PAIXÂO DESENFREADA (RONALDO RHUSSO): UM OUTRO OLHAR

PAIXÃO DESENFREADA!
Ronaldo Rhusso


Olhei naqueles olhos puro mel e cri que aquele brilho era pra mim.
E o riso? Filho do sol ao meio dia! Fulgor que espantou o meu sossego.
Deu medo o pensar que sobreveio!
Tremi, mas me rendi completamente.
Compus meu melhor texto para ela.
Mas ela era loira e jogou fora.
Tentei exorcizar aquela praga, mas nada que tentei me deu vitória...

Pulei de cima de meu ego semita.
Calei a boca que me denunciava.
Sequei a lágrima que me esvaía.
Tentei ludibriar meu pensamento.

Sob aquela árvore me perdia no tempo e nem lembrava do espaço.
Surtei ao ver que ela me chamava.
Queria entrevistar-me, qual tarefa!
Pensei que morreria sem o ar que precisava.
Até que perguntou-me o que eu sentia.
Falei de uma doença massacrante.
De um caso já sem jeito e sem cura.
Doeu-me ver aquele olhar de pena.
E o beijo que roubei foi como fogo!
Ela correspondeu e foi tão lindo!
Agora eu derrapo em suas curvas.
Raboni já me disse pra frear.
Mas eu só sei pisar com o pé direito!
Se ela se atrasa eu perco a linha.
Se ela ler-me a mente perceberá com quantas cores eu decorei-lhe o belo nome.
Deixei-me dominar pela euforia e agora eu quero mais é que prolongue!
Sequei e descobri boa dieta!
Paixão desenfreada é mesmo assim. Mas venço essa e outra me domina...

LEITURA INTERPRETATIVA

CONTEÚDO SEMÂNTICO


     Este texto foi e poderia mesmo sê-lo, apresentado como prosa poética. Se considerarmos, porém, o comentário que segue, perceberemos que há ainda uma outra forma de classificá-lo:

           "Nas origens do teatro grego, o ditirambo era um canto coral de
           caráter apaixonado (alegre e sombrio), constituído de uma parte
           narrativa. à medida que o tempo ia passando, o ditirambo foi
           evoluindo para a ficção, para o drama, para a forma teatral como
           a conhecemos hoje"
         


      Um outro olhar para o texto de “Paixão Desenfreada”, possibilita notar elementos que podem permitir classificá-lo como um ditirambo. Apresentando versos de métrica semelhante, intercalados por outros de ‘métrica’ atípica, versos longos que, segundo a teoria a respeito, serviam para imitar a fala arrastada pela embriaguez do vinho, cabe atribuir ao poema essa classificação. Neste caso, os elementos apontados, reproduzem a embriaguez da paixão; a respiração que se acelera e se sustém diante da tentativa de refrear o que está desenfreado, de expressar os sentimentos e os arroubos de um apaixonado, através do recurso da poesia, uma linguagem finita, para expressar uma explosão de emoções.

      O poeta começa falando dos olhos doces e suaves, o primeiro contato, e da emoção inicial de acreditar que a luz que eles refletiam, esplendorosa, podia ser dele e para ele. Os olhos são os órgãos da visão, as janelas da alma, e a visão está essencialmente relacionada à presença da luz. Os olhos também são o que guia, o que esclarece, são indícios do caráter. São, ainda, “parte do tipo que imprime, constituída pelo relevo da letra fundido no entalhe da matriz.”.  Quando olha nos olhos daquela por quem sente “paixão desenfreada” o poeta (em relação com a escrita), encontra inspiração, quem sabe, a musa.

      Em seguida, descreve o riso, “filho do sol ao meio dia”, riso que é fruto do sol, que é solar. Fulgor também pode ser “luzeiro”, então um riso que ilumina tanto quanto o próprio sol. Esse fulgor, ao mesmo tempo causa admiração e espanto, talvez receio (o sol do meio dia queima).

      O receio é expresso claramente em relação aos pensamentos que ocorreram, inesperadamente. Apesar do tremor, o poeta confessa que se rendeu.

