Bocage: reflexão e contrariedade
Contextualizado por um importante século na literatura, o Arcadismo no século XVIII procurou revigorar e retomar características do Renascimento literário, ou seja, o equilíbrio e as formas clássicas de composição.
Um dos destaques portugueses deste período é a obra de Bocage, considerado, ao lado de Camões e Antero de Quental, um dos melhores sonetitas portugueses.
Sua obra se constitui em duas fases, sendo a primeira puramente árcade, marcada pela ambientação bucólica e pela referência à mitologia como podemos observar nestes trechos: “Que alegre campo! Que manhã tão clara!” e “Os Zéfiros brincar por entre flores?”
Embora o autor tenha escrito desta maneira, seu estilo próprio, seu gosto e instintos poéticos não condiziam com o Arcadismo propriamente dito, pois sua segunda fase se caracteriza como pré-romântica, por sua ambientação nostálgica e sentimental.
Bocage reflete metalingüísticamente a respeito de seus versos “sem arte, sem beleza, e sem brandura”, pois a não satisfação de seus desejos como poeta e levava à atmosfera um tanto romântica pelo sentimento de culpa por “paixões que me arrastava” segundo o próprio poeta e também, por arrependimento e até morte por ter vivido daquela maneira. Podemos perceber através do trecho: “Ah! Cego eu era, ah! Mísero eu sonhava”.
Isto se faz tão presente a ponto de o poeta chegar até a se anular “Já Bocage não sou...” e abrir a sua obra para que outras pessoas a interprete a dê a ela um caminho que lhe convenham “Rasga meus versos, crê na eternidade!”
Sendo assim, a natureza de sua contrariedade pode ser mais percebida em um de seus sonetos intitulado “Importuna Razão, não me persigas”. Nele Bocage atribue às palavras Razão e Marília um sentido conotativo, por as mesmas se referirem respectivamente, segundo o poeta, a ideologia padrão a ser seguida pelo Arcadismo, movimento com o qual o autor não se identificava, e à emoção, no intuito de seguí-la e consumá-la em sua totalidade.
Portanto, fica clara a evidência da majestosa obra de Bocage e também o seu aspecto contraditório, antecedendo um dos mais influentes movimentos do século XIX, ou seja, o Romantismo.