O Crepúsculo da Beleza – Olavo Bilac

INTRODUÇÃO

A seguir, será feita uma análise de um soneto de Olavo Bilac, chamado “O Crepúsculo da Beleza”. Para que fique mais esquematizada, a mesma será dividida em duas partes, sendo que a primeira utilizar-se-á de critérios aspectos formais mais focados na estruturação do poema, tais como: metrificação/escansão; pés poéticos (os quais são bastante abordados, inclusive, na obra de Glauco Mattoso); esquemas de rimas. Em seguida, na segunda parte, desenvolver-se-á a crítica interpretativa desta obra, separando-a em estrofes, descrevendo as imagens contidas na poesia como também explicando as figuras de linguagem no poema.

O Crepúsculo da Beleza – Olavo Bilac

Vê-se no espelho; e vê, pela janela,

A dolorosa angústia vespertina:

Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina

Outra tarde mais triste, dentro dela;

Outra queda mais funda lhe revela

O aço feroz, e o horror de outra ruína:

Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina,

Mais do que a vida, o orgulho de ser bela!

Fios de prata… Rugas… O desgosto

Enche-a de sombras, como a sufocá-la

Numa noite que aí vem… E no seu rosto

Uma lágrima trêmula resvala,

Trêmula, a cintilar, – como, ao sol-posto,

Uma primeira estrela em céu de opala…

(Olavo Bilac)

PRIMEIRA PARTE

Agora, dando-se início à primeira parte, este é o poema sendo analisando através do esquema dos pés poéticos e das sílabas poéticas e dos esquemas de rima, isto é, dos “critérios aspectos formais mais focados na estruturação do poema”.

O Crepúsculo da Beleza

Estrofe analisada com esquema dos pés poéticos

Vê – se – no + es – pe | lho; + e – vê |, pe – la – ja – ne – la, / decassílabo heróico

A – do – lo – ro | sa + an-gús | tia – ves – per – ti – na: / decassílabo heróico

Pá – li – do, – mor | re + o – sol… | Mas, – ai! | ter – mi – na / decassílabo andrógino

Ou – tra – tar | de – mais – tris | te, – den – tro – de – la; / decassílabo heróico

Estrofe analisada com esquema de rimas

Outra queda mais funda lhe revela / (A)

O aço feroz, e o horror de outra ruína: / (B)

Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina, / (B)

Mais do que a vida, o orgulho de ser bela! (A)

Estrofe analisando os decassílabos

Fios de prata… Rugas… O desgosto / decassílabo heróico

Enche-a de sombras, como a sufocá-la / decassílabo heróico

Numa noite que aí vem… E no seu rosto / decassílabo heróico

Estrofe analisando os decassílabos e com esquema de rimas

Uma lágrima trêmula resvala, / decassílabo heróico (D)

Trêmula, a cintilar, – como, ao sol-posto, / decassílabo heróico (C)

Uma primeira estrela em céu de opala… / decassílabo heróico (D)

SEGUNDA PARTE

Agora, dando-se início à segunda parte, será feita “a crítica interpretativa desta obra”. Este poema trata de um assunto comum no universo feminino que é a vaidade, entretanto trata-o juntamente com a velhice, a qual é um agravante, visto que a mesma rouba da mulher a beleza e, por conseguinte, a vaidade: a vaidade por ser bela – e jovem em outrora.

Analisando o poema, vê-se que nos dois primeiros versos da primeira estrofe o poeta faz um paralelo entre o ato de a mulher olhar-se no espelho e o ato de a mesma a olhar o entardecer pela janela; e nos dois últimos versos da mesma estrofe, o evento do pôr do sol traz não apenas o fim de mais uma tarde de um dia, como também o fim no âmbito psicológico e emocional na mulher, lembrando-a de que dia a dia, aos poucos, a velhice aproxima-se mais dela enquanto, a beleza afasta-se, dissipando-se juntamente com a vaidade e a vida.

Na segunda estrofe, tem-se a idéia de queda e decadência referente aos efeitos da efemeridade vespertina que revelam à mulher que quão efêmera quanto a tarde é a beleza e a idade da juventude as quais vão-se com a vaidade e com o orgulho de ser bela.