      Afirma, então: “Compus meu melhor texto para ela”. Note-se que compor pode ser produzir, inventar, mas também pode significar transformar em caracteres um texto destinado à impressão. O termo texto também tem o sentido da obra em sua redação original, portanto pode referir-se ao texto Bíblico, às palavras dele retiradas e usadas para sermões.“Mas ela era loira e jogou fora”, diz o poeta. Parece-me que aqui há varias camadas de ironia superpostas: a ironia usual (sobre as loiras); a ironia sobre quem ironiza as loiras (pois apesar de tudo ele sente a paixão desenfreada por uma loira), e a de que ela poderia ser morena e foi chamada de loira num sentido figurado. Por se tratar de uma frase curta, solta, semelhando um comentário de passagem, a alusão é suave e não sugere grosseria ou ofensa. O poeta diz simplesmente: -ela não entendeu de que se tratava, não deu importância (“jogou fora”). Diante disso o poeta buscou eliminar aquilo que o incomodava, a praga, a paixão desenfreada pela jovem, e dá a entender que tentou mais de uma forma de exorcismo, mas não conseguiu o que queria (livrar-se, exorcizar).

      Então, diz, deixou o orgulho de lado (“o ego semita”). O fato de mencionar semita sugere a possibilidade de que ela não o fosse... Ele diz “Calei a boca que me denunciava”. Este verso é bastante dúbio, mas um significado do vocábulo ‘boca’ permite visualizar uma possibilidade interpretativa: “boca é a chapa que fecha o cachimbo do crisol da linotipo e através de cujos furos o chumbo se projeta no molde.”. Poder-se-ia entender que há alguma relação com a impressão de um texto. Ele compôs o melhor texto, mas não o registrou, não o imprimiu (já que ela não entendeu) e assim eliminou a possibilidade de que sua fala o denunciasse, o pusesse a descoberto; não levou o projeto adiante. Estancou aquele mínimo que o denunciaria (a lágrima, a gota) e tentou enganar a fantasia, a lembrança, a esperança, a expectativa, desviar-se delas, fazer de conta que não existiam.

      Para a frase seguinte: “Sob aquela árvore me perdia no tempo e nem lembrava do espaço.”, o sentido de árvore, que mais parece adequar-se, é o da Filosofia , o da “ordenação das idéias segundo sua compreensão crescente e extensão decrescente.” O poeta está mergulhado no tempo, a ponto de perder a noção dele, não se considera passado, presente, futuro (flexão verbal) ou andamento. Por outro lado, não pensa que existe espaço. Curiosamente, o termo também pode ser associado à música e... à tipografia. Espaço é a separação entre as palavras e mesmo entre as letras de uma palavra. Nesse intervalo (espaço musical) ele ordena as idéias, lida com as palavras com a sua presença e com a sua ausência, com a comunicabilidade e com a impossibilidade de comunicar.

      Mas ela o chama para um encontro e isso faz com que ele delire (surtei) alucine que isso lhe chega como se fosse um castigo (qual tarefa) pela dificuldade a enfrentar, isto é, estar diante de sua “paixão”. Ele se sente mal, não consegue respirar direito, falta-lhe o ar: “senti que morreria sem o ar que precisava.”, também carrega o sentido de que poderia tratar-se ou do ar natural, ou da presença da amada, que ele desejava intensamente, sem a qual, tanto quanto sem o ar, não pode viver.

      Ela pergunta-lhe o que sente e ele descreve sua paixão como uma doença fatigante, algo que já tomou conta dele e não tem solução. “Doeu-me ver aquele olhar de pena.”. Há então uma aproximação pela linguagem, porque doer e ter pena têm o mesmo significado: ele tem pena de ela ter pena dele (de ele ter causado essa pena a quem ama). Ainda uma vez surge a duplicidade: pena é sofrimento ou desgosto, mas cumula o sentido de: “ser o instrumento da escrita; o trabalho de escrita; a classe dos escritores; a maneira de escrever; o autor; o escritor”. Ela (o objeto da paixão) pode representar para ele, algo mais...
Ele rouba um beijo e diz que foi como fogo. Repete-se a dupla possibilidade de significado: excitação sexual, paixão e inspiração, imaginação. Esse beijo foi correspondido e foi “tão lindo” e lindo novamente pode referir-se algo belo ou a algo agradável ao espírito, versos lindos, escrita linda.

