ESTUDO MORFOSSINTÁTICO DA CLASSE GRAMATICAL ADJETIVOS
1 . Concepções prescritivas de adjetivos para os gramáticos:
é a palavra variável que atribui uma especificação ao substantivo, caracterizando-o. Essa especificação pode referir-se a uma qualidade, um estado, aparência ou ao modo de ser referentes dos substantivos. Exemplos: difícil, belo, complicado, feroz, esperto, etc. (ABAURRE, 2003, 18).
modifica o substantivo, expressando condição, estado ou qualidade do ser. Ex: criança carente; opinião sábia; população sofrida. (MAZZAROTTO, 2002, p. 232).
o adjetivo é a palavra que exprime qualidade ou modo de ser do substantivo a que se junta. Ele pode ser restritivo (indica qualidade acidental do substantivo). Ex: leite branco; gelo frio; água líquida; fogo quente. E explicativo (indica qualidade essencial ou inerente ao substantivo). Ex: homem bom; bela chácara; livro novo; pedra preciosa. (Enciclopédia, Sistema Integrado de Ensino – SIVADI).
na relação entre um substantivo e um adjetivo, o adjetivo é o elemento determinante e o substantivo é determinado, ou seja, empregado junto a um substantivo, amplia, limita ou precisa o seu sentido: político corrupto (qualidade); homens gordos (estado); céu escuro (aparência); criança mimada (modo de ser). (ABAURRE, 2003, 18).
2. Concepções descritivas de adjetivos para os lingüísticas:
do ponto de vista semântico, o adjetivo é a palavra com a qual designamos qualidades concretas e abstratas. Sintaticamente, o adjetivo desempenha a função de adjunto adnominal. Morfologicamente, o adjetivo admite flexões de gênero, número e grau. (MAIA, 2001, p. 205-206).
os adjetivos conforme Neves (2000) são usados para atribuir uma propriedade singular a uma categoria (que já é um conjunto de propriedades) denominadas por um substantivo. De dois modos funciona essa atribuição: por qualificação e subcategorização.
Perini (1996) considera que os adjetivos são todas as palavras que podem ser complementos do predicado, bem como predicativos e modificadores.
Para Matoso Câmara (1975) são as determinações (podendo aqui incluir caracterizações, como as afirmadas na definição de Sarmento (2002) “as palavras que modificam os substantivos, atribuindo-lhes certas características, como qualidade, defeito, estado, modo de ser ou aspecto, chama-se adjetivos”. De outras termos por ele determinados.
Para Macambira (1987, p. 36-37) pertence à classe do adjetivo toda palavra eu produz posições formais, correspondentes ao grau positivo e ao grau superlativo, sufixa do por - íssimo, érrimo, - limo; noutros termos, toda palavra que admitir os sufixos supracitados. Ex.: gostoso – gostosíssimo; bom – boníssimo; célebre – celebérrimo; magro – macérrimo. Dessa forma, pertence à classe do adjetivo toda palavra que admita o sufixo adverbial - mente, do que resultam oposições formais entre adjetivos e advérbios. Ex.: calmo – calmamente; alegre – alegremente.
Segundo Bechara, o adjetivo é a classe de lexema que caracteriza as possibilidades designativas do substantivo.
3. Adjetivos pátrios e gentílicos
entre os adjetivos há os que se referem a continentes, países, regiões, estados, cidades, etc.: são os pátrios; e há os que se referem a raças e povos: são os gentílicos. Assim, israelenses é um adjetivo pátrio, mas israelita é um gentílico.
são derivados de substantivos que se referem a países, estados, províncias, regiões, cidades, aldeias, vilas, povoados.
Para facilitar a apresentação dos adjetivos pátrios, é hábito dividi-los em adjetivos referentes: 1) ao Brasil (Exs.: Acre – acreano; Rio de Janeiro – carioca; Espírito Santo – capixaba; Rio Grande do Norte – potiguar, etc.); 2) a Portugal e demais países de Língua Portuguesa (Exs.: Açores – açoriano; Coimbra – coimbrão; Lisboa – lisboeta, etc.); 3) às Américas (Exs.: Buenos Aires – buenairenses ou portenho; El Salvador – salvadorenho; Guatemala – guatemalteco, etc.); 4) aos demais países e continentes (Exs.: Afeganistão – afegão; Bangladesh – bengali; Croácia – croata; Madri – madrilenho; Mongólia – mongol, etc.).
