A Saúde da Literatura
"A literatura é uma saúde"
(Gilles Deleuze)
Ninguém é escritor, ninguém escreve, quer dizer, não há uma língua fixada para escrever. Escrever é fluir, numa escrita possível, habitar um corpo que se revela sempre inapreensível. De dentro para fora, de fora para dentro, é mais navegar sem uma referência, uma proposta que se aproprie de um sentido in-determinado. A escrita aproxima-se da loucura, do delírio, como diz Deleuze, um escavar esses sentidos fazendo-os explodir em múltiplos significados gramaticais e sintácticos. Mas uma gramática e uma sintaxe mais próximas da pragmática de uso literário, ou seja, dar discurso ao que se sente ou ainda não se sente no universo da linguagem. A ela não escapamos. O que a literatura faz é exprimir de uma outra forma o visto, o ouvido, o experienciado. A escrita não tem nenhum interior, porque não há interior, mas uma possibilidade, uma potencialidade a partir dos múltiplos cenários que o escritor inventa. Dessa matéria-prima que é o mundo concretizado em símbolos, começa a relação dialógica que revela uma configuração instável – para o próprio que a in-substancia – um caminho proferido em frases no inacabável da vida.