      Voltado para o presente, o poeta conclui: “Agora eu derrapo em suas curvas.” (escorrega, perde a direção, “se desgoverna”). Quem o orienta, diz-lhe para frear (brecar, parar), mas ele afirma que só sabe pisar com o pé direito. Pisar, por oposição a frear, é acelerar e direito é aprumado, ereto, íntegro, leal, sincero. Pode-se fazer a seguinte leitura: frear seria ir contra o impulso legítimo de acelerar e “eu não sei ser desleal” (com ela, comigo) indica a fala do poeta.
“Se ela se atrasa, eu perco a linha.”. Se ela recua, ele perde o rumo, se desorienta. Ainda uma vez, uma alusão à escrita, ao traço físico, aos caracteres tipográficos. Porque o poeta diz: “se ela vier a ler a minha mente, perceberá”... (isto é, se juntar as letras para formas as palavras, para formar as frases), mas acima de tudo, se ela me observar atentamente, se ela me corresponder em sentimento e buscar entender o que sinto, perceberá “com quantas cores eu decorei-lhe o belo nome.”. Dar cores é realçar; decorar é guardar e ainda, ornar, embelezar. Extremamente lírica, a frase que fala do nome, pois tudo que importa tem um nome e o nome da amada é duplamente decorado (e ‘de cor’: de coração; é embelezado: decorado), guardado no coração, a memória de quem ama.

      E assim, dominado pela euforia, o poeta quer mesmo é amar, quer a duração desse amor. E no exercício desse amor ele até ‘seca’ ao experimentar a dieta dos amantes: alimentam-se de amor, não precisam de outros tipos de alimento. A conclusão é que paixão desenfreada (sem freios) é assim mesmo, isto é, consome. Mas se uma paixão é vencida (o mesmo para a poesia, se escrito o poema) ele tem certeza de que outra virá e fará o mesmo papel. Tanto o poeta será dominado por uma nova paixão, quanto pelo desejo de escrever novo poema.

ESTRATO FÔNICO

      O ritmo do poema é suave. Inicialmente é quase um sussurro, e a utilização das consoantes laterais, quase sem obstáculos à pronúncia, causa a impressão de que
as palavras escorrem, fluem com facilidade e calma, sugerindo um estado de contemplação. Mas, ao falar do riso, do fulgor, temos a utilização das consoantes vibrantes e durante todo o poema há a presença de uma vibração constante, reforçando a idéia da “paixão desenfreada” (vibrante). Também, a presença de muitos ditongos, em sua maioria decrescentes, remetendo para a idéia de uma cascata ( costuma-se dizer que o riso cascateia), através da repetição ‘vogal’/ ‘semi-vogal’.

      O poema se inicia com dois versos longos (os versos mais longos têm entre 19 e 23 sílabas). Podemos aproximar o esforço da leitura ao ato de se perder o fôlego, diante da visão de algo belo. Há então, uma alternância entre quatro versos curtos, um longo, quatro curtos, um longo, provocando um ritmo de leitura não estável, não uniforme, estados de contenção e explosão diante da ‘paixão’ e das sensações, que ela provoca, bem como das ações e reações de ambos.

      Segue-se uma série de versos curtos relacionados ao tema do encontro, do beijo, da interação. Nesse grupo, há um verso que não acompanha a métrica do conjunto: “De um caso já sem jeito e sem cura.”. A quebra da métrica (o pé quebrado) pode remeter aos corações partidos, desenhados à saciedade pelos adolescentes quando estão apaixonados. Um coração partido ou um verso de pé quebrado, não tem jeito, não tem cura. Então, novamente dois versos longos um curto e um longo. Nova alteração brusca do ritmo (da correspondência?). Porque, repetindo a afirmação anterior, o poeta diz: “se ela vier a ler a minha mente, perceberá”...; esse fato não aparece como algo certo. Talvez a amada não saiba o que passa pela mente do poeta.

      Mas o mais surpreendente na camada fônica do poema é a presença dominante de consoantes nasais. Juntando esse aspecto, ao dos ditongos, surge a impressão auditiva de um canto gregoriano...

O PLANO DA SINTAXE

      A maior parte dos verbos, que está no pretérito perfeito do indicativo, dá ao texto um tom próximo e natural, apropriado para o caso da utilização do discurso direto. Por ser o caso de uma narração mais longa, cabe a utilização também do imperfeito, porque a diferenciação cronológica torna-se atenuada.

