Abordagem I
                    (Texto do Professor José de Nicola)

"A língua já foi  comparada a "um dicionário, cujos exemplares, idênticos, são distribuídos entre os indivíduos" e a fala seria o uso que cada indivíduo faz da língua. 
 
Ou seja, ao realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona as palavras, para depois organizá-las, combiná-las, conforme a sua vontade.  
 
E todo esse trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não é realizado por acaso, mas está intimamente ligado à intenção do emissor.  Assim sendo, a linguagem passa a ter funções.
 
Veremos, a seguir, as seis funções básicas da linguagem.  Entretanto, como afirma o linguista Roman Jakobson, 
 
“Dificilmente lograríamos encontrar mensagens verbais que preenchessem uma única função. A diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente da função predominante".
 
Isto é, em uma mesma mensagem verbal podemos reconhecer sempre mais de uma função.  Por outro lado, em toda mensagem prevalece uma das seis funções.
 
 
a) Função referencial 
A mais comum das funções da linguagem; voltada para a informação, para o próprio contexto.  A intenção é transmitir ao receptor dados da realidade de uma forma direta e objetiva, com palavras empregadas em seu sentido denotativo.  
 
Quando isso ocorre, fica caracterizada a função referencial ou denotativa.  Referencial é relativo ao referente (no caso, à própria informação).
 
 
b) Função conativa 
   É a mensagem centrada no destinatário.  Ocorre quando a intenção do emissor é influenciar o destinatário, quando a mensagem está centrada no destinatário em forma de ordem, apelo ou súplica, temos a função apelativa ou conativa da linguagem.  
 
Os verbos no imperativo, o uso de vocativos e a segunda pessoa (tu/vós, você/vocês) são marcas gramaticais da função conativa.
 
Os anúncios publicitários e os comícios políticos às vésperas de eleição empregam uma linguagem em que predomina a função apelativa ou conativa (conativo significa "relativo ao processo da ação intencional sobre outra pessoa").
 
 
c) Função fática
É o canal aberto destinatário, prolongando uma comunicação ou então testando o canal de comunicação com frases do tipo: 
Veja bem...
Olha...
Compreende?
 
Essa preocupação com o contato caracteriza a função fática da linguagem.
Toda conversa ao telefone é pontuada por expressões do tipo: 
Está me ouvindo?
Sim... sei...
Hum... hum...
 
transformando-se em bom exemplo do emprego da função fática.  Veja mais dois exemplos: 
- Olá, tudo bem?
- Tudo bem. E você?
- Tudo bem... levando... levando...
- É... levando...
- Falou...
- É isso aí...
 
 
d) Função metalinguística
     É o diálogo entre palavras.
Neste caso, a preocupação do emissor está voltada para o próprio código utilizado, ou seja, o código é o tema da mensagem ou é utilizado para explicar o próprio código.
Ocorre, então, a função metalinguística ou metalinguagem - quando se dá uma definição ou quando se explica ou se pede explicação sobre o conteúdo da mensagem.  
 
Por extensão, fala-se em metalinguagem quando um filme tem por tema o próprio cinema, uma peça teatral tem por tema o teatro, uma poesia discorre sobre o próprio ato de escrever etc.  Ex.:
 
Pequena tragédia brasileira
A Bem-Amada queria devorar o coração do Poeta.
- Não - disse ele -, só terás um pedacinho...
Porque noventa por cento pertence aos Editores.
                                                      (Mário Quintana)
 
Esse texto é metalinguístico por duas razões: o poeta fala do próprio poeta; o poeta utiliza o canal (livro) para comentar o próprio canal (a relação econômica com os editores: o poeta recebe apenas 10% de direitos autorais sobre cada livro vendido).
 
 
e) Função emotiva
      É o texto em primeira pessoa. Quando a intenção do emissor é posicionar-se em relação ao tema que está abordando, é expressar seus sentimentos e emoções, sempre resulta um texto subjetivo, escrito em primeira pessoa. 

