PALESTRA SOBRE TROVAS

A Trova na Academia

Maria Nascimento Santos Carvalho

Autoridades presentes,

minhas senhoras, senhores,

renomados Presidentes,

meus bons irmãos – Trovadores.

A Academia da Trova

que nos acolhe tão bem

a cada dia comprova

o valor que a Trova tem...

Permitam-me apresentar

A Trova na Academia

que, agora vai ocupar

um pouquinho do seu dia.

A palestra que apresento,

humilde e quase sem brilho,

nesta Academia ostento

feito a mãe que ostenta um filho.

Abrindo o meu sentimento

eu confesso, agradecida,

que este momento é um momento

de vitória em minha vida.

Permitam-me lhes dizer

com infinita humildade

que nem sei como conter

meu grau de felicidade...

E em meio a tanta afeição

a minha emoção é tanta

que as frases de gratidão

morrem presas na garganta.

Meus amigos :

Gostaríamos, neste momento, de poder dizer Trovas de todos os nossos irmãos de sonhos, mas são tantos e tão queridos que passaríamos horas e horas fazendo desfilarem seus versos, razão porque, pedimos desculpas àqueles que, por limite de tempo, não estão incluídos em nosso modesto trabalho, o que muito nos entristece.

Como estamos na Academia Brasileira da Trova, procuramos focalizar o tema TROVA e deixar alguns esclarecimentos sobre ela : gênero, forma, metrificação, ritmo etc.

Para ilustrar o nosso trabalho, registramos a opinião abalizada do grande escritor JORGE AMADO a respeito da Trova.

“ Não pode haver criação popular que fale mais diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela, que o povo toma contacto com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador são imortais”.

Jorge Amado (Revista Coquetel = Bronze)

A TROVA

Na antiguidade, Trova era considerada uma canção, uma quadra popular que tinha origem nas composições dos Trovadores medievais.

Na poesia trovadoresca, ou provençal que começou a partir do século XIII, a Trova podia ser :

Uma “ Cantiga de Amigo “, quando a mulher contava ao amado suas mágoas de amor. (Eram de fundo folclórico e as mais antigas e mais belas).

“ Cantiga de Amor “, quando o namorado se dirigia à amada e “Cantiga de escárnio“, com poesia satírica e picante.

As Trovas eram cantadas pelos Trovadores, geralmente nobres empobrecidos que as compunham e pelos jograis, homens do povo que se limitavam a interpretar as canções dos Trovadores.

A partir do século XVII, essas composições passaram a se chamar de Trova e foram reunidas em três cancioneiros : Cancioneiro da ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca de Lisboa. (Universo, vol. X, pág. 5000).

Atualmente, de acordo com a definição de LUIZ OTÁVIO, o Príncipe da Trova Brasileira,

TROVA é uma composição poética contendo quatro versos setissílabos, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto, com sentido completo, como :

Ó linda Trova perfeita

que nos dá tanto prazer !

Tão fácil – depois de feita.

- Tão difícil de fazer ...

Adelmar Tavares - Rei da Trova Brasileira

As Trovas podem ser , líricas, filosóficas, lírico filosófica ao mesmo tempo, humorísticas , brejeiras, as de humor leve, cívicas, religiosas etc.

Até há mais de meio século passado, as Trovas, na maioria, eram compostas com rimas simples, ; rimando apenas o segundo verso com o quarto, o que até o presente, ainda é utilizado por um número muito reduzido de autores, não valendo esta prática para os Concursos de Trovas e Jogos Florais.

É de José Alberto da Costa, de Maceió - AL, a Trova de rima simples que diz :

Tentei fazer uma trova

e vi que não é moleza.

Se dizer tanto em tão pouco

com graça e muita beleza.

Muitas composições musicais foram feitas com versos de sete sílabas, entre elas, as mais costumeiras são as cantigas de roda e as cantigas de ninar, geralmente com rimas simples, que até hoje são exaustivamente cantadas, como :

O cravo e a rosa

O cravo brigou com a rosa

debaixo de uma sacada ...

O cravo saiu ferido

a rosa, despetalada.

O cravo ficou doente

a rosa foi visitar...

O cravo teve um desmaio

a rosa pôs-se a chorar...

O cravo tem vinte anos,

a rosa tem vinte e um ...

A diferença que existe

é que a rosa tem mais um !

Quanto às Trovas perfeitas, aquelas que rimam o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto e com rimas consideradas rimas ricas, temos :

De Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira :

Trovador, grande que seja,

tem esta mágoa a esconder :

a trova que mais deseja

jamais consegue escrever ...

Sérgio Bernardo , de Nova Friburgo - RJ

Sem a trova, que o completa,

como aos sonhos dar vazão

o coração do poeta,

num mundo sem coração?!

Edmar Japiassú maia – Rio de Janeiro - RJ

Quatro folhas: sortilégios...