             "O imperfeito serve para traduzir as impressões e tem um pé no
                 passado e outro no presente, representa um transporte ao
                 passado pela fantasia e pelo sentimento. Tanto é próprio para
                 a descrição, quanto para a narração. É uma forma de encarar o
                 passado como se fosse o presente. M. Rodrigues Lapa (1975)
                 diz: 'Se usar o imperfeito é viver no passado, por um esforço de
                 simpatia, pode substituir-se naturalmente pelo presente
                 histórico, ao qual está reservado o mesmo papel.' Está bem
                 dentro desses conceitos a utilização dos tempos verbais, na
                 narrativa que se encerra no tempo presente."


      A utilização dos diferentes tempos também está associada ao início da segunda parte da narrativa, na alteração do ritmo do poema, em que a mudança do tempo verbal aparece no verso de métrica mais longa:
“Sob aquela árvore me perdia no tempo e nem lembrava do espaço.”

      Há uma única forma verbal diferente, no futuro do pretérito (relacionado a uma condição):
“Pensei que ‘morreria’ sem o ar que precisava.”
Dessa forma, a atenção recai sobre a mais forte definição do sentimento que o texto apresenta: defrontar-se com a “paixão” é algo que tira o fôlego, deixando entrever também a possibilidade de que a amada seja tão importante quanto o próprio ar.

      Temos ainda uma frase em que aparecem três tempos verbais diferentes e a utilização do pronome enclítico, atraindo fortemente a atenção para a frase de métrica longa. Recursos estilísticos para realçar ainda mais a importância do nome que é belo, colorido, enfeitado e guardado no coração.
“Se ela ‘ler-me’ a mente ‘perceberá’ com quantas cores eu ‘decorei-lhe’ o belo nome.”

      Aproximadamente, um quinto dos vocábulos empregados são verbos; portanto estamos diante de um texto que narra a ação, em relação direta com uma paixão desenfreada, comandada pela ação, que não se pode ou não se quer frear.

PLANO DA IMAGEM

      O texto é imagético e sinestésico. Narra uma história e compõe um quadro, transmitindo principalmente sensações visuais. O texto não é muito adjetivado; as impressões vêm dos verbos, dos substantivos e de algumas metáforas como: “olhos puro mel”, “filho do sol” (olhar doce; sorriso brilhante e caloroso); “espantou meu sossego” ( assustou o sossego); “pulei de cima do meu ego” (indicação de um ego exaltado que é deixado de lado); “ludibriar meu pensamento” (aqui dando a impressão de um jogo de pega-pega); “eu derrapo em suas curvas” (figura das mais sensuais do poema, pois indica algo em que se escorrega, remete a corpos suados, molhados); “Raboni já me disse para frear” ( sugere a prática da ascese); “se ela se atrasa eu perco a linha” (dá idéia de agitação, de tumulto de descontrole).
“ se ela ler-me a mente”: um pouco diferente das outras imagens, indica a possibilidade de uma sintonia perfeita, único caso em que ela poderia saber o que passa pela mente dele. Encontra-se aí ao mesmo tempo a expressão de uma possibilidade (se a ela é possível ler-me a mente) e de um desejo (que ela tenha a capacidade de ler-me a mente).

      Entre outras opções que poderiam ser selecionadas, minha leitura do texto recai sobre a idéia de que, para o poeta, a amada e a poesia alcançam uma identidade. A amada representa a poesia; a poesia representa a amada e o ditirambo, um poema que se aproxima da fala, tanto quanto um canto gregoriano, um canto laudatório que vai ecoando (e é bastante nasalado) é a forma encontrada, utilizada, para louvar o objeto da paixão, a musa, o sagrado, a poesia. De tal forma estão esses aspectos entrelaçados no poema, que podemos deduzir que, para o poeta, uma coisa não existe sem a outra; cada um dos elementos citados só tem valor, contendo todos os outros. A vida, a arte, a religião e o amor estão indissoluvelmente ligados e cantar um de seus aspectos, exaltar sua importância, bem como o envolvimento com cada um deles é ao mesmo tempo cantar, exaltar, envolver-se com todos, portanto com o Todo.





1. PESQUISA DE VOCABULÁRIO

Desenfreada: -Desenfrear [De des+ enfrear.] V.t.d. 1. Tirar o freio, soltar. 2. Dar largas a; soltar (...)