      Dessa forma, o texto transforma-se num espelho do ânimo, das emoções, do estado, enfim, do emissor. 
    Nesse caso, temos a função emotiva ou expressiva da linguagem.  
    A interjeição é, ao lado da primeira pessoa do singular e de alguns sinais de pontuação (reticências, ponto de exclamação), indicador seguro da função emotiva da linguagem, como no texto que segue: 
 
Preciso aprender a ser só
Ah! Se eu te pudesse fazer entender
Sem teu amor, eu não posso viver
Que sem nós dois, o que resta sou eu
Eu assim tão só
E eu preciso aprender a ser só
Poder dormir sem sentir teu calor
E ver que foi só um sonho e passou
Ah! O amor
Quando é demais, ao findar leva a paz
Me entreguei, sem pensar
Que a saudade existe e se vem
É tão triste, vê...
Meus olhos choram a falta dos teus
Esses teus olhos que foram tão meus
Por Deus entenda
Que assim eu não vivo
Eu morro pensando
No nosso amor
(Marcos Vale & Paulo Sérgio Vale)
 
    O texto, apesar de dialogar com uma segunda pessoa - tu, a pessoa amada ausente -, está todo centrado no emissor - eu. 

    Observe que é só aparente a tentativa de interferir no comportamento do outro ("Se eu te pudesse fazer entender"); na verdade, todas as falas do emissor refletem seu estado emocional, sua falta de condições para equacionar o problema da solidão:
Que sem nós dois o que resta sou eu
Eu assim tão só...
 
      A segunda estrofe sugere uma mudança de foco ao mencionar o amor (o referencial), mas essa mudança é apenas aparente; logo o emissor volta a falar das consequências sofridas por ele com o findar do amor.   
    Fica caracterizado o predomínio da função emotiva da linguagem, embora tenhamos também a função poética (a especial organização da mensagem).
 
 
f) Função poética 
     Quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, quer na sua estrutura, quer na seleção e combinação das palavras, ocorre a função poética: como afirma Roman Jakobson, a função poética "coloca em evidência o lado palpável, material dos signos".
 
      Ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, o poeta procura obter alguns elementos fundamentais da linguagem poética:
• o ritmo;
• a sonoridade;
• o belo e o inusitado das imagens.
 
      Evidentemente, num texto poético você poderá encontrar também as demais funções da linguagem.  Mas o valor da poesia reside exatamente no trabalho realizado com a própria mensagem. 
      Importante é perceber que a função poética não é exclusiva da poesia; você poderá encontrá-la em textos escritos em prosa, em anúncios publicitários e mesmo na linguagem cotidiana.  Nesses casos, ela não será a função dominante.

    Observe como nossa tendência é sempre falar"amizade luso-brasileira" e nunca "amizade brasileiro-lusa".  
      Da mesma forma, ao enunciarmos uma sequência aleatória de nomes, a tendência será pronunciar os nomes mais curtos antes dos mais longos: como nos ensina Jakobson, diremos "Joana e Margarida" e nunca "Margarida e Joana".  E qual a explicação?  Simplesmente porque "soa melhor".
 
 
                               Conclusão
  Agora que você conhece as seis funções da linguagem, vamos retomar os elementos da comunicação e seu esquema para relacioná-los a essas funções.  Citando Jakobson:
“A linguagem deve ser estudada em toda a variedade de suas funções. Para se ter uma idéia geral dessas funções, é mister uma perspectiva sumária dos fatores constitutivos.”
 
     Para ser eficaz, a mensagem requer um contexto a que se refere, apreensível pelo destinatário, e que seja verbal ou suscetível de verbalização, um código total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da mensagem); e, finalmente, um contato, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que capacite a ambos entrarem e permanecerem em comunicação. 
 