Na terceira estrofe, há metáforas que remetem aos sinais da velhice: “Fios de prata”; “O desgosto enche-a de sombras, como a sufocá-la / Numa noite que aí vem”. Explicando-as: a primeira, refere-se aos cabelos brancos; a segunda, mais complexa, refere-se, provavelmente, à cor sóbria ao redor dos olhos e às feições do semblante marcadas já pelos sinais do tempo, fazendo ainda menção à noite, relacionando-a indiretamente à velhice – então, pressupõe-se neste poeta que o período vespertino do dia seja indiretamente relacionado à beleza. Outrossim, há ainda dois pequenos detalhes sutis os quais merecem atenção: o primeiro deles é termo “rugas” o qual, mesmo em seu significado conotativo, complementa o que já foi explicado nas metáforas; o segundo, é este trecho no final da estrofe “E no seu rosto”, pois o poeta se utiliza de uma técnica chamada encadeamento (enjambement) que completará o sentido, o enunciado e o ritmo daquele trecho no verso seguinte, que está, especificamente, na próxima – última – estrofe.

Enfim, finalmente, na última estrofe, termina-se o soneto com a “chave de ouro” – faz-se usualmente isso no parnasianismo devido ao perfeccionismo que essa escola literária exigiu (então, evidentemente, vale lembrar também que Olavo Bilac fora um poeta parnasiano). Analisando este trecho: “Uma lágrima trêmula resvala, / Trêmula, a cintilar, (...)”. Pode-se apreciar a linguagem rebuscada nos versos com a presença de palavras, como “resvala” e “cintilar” e “trêmula” as quais proporcionam um toque sofisticado no texto; além disso, neste trecho é possível perceber a clara imagem da lágrima que escorre no rosto da mulher, designando bela, porém tristemente, a tristeza, o desgosto, o descontentamento e a decadência das lágrimas salgadas que provém do sentimento amargo que essa mulher sente. Paralelamente à imagem o poeta faz uma figura de comparação nestes últimos versos do soneto: “– como, ao sol-posto, / Uma primeira estrela em céu de opala…”. Isto é, na figura de linguagem, as lágrimas cadentes são como o pôr-do-sol e há outra coisa interessante a ser ressaltada é que não existe literalmente o “pôr-do-sol” ou “sol-posto”, porque isso é apenas uma percepção de quem vê o sol na terra, já que quem puder vê-lo no espaço verá que o mesmo permanece estático no céu – “céu” que, afinal, é tanto uma questão de percepção quanto o “pôr-do-sol/sol-posto” – e como o sol é uma estrela – aliás, de quinta grandeza –, por isso que o poeta metaforiza as lágrimas como “uma primeira estrela em céu de opala”, observando também que o termo “opala” é um termo muito culto como pede este poema.

CONCLUSÃO

Terminada a análise, é o momento de lembrar de que há alguns aspectos que precisam ser ressaltados. Nesta análise, foi escolhido um soneto – que é um poema fixo com versos de sílabas e pés poéticos regulares bem como esquemas de rimas pré-definidos – o qual foi na primeira parte da análise todo dividido conforme a numeração das sílabas poéticas (decassílabas, neste caso, por tratar-se de um soneto) e com ênfase nas sílabas tônicas como também na classificação das rimas, entretanto esses critérios não necessariamente podem ser usados somente em poemas fixos, como o soneto, a oitava, a elegia etc., isto é, essas regras podem ser usadas em poemas não fixos, podendo estes ser com métricas como os das antigas escolas literárias, ou ainda mesmo serem compostos de versos sem métrica – ou seja, de versos com sílabas poéticas irregulares, ou ainda, simplesmente, de versos livres – que foram usados largamente a partir do modernismo, pode-se ir ainda mais além analisando letras de música (que, aliás, não deixam de ser um poema).

Entretanto, apesar das diversas possibilidades, essa regra não é obrigatória, obtendo um caráter eventual como o de quaisquer regras, visto que o crítico pode valer-se de uma seleção customizada das mesmas conforme supra as necessidades de extrair os aspectos específicos da obra em questão os quais serão abordados e desenvolvidos na construção da crítica. Por exemplo, neste mesmo soneto que foi analisado, poder-se-ia ter sido usado também como parâmetro o fato de este poema ter sido escrito na época do parnasianismo e ter sido abordado juntamente a outros parâmetros no texto crítico.

Poeta Lendário
Enviado por Poeta Lendário em 04/04/2008
Reeditado em 11/12/2024
Código do texto: T931497
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