Olho: -[Do lat. óculo.] S.m. 1.(...) É o órgão da visão.3. Fig. Atenção, cuidado, vigilância; (...) 5. Fig. Aquilo que distingue, percebe, guia, esclarece; (...) 6. Fig. Indício ou manifestação dos sentimentos ou do caráter; (...) 15. Tip. A parte do tipo que imprime, constituída pelo relevo da letra fundido no entalhe da matriz, e cujo tamanho pode variar dentro da mesma força de corpo; (...) 16. A estampagem da letra deixada na matriz pelo punção. 17. Tip. P. ext. superfície impressora de outros materiais tipográficos, como fios, clichês, etc. 18. Tip. A área fechada do e, que o distingue do c (...) 19. Tip. A parte superior do tipo que apresenta o caráter em relevo.

Mel: [do lat. melle.] S.m.1. Substância doce elaborada pelas abelhas, do suco das flores.e por elas depositada em alvéolos especiais. 2. Suco espesso e doce que se extrai de certas plantas. 3. Fig. Doçura , suavidade.

Brilho: {Dev. de brilhar.] S.m. 1. Luz viva; cintilação, resplandecência, brilhantismo.(...) 2. luz refletida de um corpo que é natural ou artificialmente brilhante. (...) 3.Viveza, claridade, limpidez (...) 4. Fig. Vivacidade, claridade, expressividade, distinção, brilhantismo (...) 5 Fig. Engenho, habilidade, talento (...) 6. Fig. Esplendor, suntuosidade, magnificência, pompa, brilhantismo (...) 7. Fig. Celebridade, glória, fama, lustre, brilhantismo. 8. Fóton. Sensação subjetiva associada à brilhância de uma superfície e que permite distinguir se esta superfície reflete luz especularmente ou a difunde.

Riso:[Do lat. risu.] S.m. 1. Ato ou efeito de rir; risada. 2. Alegria, contentamento, satisfação. 3. Coisa ridícula.

Filho: [Do lat. filiu.] S.m. (...) 2. Descendente. (...) 5. Homem em relação a Deus, ao estabelecimento em que foi educado e a quem o educou.

Fulgor:([Do lat. fulgore.] S.m. 1. Brilho, cintilação, clarão, esplendor. (...) 2. Luzeiro, clarão.

Espantou: -Espantar: [do lat. expaentare por expaventare.] V. t. d. 1.Causar espanto, susto ou medo a; 2. Afugentar, repelir, enxotar, afastar, desviar; (...) 3. Surpreender, admirar, maravilhar (...) 4. Fazer perder (o sono).

Sobreveio:[ De sobr(e)- + vir. ] V. int. 1. Vir sobre ou depois de alguma coisa; vir em seguida ou depois (...) 2. Chegar ou suceder inopinadamente.

Tremi: -Tremer [Do lat. tremere.] (...) int. 5. Experimentar tremor ou abalo; agitar-se, abalar-se, estremecer.

Rendi: -Render[ Do lat. reddere, ‘restituir’, que com infl. De prendere, ‘tomar’, passa a ‘rendere’.] (...) P. dar-se por vencido, entregar-se, submeter-se, capitular.

Compus: -Compor [Do lat. componere.] V.t.d. 1. Formar ou construir de diferentes partes ou de várias coisas. (...) 3. Produzir, inventar (escrevendo, pintando, esculpindo,
etc.) 4. dar feitio ou forma, a: afeiçoar. (...) 9. Pôr em ordem, ; arranjar, arrumar, ajeitar, endireitar.(...) Art. Graf. Transformar (um texto destinado à impressão) em caracteres tipográficos, por meios manuais, mecânicos, fotográficos ou eletrônicos.

Texto:[Do lat. textu; ‘tecido’.] S.m. 1. Conjunto de palavras, de frases escritas(...) 2. Obra escrita considerada na sua redação original e autêntica (por oposição a sumário, tradução, notas, comentários, etc.): o texto da Bíblia, o texto da lei. (...) 3. Restr. Palavras bíblicas que o orador sacro cita, fazendo-as tema de sermão.

Boca: [Do lat. bucca.] S.f. (...) 17. Tip. Chapa que fecha o cachimbo do crisol da linotipo e através de cujos furos o chumbo se projeta no molde. 18. Tip. Abertura do cilindro das prensas planocilindricas, onde se prende o revestimento e funcionam as pinças.

