ABI-ACKEL, UM ESCRITOR SINGULAR

CRÍTICA LITERÁRIA

Escolhi fazer esta crítica literária, como uma homenagem ao estilo de um escritor lançado recentemente no meio literário, por isso, ainda pouco conhecido como tal, mas dono de um talento admirável. Para fazê-lo, selecionei sua primeira obra "A Saga do Exilado e a Guerra de Independência da Argélia", e sua última, "Negros, nossos avoengos ancestrais".

Conhecer Anacer Abi-Ackel e seu trabalho é um ato de encantamento. Seu olhar aguçado sobre o mundo, logo nos anuncia seu espírito, desde sempre, ávido de conhecimento, o que o levou a ser um leitor compulsivo, um estudioso dos povos e suas culturas, o que resultou num escritor que prima pelo detalhe.

Anacer é um escritor que consegue personalizar seu texto, deixa uma assinatura literária por sua singularidade. Sua visão de vida ultrapassa os limites do individualismo egoísta, o que se comprova com sua tentativa de nos mostrar que o mundo é um lugar onde pode existir uma coexistência pacífica de povos com culturas diferentes. Deixa claro, entretanto, que isto só é possível desde que seja respeitada a forma de cada um, síntese de sua cultura, e que um povo não queira dominar e submeter o outro, por quaisquer motivos que sejam.

Em “A Saga do Exilado e a Guerra de Independência da Argélia”, seu personagem Geb El Tarik personifica muitos heróis anônimos que vivem em zona de conflito armado e arriscam suas vidas pelo ideal de um mundo mais justo.

Seu trabalho exibe uma pesquisa jornalística cuidadosa. A obra deve grande parte do seu valor à carga histórica que carrega, através de relatos historiográficos precisos nela transcritos, entre os anos de 1954 e 1952, que acompanham e conduzem o desenvolvimento de seu enredo, revelando-nos valores que são importantes para o autor.

É-nos revelado um rico conjunto de percepções e conhecimentos, capazes de oferecer, até mesmo, ao leitor mais sagaz novas perspectivas, durante a emocionante história de Tarik, que, exilado do Brasil, durante a era do governo de Getúlio Vargas, foi tomado de amor pela Argélia, país que o acolheu, fato que o levou a engajar-se na luta por sua independência, contra colonização francesa.

Com as notícias que nos chegam do mundo, nada mais atual que esta história, que nos descortina uma grande verdade: aonde houver invasões, tentativas de dominação e aculturação forçadas, surgirão ‘Tariks”, nascidos, nada mais, nada menos que do espírito de resistência que nasce no ser humano ao sentir-se violentado, quando todas as demais possibilidades já se esgotaram.

Percebe-se que, nessa obra, o autor nos revela a luta armada como um ato extremo de revolta que carrega consigo doses consideráveis de violência e destruição, mas ocorre que, por vezes, é o último grito que resta a um povo subjugado em favor da liberdade e justiça – valores imprescindíveis à dignidade de cada pessoa que integra a raça humana.

Na verdade, Anacer é um pacifista. Seu trabalho exaustivo de pesquisa com a habilidade do ficcionista, resultou nesse livro onde os acontecimentos históricos são relatados, com extrema exatidão, enriquecendo o enredo que é pincelado com um romance, que, mesmo sendo fictício, tem uma verossimilância impressionante.

Agora, no seu mais recente livro escrito “Os Negros, nossos Avoengos Ancestrais”, esta característica que não é tão comum, vem, novamente, à tona, com toda a força. São crônicas de fatos reais, cuja criticidade se dá pelo detalhe pouco divulgado.

A crônica que dá título ao livro, recheia-se de descobertas científicas, cronologicamente datadas, e comenta sobre o início da humanidade e o porquê da expressão Mãe África ou, como muitos dizem, inclusive Gilberto Gil, a Mama África, que é revelada como sendo a origem da raça humana.

Vasco da Gama, Pero Vaz de Caminha, Pedro Álvares Cabral, Princesa Isabel, Getúlio Vargas são algumas das muitas personalidades destacadas na obra, que, certamente, além do prazer da leitura, será uma contribuição para a bagagem histórica do leitor, uma vez que traz detalhes peculiares, que não são, normalmente, mencionados nos livros de história.

CRUZ, Ana da. Um Escritor Singular: Anacer Abi-Ackel (Crítica Literária). Recanto das Letras, 2008. Disponível em URL: [http://www.recantodasletras.com.br/autores/anadacruz]

* Parte deste texto saiu publicada na 1ª edição do livro “A Saga do Exilado e a Guerra de Independência da Argélia”, em 2004.

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