DIVISÃO SILÁBICA

Na escrita comum, e mais especialmente na poesia, há regras para a separação de sílabas. Algo que parece tão simples, um dos processos básicos da alfabetização... Não o é, no entanto, no nível dos poetas que, se querem escrever embasados na teoria, com correção e uso consciente das licenças, das figuras, da metrificação, não podem prescindir de alguns conhecimentos fonológicos para embasar suas escolhas.  Supõe-se que para usar a exceção, deve-se conhecer a regra... Dentre as várias apresentações do assunto, escolhi alguns tópicos de uma que procura trazer informações práticas e bem organizadas, sem teorizar dentro dos domínios da lingüística, nem a todos familiar.

É preciso conhecer algumas Figuras (Aférese, Sinérese, Apócope,,Crase, Diérese, Ectipe, Elisão, Sinalefa...) e: saber distinguir o que é vogal e semivogal (este “l” final que poderia ser definido, por alguns, como consoante, é uma “letra” que nessa posição tem a função de uma semivogal); é preciso saber identificar claramente o que é tônica e átona (com mudança de função, em alguns casos, pela posição); é preciso saber o que é ditongo crescente (ou ascendente) e decrescente (ou descendente); é preciso saber o que é tritongo e que pode haver encontro de mais de três vogais, embora pouco comum.

A posição dos mentores não pode ser ingênua. Nenhum de nós é um gramático; todos erramos... ninguém precisa conhecer tudo. É conhecido o que diz o Ziraldo: “Se a condição para ser escritor fosse conhecer gramática, todos os gramáticos seriam grandes escritores”... e isso não ocorre. Mas vejam o que ele diz em seguida... “eu, quando tenho dúvida ligo para”...  Por não sermos gramáticos e sim escritores, quando temos dúvida, devemos consultar, esclarecer e citar as fontes para que outros possam dirimir suas dúvidas e opinar.

EXTRAÍDO DO DECÁLOGO DE METRIFICAÇÃO DA UBT

- Uma vogal fraca faz junção com a vogal fraca ou forte inicial da palavra seguinte.

- Uma vogal forte, pode ou não, fazer junção com vogal fraca da palavra seguinte, no entanto jamais deve fazê-la com vogal forte.

- Pode haver a junção de três vogais numa sílaba métrica.
§ 1º - Não deve haver mais de uma vogal forte.
§ 2º - No caso em que a vogal forte não esteja colocada entre as vogais fracas e sim em 1* e 3* lugar, para que seja correta a junção, as duas vogais fracas devem juntar-se por crase ou por elisão, e não por sinalefa (ditongação). Assim, estará certo:
"é a ambição que nos prende e nos maltrata", e não se pode unir as três vogais de "e a / intima palavra derradeira".
§ 3º - Deve ser usada com cuidado a junção de mais três vogais, embora haja casos corretos de quatro e até de cinco vogais.

- Os ditongos aceitam as pré-junções com vogais fracas ("E eu"). As post-junções são aceitas somente nos ditongos crescentes (encontros instáveis) ("a distância infinita") e são repelidas nos ditongos decrescentes. ("Eu sou/a que no mundo anda perdida").

§ único - Há casos de uso facultativo de pré-junção de vogais forte aos ditongos, quando essas vogais são as mesmas dos iniciais dos ditongos e não forem as tônicas das palavras.
(Aceita-se: "Será auspiciosa" e será inaceitável: "Terá/auto nos pontos".

- Nos encontros vocálicos ascendentes (formados por vogais os semivogais átonas seguidas de vogais ou semi-vogais tônicas), a sinerese é de uso facultativo. ("ci-ú- me" ou "ciú-me", etc.).
§ único - Há neste grupo, excepcionalmente, encontros vocálicos que não aceitam a sinérese. Geralmente, são formados pela vogal "a" seguida das vogais "a", ou "e" ou "o" (como em: Sa/ara, a/éreo, a/orta, etc.) ou, alguns casos, da mesma vogal "a" seguida das semi-vogais "i" ou "u" tônicas, como em: "Para/íso, "ba/ú", etc.

- Nos encontros vocálicos descendentes (formados por vogais ou semivogais tônicas seguidas de vogais ou semi-vogais átonas) não se aceita a sinérese ("tua", "lua", "frio", "rio" etc., sim, "tu/a", "su/a","fri/o", "ri/o", etc.
§ único - Em algumas regiões do Brasil é usada a sinérese nestes encontros vocálicos, com base na fonética local. No entanto, não será aceita na Metrificação,* em benefício da uniformidade, uma vez que na maioria dos Estados é feita a separação dessas vogais.

§ 1º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais átonas é correta mas pouco usada. Acompanhando a maioria dos poetas, sempre que possível, deve ser evitada. ("com amor") etc.
§ 2º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais tônicas não
será aceita. ("com esta" etc.).
§ 3º - A junção de fonemas anasalados "am", "im", etc., com vogais átonas ou tônicas não será aceita. ("formaram" / idéias", "cantaram / hinos" etc.).

*Para efeito de uniformização no julgamento de concursos.

http://www.movimentodasartes.com.br/trovador/pop/pop_01.htm