Sequei:- Secar [Do lat. siccare.] V.t.d.1. Tirar a umidade a; enxugar; (...) 2. Esgotar, estancar. (...) 3. Tornar murcho, emurchecer, murchecer, ressequir.

Lágrima: [Do lat. lacrima.] S. f. 1. Secreção aquosa, levemente alcalina, de glândula lacrimal, que serve para umidificar a conjuntiva.2. Pingo de qualquer líquido, gota.
Pop. Um tudo-nada, um pouquinho.

Esvaía: -Esvair [De um der. Regres. de esvaecer.] V.t.d.1. Fazer evaporar, dissipar, desvanecer.(...) 4. Desmaiar, desvanecer, esmorecer, desvair-se.

Pensamento:S.m. 1. Ato ou efeito de pensar, refletir, meditar, processo mental que se concentra nas idéias. (...)7. Fantasia, sonho, imaginação. (...) 8. Lembrança, recordação, idéia.(...) 10. Cuidado, solicitude, preocupação. (...) 11. esperança, expectativa, idéia.(...) Frase que encerra um conceito moral ou tema que dá matéria para reflexão.

Árvore:[Do lat. arbore.] S.f. 1. (...) Mec. Eixo que gira, transmitindo esforços de torção. 2. Bras. fig. Pessoa muito enfeitada que usa roupas, penteado e jóias de feitio e cores berrantes. Árvore de Porfírio. Hist. Filos. Célebre esquema ou modelo de definição por dicotomias sucessivas, que descem do gênero mais geral às espécies ínfimas,ordenando portanto, as idéias segundo sua compreensão crescente e extensão decrescente.

Perdia: -Perder V.t.d. (...) 11. causar a ruína moral de; perverter, corromper.13. Não fazer bom uso ou proveito de; desperdiçar, esperdiçar, malbaratar., perder tempo. (...) 26. Desaparecer; extraviar-se. 27. Confundir-se, desordenar-se.(...) P. 31.Absorver-se, concentrar-se, engolfar-se, mergulhar.

Tempo: [Do lat. tempus atr, da f. tempos, que foi sentida como um pl, port. de que se tiraria um singular.] S. m. (...) 8. Fís. Coordenada que, juntamente com as coordenadas espaciais, é necessária para localizar univocamente uma ocorrência física. 9. Gram. Flexão, ação verbal. (...) 11. Mús. Andamento.

Espaço: [Do lat. spatiu.] S.m. (...) 2. Lugar mais ou menos bem delimitado. (...) 3. Extensão indefinida. (...) 8. Mús. intervalo de uma linha a outra, na pauta musical.
9. Tip. Material branco empregado na separação das palavras e uma linha (sic!) ou das letras de uma palavra. 10. Tip. O claro que constitui a separação entre as palavras e, às vezes, também entre as letras de uma palavra. 11. Fig. meio, âmbito (...).

**Surtei: Não consta do Aurélio. Em geral é usado para indicar um estado de alucinação, um alheamento da realidade.

Entrevistar: V.t.d. 1. Ter entrevista com;

Entrevista: [ De entre + vista.] S.f. (...) 2. Encontro combinado.

Tarefa: [ do ar. ocidental. Taïahâ.] S.f.1. Trabalho que se deve concluir em determinado prazoe, algumas vezes, por castigo.

Morreria: -Morrer [Do lat. vulgar morrere, por mori.] V.int. (...) 10. experimentar em grau muito intenso (sentimento, sensação, desejo, etc.). 18. Padecer ou sofrer, desejando intensamente; finar-se.

Doença: [Do lat. dolentia.] S.f. 1. Falta ou perturbação da saúde; moléstia, mal, enfermidade. 2. Fig. Tarefa difícil, laboriosa. 3. Fig. Mania, vício, defeito.

Massacrante: Adj. 2 g. Bras. Que massacra, maça, apoquenta; maçante, muito chato.
(Bras. cansativa, fatigante, estafante)

Doeu-me: Doer [ Do lat. dolere.] V. int. (...) 4. Causar pena, dó, ; pesar.(...) 6. sentir remorsos, arrepender-se.

