EÇA DE QUEIRÓS E ACRÍTICA AO COMPORTAMENTO DA MULHER NA SOCIEDADE PORTUGUESA
EÇA DE QUEIRÓS E ACRÍTICA AO COMPORTAMENTO DA MULHER NA SOCIEDADE PORTUGUESA
“Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, ai entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto”. (Machado de Assis)
RESUMO: Eça de Queirós revela em suas obras uma crítica ferrenha ao tradicionalismo da sociedade burguesa e ao conservadorismo da igreja especificamente na segunda fase, composta pelos romances que formam a trilogia conhecida como Cenas da Vida Portuguesa mais o romance A Relíquia. Neles, o autor expõem as mulheres, na maioria das vezes, como adúlteras ou beatas. Esse papel desempenhado pela figura feminina procura desvelar toda a hipocrisia e moral decadente do século XIX por meio de uma análise psicológica que visa criticar para corrigir a sociedade da época
PALAVRAS-CHAVES: adúltera, beata, burguesa, lisboeta.
Eça de Queirós, o precursor do Realismo em Portugal, revelou em suas obras uma crítica mordaz ao tradicionalismo da burguesia e ao conservadorismo da igreja que impedia o desenvolvimento natural da sociedade.O romancista ao falar da classe social vigente revela a hipocrisia e a moral decadente do século XIX por meio de uma análise psicológica na qual a figura feminina sempre tinha um papel determinante em todas as suas obras.
Ao falar da sociedade burguesa o autor demonstra uma grande preocupação com a “deficiente” educação das mulheres da burguesia lisboeta, apenas preparada para o casamento rico, a ociosidade doméstica (suprida por criadas ou amas), a beatice, as fantasias sentimentais ”.
Essas preocupações do autor estão presentes principalmente nos romances da sua segunda fase que se inicia com O crime do padre Amaro, nele as figuras femininas principais a Sra. Joaneira e a filha Amélia são beatas convictas, no entanto mesmo conhecendo todos os dogmas da igreja elas infringem-nos ao manterem casos amorosos com o clero. Enquanto a Amélia mantém um romance com o pároco Amaro, a mãe vivia a muitos anos um caso amoroso com o cônego Dias: “ ...Que gente era aquela, a S. Joaneiro e a filha, que viviam assim sustentadas pela lubricidade tardia de um velho cônego? As duas mulherinhas que diabos, não eram honestas! ”.
A obra seguinte O primo Basílio, a crítica volta-se para a mulher da burguesia lisboeta. Neste romance a protagonista Luísa é apresentada como uma burguesa de Lisboa casada, sentimentalista, mal-educada e sem valores morais que se casa “no ar” com Jorge um engenheiro de minas. Essa personagem representa as mulheres burguesas da época incapazes de ações e de reflexões.Viviam ociosamente sobre o temperamento romântico, alimentado por leituras de Walter Scott e de outros livros “açucarados”, que propiciasse “devaneios” como A Dama das Camélias,de Alexandre Dumas
O romance Os Maias analisa a mulher da alta sociedade aqui representada pelas adúlteras Maria Monfort e a condessa de Gouvarinho, ambas tem uma vida fútil, regadas a festas noturnas, passeios e jogos.
Maria Monfort e uma das personagens principais, e a partir dela que transcorrerá toda a trama. E apresentada como uma moça mimada que costuma ter tudo o que deseja. Era filha única de um rico comerciante, no entanto apesar de toda a fortuna Maria não era aceita nos lugares em que as famílias lisboetas conservadoras costumavam freqüenta. Essa rejeição, por parte da burguesia portuguesa, dava-se por causa da origem da riqueza de seu pai que era proveniente do tráfico negreiro. A bela rapariga só poderia ir a tais lugares se tivesse um sobrenome de prestígio, por isso casa-se com Pedro da Maia, mas em seguida apaixona-se por um príncipe e foge abandonando o marido juntamente com um filho.
A condessa de Gouvarinho mantém um caso com Carlos Eduardo da Maia e faz de tudo para destruir seu romance com Maria Eduarda. Essa personagem apresenta características semelhantes as das outras adúlteras de Eça de Queirós, no entanto ao contrário de Luísa e Maria Morfort que morria de medo que os seus maridos, ou a sociedade descobrissem as suas traições a condessa Gouvarinho não se preocupando com os padrões impostos pela sociedade.
As beatas também são representadas nesse romance através das figuras da mulher de Afonso da Maia que segundo ele é a grande responsável pela tragédia que sucedera ao filho, pois o criara sobre uma educação precedida pela igreja.
As outras beatas são Terezinha e sua mãe esta vê pecado em tudo e até proíbe a filha ainda criança de brincar com Carlos da Maia por ele ser homem, aquela como boa católica atende a mãe, mas torna-se uma pessoa triste é frustrada.
Em toda a obra notamos uma critica a religião. Para Afonso da Maia o fanatismo religioso empobreceu seu país, levou sua esposa e filho a morte. Já Carlos Eduardo acha que ela tornou as mulheres feias por não se arrumarem para não despertarem pecados e tristes por só viverem sofrendo e se penitenciando por causa do pecado que elas vêem em tudo.
Em A Relíquia o fanatismo religioso chega ao auge com Dona Maria do Patrocínio, a Titi, uma beata que vê pecado até na natureza, achava-a obscena por ter criado dois sexos. Vivia só na companhia de duas criadas, obrigatoriamente castas como ela. As únicas figuras masculinas freqüentadoras da casa eram os padres e o tabelião Justino. Apesar de temente a Deus as ações de Tia Patrocínio deturpam-na, visto que são sempre marcadas pela fúria, falta de piedade e rancor proveniente de um ódio em relação ao pecado.
Eça de Queirós queria montar com esses romances um painel crítico da sociedade portuguesa, na qual concedera à educação e ao comportamento feminino uma grande importância. As mulheres dessa época tinham uma educação que visava apenas prepara-las para um casamento rico, e uma vida de beatice e futilidade sentimental as quais o autor apresentava em muitas de suas obras fazendo com que seus personagens irreverentes, atormentados, cheios de pesadelos pudessem nos mostrar a outra face do mundo, a que nunca vemos ou nunca queremos ver.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 25 Ed.: São Paulo: Cultrix, 1990.
MOISES, Massaud. A Literatura Portuguesa em Perspectiva. São Paulo: Atlas, 1994.
QUEIRÓS, Eça de. A Relíquia. Santiago: [s/ed.], 1997.
QUEIRÓS, Eça de, O Crime do Padre Amaro. São Paulo: Ática, 2000.
QUEIRÓS, Eça de. O Maias. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1980.
QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. Rio de Janeiro: Ediouro, [s/d].
SARAIVA, José Antônio.História da Literatura Portuguesa. 16 Ed: Porto Editora LDA, [s/d].