 
       Esquema:
       contexto
       mensagem
       remetente
       destinatário
       contato
       código

 
    Cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem.”
(Roman Jakobson, Linguística e comunicação)
 
 Mais adiante, ele monta um esquema correspondente às funções da linguagem:
      referencial
      poética
      emotiva           
      conativa
      fática
      metalinguística

 
    Finalmente, para obter uma visão geral e completa dos fatores fundamentais da comunicação e de suas relações com as funções da linguagem, podemos fazer uma superposição dos dois esquemas:
 
 
                  CONTEXTO
             (função referencial)
 
      CANAL DE COMUNICAÇÃO
              (função fática)
 
                  EMISSOR
             (função conativa)
 
                 RECEPTOR
             (função emotiva) 
 
                MENSAGEM
              (função poética)
 
                  CÓDIGO
        (função metalinguística)
 
   O esquema acima reúne os elementos da comunicação e as respectivas funções da linguagem.  Estas indicam o elemento da comunicação que predomina em cada mensagem."
  
     Do livro "Língua, Literatura & Redação"
                   (volume 3), de José de Nicola.


       

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                           Abordagem II
        (Autor Desconhecido - agradeço informações sobre a autoria)
                  
                         "Funções da Linguagem
       Eis as seis funções e suas peculiaridades:

1 - Referencial ou denotativa - Usada para expressar a realidade, o fato externo, a informação. Ela põe em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual mensagem se refere.  Ex.: o noticiário  do jornal, da TV.
 
 
2 - Conativa(1ou apelativa Usada para dar conselhos, avisos, ordens ou pedidos:
      Cuidado!
      É proibido fumar!
      Vem cá, menino!
      Ajude-me!
 
 
3 - Emotiva ou expressiva Serve para expressar atitudes e emoções. Reflete o estado de ânimo do emissor, seus sentimentos e emoções.
 
 
4 - Fática(2) - Esta função serve para manter o diálogo, mesmo sem transmitir mensagens precisas. Não comunica nada, mas mantém aberto o canal de comunicação entre o emissor e o receptor:
      E aí, tudo bem?
      Alô, está me ouvindo?
 
 
5 - Poética - Usamos esta linguagem para produzir efeitos artísticos. A mensagem, elaborada, trabalhada artisticamente, visa a encantar quem a ouve ou lê. Ex.: uma peça teatral, um poema...
 
 
6 - Metalinguística(3) - Utilizamos esta linguagem para explicar o significado de outra linguagem. Ela possibilita a um código se referir a ele mesmo, explicando-se.
É a palavra comentando a palavra.  Exemplos:

a) Frase é qualquer enunciado(4) linguístico com sentido completo.
(Note que, para darmos a definição de frase, empregamos uma frase. O código utilizado foi a língua portuguesa).
b) O português é uma das línguas mais difíceis do mundo.
(Para falar das dificuldades da língua, usamos o próprio idioma).
 
 
       Referências:
(1) Conativa: vem de 'conação", que quer dizer intenção ou atitude dirigida, objetivando direcionar ou disciplinar comportamentos.
A linguagem conativa, muito usada em cartazes ou comerciais publicitários, procura influenciar as pessoas, levando-as fazer ou deixar de fazer algo:
a) fazer: 'Compre hoje e pague a primeira prestação só daqui a três meses!'
'Doe sangue. Seja bom. Salve vidas.'
b) não fazer: 'Não suje a cidade. Embale seu lixo.'
'Não anule o seu voto. Ele pode mudar o Brasil!'
 
(2) A palavra 'fática' deriva do verbo latino fari, que quer dizer 'falar'.
 
(3) Palavra que exprime 'além da linguagem'.
 
(4) Enunciado significa expressão,  declaração, exposição."