Pena: Pena¹: [do lat. penna] S.f. (...) 3. pequena lãmina de metal, terminada em ponta, que adaptada a uma caneta, serve para escrever ou desenhar.(...) 4. Fig. O instrumento da escrita. 5. Fig. Trabalho de escrita. (...) 6. Fig. A classe dos escritores. (...)7. Fig. A maneira de escrever; estilo, cálamo (...) 8. Fig. Autor, escritor.

Pena²: [Do grego poiné, pelo lat. poena.] (...) 2. Sofrimento, padecimento, aflição. (...)
4. Mágoa, desgosto, tristeza.

Beijo: [Do lat. basiu.] S. m. 1. Ato de tocar com os lábios (...) 2. Contato suave.

Roubei: [Do germ. rauben, ‘arrebatar’,‘roubar’ atr. dum lat. vulg. roubare] (...) 2. Furtar, subtrair (...). 8. Arrebatar, enlevar, extasiar; (...) 9. Assenhorear-se ou apoderar-se de; conquistar, cativar (...) 12. Tomar furtivamente (...) 13. Libertar, livrar salvar.

Fogo: [Do lat. focu] S.m. (...) 14. Fig. Ardor, fervor, paixão. (...) 16. Fig. Inspiração, imaginação, exaltação; o fogo da poesia. 17. Fig. Excitação sexual, sexualidade.

Correspondeu: [ De co¹ + responder.] V.t.i. (...) 3. Retribuir. (...) 5. Cartear-se.

Lindo: Adj. 1. Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: (...) versos lindos. (...) 5. Apurado, perfeito, primoroso, puro: Escreve um lindo português; (...).

Derrapo: [ Do fr. Déraper.] V. int. Bras. Escorregar de lado, perder a direção, desgovernar-se.

Pisar: [Do lat. pinsare ‘bater’ ‘pilar’ ‘moer’.] V. t.d. (...) 3. Esmagar com os pés, calcae, espezinhar.(...) Quebrantar (o corpo) por meio de jejuns; (...) 10. dominar física ou moralmente; vencer, abater subjugar.

Direito: [Do lat. directu.] Adj. (...) Aprumado, ereto. 7. Íntegro, probo, justo, honrado.
8. Leal, franco, sincero.

Atrasa: - Atrasa: V.t.d. 1. Pôr para trás; fazer recuar; recuar: (...) 10. Deixar de fazer alguma coisa no tempo devido: (...) 11. Fazer algo com menos presteza ou velocidade do que era de esperar.

Perco: -Perder V.t.d. (...) P. 26. Desaparecer; extraviar-se. 27. Confundir-se, desordenar-se.(...) 28. atrapalhar-se, confundir-se.(...) P. 31.Absorver-se, concentrar-se, engolfar-se, mergulhar

Linha: [do lat. línea ‘fio, corda’, ‘limite’.] S.f. (...) 10.Fig. Traço, risco, lineamento:(...)
17. (...) Série de palavras, em geral formando um sentido, e escritas numa mesma direção de um lado a outro da página.:(...) 19. Rumo, direção (...) 23. Correção de maneiras, de procedimentos (...) 24. Aprumo, gravidade, dignidade, altivez.(...) regra de conduta, norma, lei (...) 42. Tip. Série de caracteres compostos manual, mecânica ou tipograficamente, que perfaz certa medida de largura..43. Tip. Reta ideal que passa pela base das letras curtas, e a que deve obedecer o ordenamento horizontal da composição.

Cores: [Do lat. colore.] S.f. (...) 9. Fig. realce, relevo, colorido: (...)

Decorei-lhe: Decorar¹: [Da loc de cor + ar².] V.t.d. 1. aprender de cor; reter na memória.
Decorar²: [Do lat. decorare.] V.t.d. 1. Guarnecer com decoração, dispor formas e cores em; ornamentar, embelezar.

Sequei: - Secar [Do lat. siccare.] V.t.d.1. Tirar a umidade a; enxugar; (...) 2. Esgotar, estancar. (...) 3. Tornar murcho, emurchecer, murchecer, ressequir.