4. Locuções adjetivas:
são conjuntos de palavras (geralmente) preposições + substantivos ou preposições + advérbios) com valor e função de adjetivo: indivíduo sem caráter, homem de negócio, fantasias de papel, navio a vapor.
é a reunião de duas ou mais palavras que equivale a um adjetivo, como: menino leva-e-traz, rapaz cara-de-gato.
em lugar de um adjetivo pode aparecer uma locução adjetiva, isto é, uma expressão com valor de adjetivo formado de preposição e substantivo. Ex: nariz de águia = aquilino; língua de víbora = viperina. Porém, inúmeras locuções não possuem adjetivos correspondentes. Ex: cavalo de pau, folha de papel, bolsa de pano.
é uma expressão que equivale a um adjetivo. Ex: presente de rei = régio/real; paixões sem freio = paixões desenfreadas.
5. Flexão dos adjetivos:
5.1 - os adjetivos flexionam-se quanto ao gênero, ao número e ao grau.
quanto ao gênero são: uniformes e biformes.
os adjetivos uniformes são os que têm uma só forma para indicar os dois gêneros. Em geral, são os que terminam por –a, -e, -l, -m, -r, -s ou –z. ex.:
A mulher otimista
A tarefa leve
A questão fácil
A aluna jovem
A posição superior
A senhora cortês
A família feliz O homem otimista
O trabalho leve
O exercício fácil
O aluno jovem
O cargo superior
O senhor cortês
O pai feliz
Exceções: espanhol – espanhola; bom – boa; andaluz – andaluza (de Andaluzia – Espanha).
Os adjetivos biformes são os que têm duas, flexões, uma para o masculino, outra para o feminino. Como acontece com o substantivo, o masculino acaba, em geral, em -o e o feminino em –a. ex.; belo, bela; estudioso, estudiosa; esperto, esperta; etc. há, entretanto, outras terminações:
es = esa
português, portuguesa; francês, francesa.
Exceções: cortês, descortês, montês, pedrês, que são invariáveis.
or = ora roedor, roedora; sofredor, sofredora; motor, motora (motriz0; gerador, geradora (geratriz).
Exceções: exterior, interior, incolor, multicolor, bicolor, tricolor, menor, maior, melhor, pior, superior, inferior, que são invariáveis.
ão = a aldeão, aldeã; ancião, anciã; alemão, alemã; chão, chã; são, sã.
ão = ona
amigão, amigona; brigão, brigona; cinqüentão, cinqüentona.
ão = oa
beirão; beiroa; Japão, japoa; violão, viloa.
eu = eia
ateu, atéia; europeu, européia; hebreu, hebréia; pigmeu, pigméia; plebeu, plebéia.
Exceções: réu, ré, ilhéu, ilhoa; tabaréu, tabaroa; judeu, judia; sandeu, sandia.
u = ua cru. crua; nu, nua.
Exceção: hindu, que é invariável.
5.2 – os adjetivos concordam em número com o substantivo que modificam, assumindo a forma singular ou plural desse substantivo: história feliz, histórias felizes; homem cortês, homens corteses; dor atroz, dores atrozes; pessoa cordial, pessoas cordiais.
quanto ao número, os adjetivos simples seguem as mesmas flexões dos substantivos. Entretanto, os adjetivos compostos modificam-se, quanto ao gênero e quanto ao número, de modo diverso dos substantivos compostos.
o adjetivo flexiona-se em número (singular/plural) para concordar com o substantivo que se refere. Exemplos: casa desarrumada – substantivo singular – adjetivo singular; olhos azuis – substantivo plural – adjetivo plural. Então, na maioria das vezes os adjetivos fazem o plural seguindo as mesmas regras do substantivo. Exemplos: carro novo - carros novos; cão feroz - cães ferozes; ternos azul - ternos azuis
quanto ao plural dos adjetivos compostos: flexionamos, em geral, apenas o último elemento do adjetivo composto. Podemos seguir os seguintes passos para formar o plural dos adjetivos compostos.
