O TEATRO DOS MISTÉRIOS
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Estudos Literários
O Mistério (o Mystère), também chamado de Jeu (drama) ou Paixão, é a mais importante criação do teatro religioso medieval, durante os séculos XII e XV.
As apresentações iniciais se organizaram em Paris a partir de 1380. Os temas eram extraídos das Sagradas Escrituras (Antigo e Novo Testamento), e estavam centrados em torno de Santos e Santas ou da Paixão e Ressurreição de Cristo. Na verdade, o tema principal era a Paixão de Cristo. Tinham a finalidade de transmitir ao povo, de forma acessível e concreta, a história da religião, os dogmas, os segredos que o latim dos livros sagrados ocultava. Pretendiam também dar conta de tudo o que se passava no Céu ou na Terra, psicológica e teologicamente.
Realizavam-se durante as festividades religiosas (Páscoa, Natal, Corpus Christi etc.) ou festividades cívicas de caráter local ou nacional. A princípio, eram representados no interior das igrejas, por clérigos e coroinhas (acólitos). Com o tempo o crescente aumento do número de figurantes, a complexidade das encenações e conteúdos profanos, forçou sua transferência para diante das igrejas ou nas praças, sobre um tablado, pois o local já não era sagrado. O espetáculo (cheio de pompa) era montado num enorme estrado, dispostos em uma sequência de cenários simultâneos (chegavam a atingir, muitas vezes, até cinquenta metros), cada um exibindo uma das "moradas" de Cristo ou acontecimentos relevantes a sua vida. Eram interpretados por atores amadores de todas as classes profissionais, ou melhor, por uma corporação: os padeiros, fazendo num dia, por exemplo, a Última Ceia; no dia seguinte, os pescadores e marinheiros, O Dilúvio; noutro, os armeiros, A Expulsão Do Paraíso; para só citar esses.
A partir daí a sua profanação se tornou inevitável. E para se converter num teatro ambulante, montado em carroça não demorou muito. E de seu desenvolvimento surgiu o teatro popular de Juan del Encina e Gil Vicente.
Os mistérios atraiam multidões e podiam, em determinadas épocas do ano, durar dias: o Mystère des Actes des Apôtres, na apresentação de Paris (1541), desenrolou-se ao longo de 40 dias sucessivos. A explicação está na grande extensão dos roteiros. A referida peça escrita por Arnould Gréband e seu irmão Simon, possuía setenta e dos mil versos. A mais célebre de todas, Lê Mystère de Passion (O Mistério da Paixão), também de Arnould Gréband, montado por volta de 1450, estendia-se por trinta e quatro mil versos. Jean Michel compôs outro famoso Mystère (1486), com 45 mil versos e duração de 10 dias.
Quando a representação dos Mistérios tornou-se abusiva, misturando temas religiosos (litúrgicos) e os profanos, como o Mistério de Paixão (acima citado), a igreja, em 17 de novembro de 1548 (já na idade moderna), proíbe suas apresentações em Paris. Essa medida consolida o teatro popular. Os grupos se profissionalizam e dois gêneros se fixam: as comédias bufas, chamadas de soties (tolices), com intenções políticas ou sociais; e a farsa, como a de Mestre Pathelin, que satiriza o cotidiano.
O Mistério francês intitulado Jeu D'adam, do século XII, é o texto dramático mais antigo que chegou até nós. Seu autor é desconhecido. A obra é composta de três partes: a queda de Adão e Eva; em seguida, o assassinato de Abel por Caim; e, por fim, a anunciação da vinda do Messias, feita pelos profetas. Seus versos não apresentam qualquer cuidado com o metro, com a rima e o ritmo.
O teatro litúrgico medieval difundiu-se pela Europa ocidental, incluindo a Inglaterra, onde o termo empregado para o mistério era mystere play. ®Sérgio.
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Informações foram extraídas e adaptadas ao texto de: Lígia Vassallo, O Teatro Medieval. / António José Saraiva, Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval.
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