fuxades, cobardes e vis criaturas, que um só cavaleiro é este que vos acomete.

Nisto se levantou um pouco de vento, e as grandes asas começaram a girar, em vista do qual, disse D. Quixote:

- Ainda que movais mais braços que os do gigante Briaréu, haveis de pagar-me.

E, isto dizendo, e encomendando-se de todo coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto da sua rodela, com a lança enristada, arremeteu a todo o trote de Rocinante e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar uma lançada na asa, empurrou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em pedaços, levando consigo cavalo e cavaleiro, que foi rodando pelo campo muito estropiado. Acudiu Sancho Pança ao seu socorro, a todo o correr do seu asno, e ao chegar viu que não se podia mexer: tamanho fora o tombo que dera com ele Rocinante.

- Valha-me Deus! - disse Sancho. - Eu não disse a vossa mercê que visse bem o que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça?

- Cala, amigo Sancho - respondeu D. Quixote -, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: quanto mais que eu penso, e assim é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o aposento e os livros tornou esses gigantes em moinhos, para me roubar a glória do seu vencimento, tal e tanta é a inimizade que me tem; mas, ao cabo do cabo, de pouco valerão as suas más artes contra a bondade da minha espada.

- Que Deus faça o que puder - respondeu Sancho Pança.

Dom Quixote: o melhor livro do mundo

Em princípios de maio de 2002, uma impressionante comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616), a partir de 1602, como a melhor obra de ficção de todos os tempos. Ao tempo em que narrava os feitos do Cavaleiro da Triste Figura em ritmo dos romances da cavalaria, Cervantes enervado com o sucesso daquele tipo de gênero literário junto ao grande público, realizou uma das maiores sátiras aos preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de fancaria.

Bibliografia:

Dom Quixote: o Cavaleiro da Triste Figura - 21 Ed. da editora SCIPIONE

DOM QUIXOTE - Quatro Séculos De Modernidade

Gênero: crítica literária / didáticos

Autor: Mario Amora Ramos

Editora: Novo Século // Ano: 2005 // 278 Páginas // Capa Dura