analisamos o último termo, isoladamente: se for adjetivo, vai para o plural. Se ele, sozinho, não for adjetivo, permanece no singular; o primeiro elemento permanece sempre no singular. Exemplos: lutas greco-romanas; turistas luso-brasileiros; Entidades sócio-econômicas; Olhos verde-claros.
existem algumas exceções no plural dos adjetivos compostos, como por exemplo: azul-marinho/azul celeste » permanecem sempre invariáveis; surdo-mudo » flexiona-se os dois elementos; Adjetivos que se referem a cor e o segundo elemento é um substantivo permanecem invariáveis. Vejamos alguns exemplos: crianças surdas-mudas calças azul-marinho; cortinas azul-celeste; tintas branco-gelo; camisas verde-limão.
permanecem, também, invariáveis adjetivos com a composição COR + DE + SUBSTANTIVO. Exemplo: blusa cor-de-rosa; blusas cor-de-rosa.
5.3 - Diz-se que há variação de grau nos adjetivos quando se querem comparar ou intensificar as características que eles atribuem aos substantivos. No primeiro caso, tem-se o grau comparativo. No segundo, o grau superlativo.
o grau do adjetivo demonstra a intensidade com que o adjetivo caracteriza substantivo.
há dois graus: comparativo e superlativo.
estabelece uma comparação entre dois seres de uma mesma característica que ambos possuem. Há três tipos de grau comparativo:
comparativo de superioridade: mais + adjetivo + que (do que). Exemplo: João é mais inteligente que Gabriel. Esse carro é mais caro do que rápido.
comparativo de igualdade: tão + adjetivo + quanto (como). Exemplos: A sua casa é tão luxuosa quanto a minha. O linux é tão seguro quanto o Windows.
comparativo de inferioridade: menos + adjetivo + que. Exemplo: Juliana é menos alta que Karla.
Usa-se o grau superlativo para intensificar uma característica de um ser em relação a outros seres. Subdivide-se em:
superlativo absoluto » que pode ser sintético ou analítico;
superlativo relativo » que pode ser de superioridade ou inferioridade.
superlativo absoluto: Analítico: é composto por palavras que dão idéia de intensidade + adjetivo. Exemplos: Ele é um empresário muito competente. O cão do vizinho é extremamente violento. Sintético: é composto pelo adjetivo + sufixo. Exemplos: As duplas sertanejas são riquíssimas. Ele é um fortíssimo candidato.
superlativo relativo: de superioridade: o mais + adjetivo + de. Exemplo:
Esse carro é o mais sofisticado do mercado. De inferioridade: o menos + adjetivo + de. Exemplo: Júlio é o menos interessado da classe.
Os adjetivos bom, mau, pequeno e grande possuem formas particulares para o comparativo e para o superlativo. Veja a tabela:
ADJETIVO COMPARATIVO SUPERLATIVO ABSOLUTO SINTÉTICO SUPERLATIVO RELATIVO
BOM MELHOR QUE ÓTIMO O MELHOR DE
MAU PIOR QUE PÉSSIMO O PIOR DE
GRANDE MAIOR QUE MÁXIMO O MAIOR DE
PEQUENO MENOR QUE MÍNIMO O MENOR DE
Conclui-se com a realização desta pesquisa que buscou analisar e traçar os aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos da classe gramatical adjetivos que no plano das gramáticas tradicionais é superficial e abrangente ao conceituar, formar, dar função e valor, flexão, gênero e número aos adjetivos na Língua Portuguesa. Então, percebe-se que há segundo a argumentação dos lingüistas uma necessidade de avaliação quanto às incoerências e inconsistências generalizadas das gramáticas que se utilizam de critérios semânticos mal definidos.
Referências
ABAURRE, Maria Luíza. Português: língua e literatura. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional, [s/d].
DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. Classes e categorias em português. Fortaleza: EUFC, 2000.
MAIA, João Domingues. Português Maia. São Paulo: Ática, 2001.
MAZZAROTTO, Luiz Fernando. Redação: gramática e literatura. São Paulo: DCL, 2002.
MATTOSO CAMARA, Joaquim Jr. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1975.
MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfo-sintática do português: aplicação do
estruturalismo lingüístico. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1987.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. Ao Paulo: UNESP, 2000.
PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1996.
SARMENTO, Leila Lauar. Português: leitura, produção, gramática. São Paulo:
Moderna, 2002. Volumes 1 e 2.