Quatro versos: quadras novas ...

E ao poeta os privilégios

de cantar trevos e trovas!

Elisa Flores - Rio de Janeiro - RJ

Dos fios de luz dispersos

sob a prata do luar,

escrevo em trova meus versos

e os deponho aos pés do altar.

Antônio Siécola Moreira - Santa Rita do Sapucaí - MG

A Trova, que eu idolatro,

pois me encanta e me extasia,

é um "retrato três por quatro"

que tiramos da Poesia.

Em A Banda, de Chico Buarque de Holanda, com exceção da primeira estrofe, todas as demais podem ser consideradas como Trovas simples, também, por serem compostas com rimas simples, rimando apenas a o segundo com o quarto versos : Ouçamos na voz do excelente cantor Antônio Moreira.

A BANDA

Estava à toa na vida,

o meu amor me chamou

pra ver a banda passar

cantando coisas de amor.

A minha gente sofrida

despediu-se da dor

pra ver a banda passar

cantando coisas de amor.

Mas para meu desencanto

o que era doce acabou,

tudo tomou seu lugar

depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto,

em cada canto uma dor

depois da banda passar

cantando coisas de amor.

Estão aqui presentes Trovas de excelentes Trovadores paulistas que nos brindaram com suas composições, tais como :

José Valdez de Castro Moura - Pindamonhangaba – SP

Bendigo a Trova que aflora

na minh' alma ! Que alegria !

E, sinto luzes da aurora,

no final de cada dia !

Marina Bruna – São Paulo - SP

A Trova, que lembra a rosa

no emblema dos trovadores,

é tão pura e majestosa

quanto a rainha das flores.

Pedro Ornellas - São Paulo - SP

De incompetência dão provas

os meus rabiscos bisonhos;

sobra sonho em minhas trovas,

falta a trova dos meus sonhos!

Domitilla Borges Beltrame – São Paulo - SP

A Trova, bem trabalhada

e que é feita com ternura,

é como jóia engastada

em nossa literatura !

Selma Patti Spinelli - São Paulo - SP

Recolhe o som do infinito

e a luz que a manhã renova,

prende num verso bonito,

e num milagre: eis a Trova!

Como dissemos, há muitas cantigas de roda feitas em forma de Trovas. Ora com rimas simples, ora com rimas duplas, ou perfeitas, mas todas lindas, como “ Terezinha de Jesus “, que, apesar de conter verso de pé-quebrado, como: “acudiram três cavalheiros” é tão apreciada pela garotada quanto por todos nós.

Teresinha de Jesus

Teresinha de Jesus

numa queda foi ao chão

acudiram três cavalheiros

todos três chapéu na mão.

O primeiro foi seu pai

o segundo, seu irmão,

o terceiro foi aquele

que à Teresa deu a mão.

Da laranja quero um gomo,

do limão quero um pedaço,

da menina mais bonita

quero um beijo e um abraço.

Alguns Trovadores preferem utilizar o tema nas rimas, o que, muitas vezes, dificulta muito mais a feitura da Trova, quando há poucas rimas, como sejam : Palavra, mãe, tempo, quarto etc.

Vejamos Trovas com rimas na temática: Trova :

Josafá da Silva Sobreira - Rio de Janeiro - RJ

Quem dera que minha Trova

fosse um hino de louvor

que um anjo ao meu lado aprova

e leva aos pés do Senhor !

Gislaine Canales – Porto Alegre - RS

A minha vida é uma trova,

trova de ilusão perdida,

pois a vida é grande prova,

que prova a trova da vida!

Kleber Leite - Itaocara - RJ

"Verdade!.. não faço trova...

Sou um mero Beija-flor...

Levando ao mundo, o que prova

ser ela o meu grande Amor..."

Jane Azevedo – Mauá - RJ

Quanto mais eu faço trova

mais trovas quero fazer,

parece até uma prova

de amor ... com muito prazer.

Prof. Garcia - Caicó - RN

No amor tudo se renova,

não seja escravo da dor;

faça do ódio uma trova,

do tédio um verso de amor!

Outra composição que muito nos encanta, que também é feita em forma de Trova é “Samba lelê”, mas além de se apresentar com rima simples, em seu primeiro e segundo versos encontramos a palavra TÁ, em vez de ESTÁ, e a junção de “ com a “, com a contagem de uma sílaba apenas, o que só é permitido através de “licença poética “.

Isto tornaria impossível uma classificação num Concurso de Trovas, no gênero lírico - filosófico, por entender a maioria dos julgadores que há uma imperfeição inaceitável (tá), em dois versos e uma apenas protegida por licença poética, (com a) o que caracteriza total falta de recurso para a composição perfeita da Trova.

Deliciemo-nos com um trecho de Samba lelê na expressiva voz de Antônio Moreira.