2. ESTRATO FÔNICO

Consoantes laterais (alveolares e palatais); líquidas.

olhei / naqueles / olhos / mel / aquele / brilho / filho / sol / fulgor / completamente / ela / ela / loira / aquela / pulei / calei / lágrima / ludibriar / aquela / lembrava / ela / qual / falei / aquele / olhar / ela / lindo / ela / linha / ela / ler-me / decorei-lhe / belo / pela / prolongue. (35)

Consoantes vibrantes (alveolares e velares).

puro / cri / brilho / era / pra / fulgor / pensar / sobreveio / tremi / rendi / melhor / era / loira / fora / exorcizar / praga / vitória / lágrima / ludibriar / árvore / perdia / lembrava / surtei / ver / queria / entrevistar / tarefa / morreria / ar / precisava / perguntou / massacrante / cura / ver / olhar / roubei / correspondeu / agora / derrapo / curvas / Raboni / pra / frear / pisar / direito / atrasa / perco / ler / perceberá / cores / decorei / dominar / euforia / agora / quero / prolongue / descobri / desenfreada / outra . (64)

Consoantes nasais
naqueles / mel / mim / meio / espantou / meu / medo / pensar / tremi / mas / me rendi / completamente / compus / meu / melhor / mas / tentei / mas / nada / tentei / me / cima / meu / semita / me / denunciava / lágrima / me / tentei / meu / pensamento / me / no / tempo / nem / lembrava / me / chamava / me / morreria / sem / perguntou / me / sentia / uma / doença / massacrante / um / sem / sem / me / pena / como / correspondeu / tão / lindo / Raboni / me / mas / com / linha / me / mente / com / quantas / nome / me / dominar / mais / prolongue / paixão / desenfreada / mesmo / assim / mas / venço / me / domina(85)


Ditongos:

Olhei / espantou / meu / deu / meu / loira / jogou / tentei / deu / qual / tentei / vitória / pulei / meu / calei / denunciava / sequei / tentei / meu / surtei / ao / perguntou / eu / falei / jeito / beijo / roubei / foi / correspondeu / foi / tão / eu / eu / sei / direito / eu / quantas / decorei / deixei / euforia / eu / mais / sequei / paixão / outra. (49)

Tritongos:

Meio / sobreveio. / doeu . (3)

Hiatos:

Dia / esvaía / ludibriar / perdia / queria / morreria / sentia / doença / frear / dieta / desenfreada. (11)

3. PLANO DA SINTAXE

Categorias Gramaticais

a)Verbos no pretérito perfeito do indicativo:

olhei / cri / espantou / sobreveio / tremi / rendi / compus / jogou / tentei / tentei / deu pulei / calei / sequei / tentei / surtei / pensei / perguntou / falei / doeu / roubei / foi /
correspondeu / foi / disse / sei / decorei / deixei / sequei / descobri . (30)

b)Verbos no pretérito imperfeito do indicativo:

era / era / denunciava / esvaía / perdia / lembrava / chamava / queria / precisava / sentia. (10)

c)Verbos no presente do indicativo:

derrapo / sei / atrasa / perco / venço. (5)

d)Verbos no futuro do pretérito do indicativo:

morreria. (1)

e)Verbos no futuro do presente do indicativo:
perceberá. (1)



4. PRINCIPAIS FIGURAS


“olhos puro mel” / “filho do sol” / “espantou o meu sossego” / “pulei de cima de meu ego” / “ludibriar meu pensamento” / “eu derrapo em suas curvas” / “(Raboni já me disse) ‘para frear’” / “(Se ela se atrasa) ‘eu perco a linha’” / “se ela ler-me a mente”.




Nilza Aparecida Hoehne Rigo
Campinas, 05 de outubro de 2008


Referências bibliográficas:

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BENOIST, Luc. Signos, Símbolos e Mitos.Trad. Anna Maria Vargas. Belo Horizonte:
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CASTAGNINO, Raúl H. Análise Literária. 2ª ed.São Paulo: Ed. Mestre Jou. 1971.

DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque. Novo Dicionário Aurélio da Língua
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LEVIN, Samuel R. Estruturas Lingüísticas em Poesia. São Paulo: Cultrix e EDUSP.
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MACAMBIRA, José Rebouças. A Estrutura Morfo-Sintática Do Português
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MENDES DE ALMEIDA, Napoleão. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 30ª ed. São Paulo: Saraiva. 1981.

ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 32ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio. 1972.

RODRIGUES LAPA, M. Estilística da Língua Portuguesa. 8ª ed. Coimbra: Coimbra Editora, Limitada. 1975.

WELLEK, René e WARREN, Austin. Teoria da Literatura. 2ª ed. Lisboa: Publicações Europa América. 1971.