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                          Abordagem III

            (Texto da Internet - agradeço informações sobre a autoria)

"Todo emissor, nmomento em que realiza um ato de fala, consciente ou inconscientemente, atribui maior importância a um dos seis elementos da comunicação.
Com base nessa preferência, distinguem-se seis funções da linguagem:
a) Função Emotiva, Expressiva ou de Exteriorização Psíquica:
O emissor atribui maior valor a si mesmo, através do uso predominante de:
• primeira pessoa verbal:
Quando estive em sua casa, convivi com sua ausência.
Nunca pensamos em tudo.
 
• exclamações:
Que maravilha!
 
• interjeições:
Ai! esqueci tudo em casa.
 
 

b) Função Conativa ou Apelativa
Demonstra a preocupação do emissor com o receptor, o que se manifesta no predomínio de:
• Receptor em função de sujeito:
Vossa Senhoria não me deferiu o pedido.
Toda dia, você me repete a mesma ladainha.
Esqueceste o favor que te pedi?
 
• Vocativos:
Por favor, Mariana, não me desaponte.
Obrigada, Maria.
 
• Imperativos:
Se quiseres ser aprovado, estuda.
Pare, olhe e siga.
 
A linguagem da propaganda é fundamentalmente conativa.
 
 

c) Função Referencial, Informativa ou Cognitiva
Sobressai a importância que o emissor dedica ao Referente e se manifesta no uso predominante de sujeitos de terceira pessoa:
Tatiana não desapontou a mim, nem a você.
Sua Excelência, o Senhor Presidente, telefonou para você e para mim.
 
A função referencial predomina na exposição científica, nos livros didáticos, na linguagem jornalística e em outros.
 
 

d) Função Fática
Há momentos na comunicação, em que o emissor demonstra querer chamar a atenção do receptor, desligá-la, ou mesmo testá-la. Predomina a preocupação do emissor com o canal, com a atenção.
• Testando o canal:
Alô, alô, você está me ouvindo?
 
• Procurando colocar o canal em funcionamento:
Ei!  Você aí.  Psiu.
 
• Tentando desviar o canal:
Lúcio: - Rita, você se casaria comigo?
Rita: - Estou precisando dormir...
 
Inúmeras fórmulas de cumprimento, com o tempo, foram perdendo sua comunicabilidade e tiveram seus significados esvaziados, tornando-se apenas fáticas.
Quando se diz "Bom dia", ninguém está mais pensando em desejar um dia agradável a seu receptor.
É comum dois conhecidos encontrarem-se, trocarem saudações:

- Como vai?
- Bem obrigado. E você?
- Tudo bem...
e despedirem-se sem mesmo perceberem o que falaram.
Também representam a função fática as expressões estereotipadas como "né", "viu?", "entende"? e outras semelhantes.
Logo, conclui-se que o referente da função fática é a própria comunicação.

 
 

e) Função Metalinguística
Tem maior importância a atenção que o emissor dirige ao código ou língua. É a linguagem voltada sobre si mesma, é a mensagem que tem como referente a própria linguagem.
• O emissor pode indagar a respeito do código:
"O que significa estultícia?"
 
• O emissor pode afirmar a respeito do código:
"Estultícia significa tolice, imbecilidade..."
 
Todo processo de aprendizagem de uma língua está baseado na função metalinguística, como também são metalinguagem as definições de um dicionário, os conceitos de uma gramática, uma crítica literária, uma análise de texto e outros.
 
 

f) Função Poética ou Estética
A atenção do emissor está fixada, fundamentalmente, na busca de melhor elaboração da mensagem. Escrever uma frase e riscá-la para substituir por outra de mesmo sentido só porque é mais eufônica, caracteriza justamente a procura do poético linguístico. Quando os pais estão discutindo se darão à filha o nome de Maria Ana ou Ana Maria, estão exatamente buscando o estético, o mais sonoro, o de melhor ritmo, e essa preocupação é poética."

                                     Fim

Diversos Autores
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 20/06/2008
Reeditado em 18/07/2013
Código do texto: T1043982
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