Samba lelê

Samba lelê tá doente,

tá com a cabeça quebrada ...

Samba lelê, precisava

de uma gostosa palmada. (bis)

O Rio Grande do Sul também está presente em nosso modesto trabalho, representado por Trovadores de excepcional qualidade, como :

Mílton de Souza - Porto Alegre - RS

A quadra metrificada

chama-se "trova", hoje em dia.

E a trova é a raiz quadrada

da mais perfeita poesia...

Clênio Borges - Porto Alegre - RS

Nesta trova vou contar

o que um adeus faz sentir:

quem parte, almeja ficar,

e quem fica, quer partir.

Enriquecendo esta modesta palestra, também selecionamos Trovadores de vários outros estados, com Trovas de inspirações privilegiadas, tais como :

Antônio Augusto de Assis – Maringá - PR

Na tribo dos trovadores,

entre irmãos te sentirás.

Quanto mais fraterno fores,

melhor trovador serás!

Thereza Costa Val – Belo Horizonte - MG

Na trova, que é seu veleiro,

singrando temas diversos,

trovador é marinheiro

que navega em quatro versos.

Sarah Rodrigues / Salinópolis - PA

"Na paisagem desse sonho,

no contraste de um amor,

essas trovas que eu componho

sempre afogam minha dor."

ROBERTO RESENDE VILELA - Pouso Alegre - MG

Pelas veredas singelas

da Trova e da Poesia,

se difundem as mais belas

lições de Filosofia.

No Rio de Janeiro, estamos premiados com Trovas de renomados Trovadores, o que muito nos honra e nos envaidece:

Almerinda Liporage – Rio de Janeiro - RJ

Se uma Trova me entristece,

fazê-la, sei que não devo ...

Tristeza ninguém merece

e, por isso, eu não a escrevo...

Benedita Azevedo - Mauá - RJ

Fazer trova com carinho

faz bem ao nosso viver.

Fazer da trova um bom vinho,

é só questão de querer...

Maria Madalena Ferreira - Magé - RJ

Meu dia nasce risonho;

minha emoção se renova

sempre que acordo de um sonho

e trago pronta, uma Trova...

Renato Alves – Rio de Janeiro - RJ

A trova é pequena flor

que brota do sentimento...

Com redondilhas e amor

traz à vida um grande alento!

Agora, amigos, dadas algumas informações sobre a Trova, que esperamos tenham sido proveitosas, apresentamos, a Trova de autoria do saudoso irmão – Trovador, José Maria Machado de Araújo, que representa o desejo de todos nós, que diz :

“Trovadores, meus irmãos,

vamos viver que mãos dadas,

que onde há correntes de mãos,

não há mãos acorrentadas !

José Maria Machado de Araújo

Convidamos, agora, o “cantor – poeta” Antônio Moreira, para, homenageando à Academia Brasileira da Trova, seus associados e todos os Trovadores presentes, interpretar a mais bela canção já composta em homenagem aos Trovadores :

O Trovador

Jair Amorim e Evaldo Gouveia

Sonhei que eu era um dia um trovador

dos velhos tempos que não voltam mais

cantava assim a toda hora

as mais lindas modinhas

do meu Rio de outrora

Sinhá Mocinha de olhar fugaz

se encantava com meus versos de rapaz.

Qual seresteiro ou menestrel do amor

a suspirar sob os balcões em flo

na noite antiga do meu Rio

pelas ruas do Rio

eu passava a cantar

novas trovas em provas de amor ao luar

e via então com um lampião de gás

na janela a flor mais bela em tristes ais!!!

Como uma homenagem ao grande responsável pelo imenso movimento trovadoresco existente até os nossos dias, Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira, registramos uma Trova de sua autoria, que todos nós os Trovadores aplaudimos e comungamos do seu louvável pensamento.

A Trova tomou-me inteiro

tão amada e repetida,

agora traça o roteiro

das horas da minha vida.

E, finalmente, agradecendo em meu nome e da União Brasileira de Trovadores, Seção Rio de Janeiro, à Trovadora Alba Helena Correia, membro da Diretoria da Academia Brasileira da Trova e demais associados pela oportunidade que nos foi concedida, acrescentamos :

Estou realmente encantada

por tudo que me fizeram

e levo na alma guardada

toda a atenção que me deram ...

Findando esta cerimônia

que me deixou encantada,

eu quero ter muita insônia,

para sonhar acordada.

Este conclave comprova

no calor humano infindo

que o mundo de quem faz Trova

é um mundo muito mais lindo ...

Pelo meu dom milagroso

agradeço enternecida

por Deus ser tão generoso

pondo a Trova em minha vida...

E entre amantes da Poesia

me felicito porque

trouxe para a Academia

lições de amor da UBT.

Maria Nascimento Santos Carvalho

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 23/05/2008
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